sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Cancelamento precipitado do Dakar
dá vitória ao terrorismo

No dia em que o Lisboa Dakar se preparava para iniciar a 30º edição, o responsável pela empresa organizadora do evento anuncia o seu cancelamento.
Uma eventual ameaça de atentado terrorista contra a caravana do Rally Dakar, na passagem pela Mauritânia, foi a razão apresentada pela organização para justificar o seu cancelamento.
A anulação de etapas da prova tornou-se uma constante. Em anos anteriores, foram várias as edições em que tal atitude se tomou, mas nunca se optou pelo cancelamento total da prova. Não terá sido esta uma decisão precipitada?
Conhecida há alguns dias, ou até meses, a situação que se vivia na Mauritânia, a organização teve tempo para mudar o percurso do Dakar ou pensar num plano B, possível de ser utilizado. Em último caso, estando a insegurança presente na passagem pela Mauritânia, a prova poderia ter terminado o seu percurso em Marrocos. De qualquer forma, a Mauritânia tinha também reunido duas centenas de militares para garantirem a segurança da prova e dos seus participantes na passagem por essa região.
Os prejuízos do cancelamento são incontáveis e impossíveis de reembolsar. Há pilotos que pouparam o ano inteiro para realizarem um sonho. Desde câmaras, a empresas patrocinadoras e até ao turismo em Portugal são vários os prejudicados pelo cancelamento.
E a opinião dos pilotos não conta? São eles as figuras principais do Dakar, deviam ter uma palavra a dar.
Esta atitude levou à vitória do terrorismo. Estão assim a dar espaço para que o terrorismo interfira ainda mais na vida e nas actividades que as comunidades desenvolvem.
Em 2009 supõe-se a continuidade do Rally Dakar, mas se uma nova ameaça de atentado surgir, por este andar, não voltaremos a ver mais nenhuma edição do maior rally do mundo. A organização deu vitória ao terrorismo e pode ter tornado o Dakar dependente desta ameaça.

Sara Pereira
3º Comunicação Social

Mal tratados!

Pronto! Acabou mais um tabu na política portuguesa. O Governo decidiu: o Tratado da União Europeia, vai ser ratificado no Parlamento e não em referendo.
O primeiro-ministro, José Sócrates, invocou um “princípio de solidariedade” para com os seus parceiros do Velho Continente. O chefe do Executivo, pressionado, alinhou no receio dos restantes líderes europeus, que tremem com a possibilidade do Tratado assinado em Lisboa levar o mesmo destino do defunto Tratado Constitucional.
O referendo seria um risco, que Sócrates não quis correr. Os portugueses poderiam ser tentados a avaliar a actuação do seu Governo e não o Tratado, que poucos sabem o que é, a que se destina, para que serve.
Convenhamos que Sócrates até tem a seu favor a pouca participação nas consultas populares anteriores, sobre outras matérias, e é, igualmente, conhecida a pouca apetência nacional pelas questões europeias.
Todavia, a opção governamental está longe de ser aceitável.
O Partido Socialista estava “amarrado” à promessa eleitoral de ratificar por referendo o tratado europeu. (Dizer, sr. primeiro-ministro, que o compromisso respeitava ao “Tratado Constitucional” e este é de “Lisboa” é tentar iludir uma realidade que se sabe quase igual. É tapar o Sol com a peneira. Fica-lhe mal!). Rasgou-a!
Com esta decisão, o país perdeu uma excelente oportunidade de discutir o projecto europeu. Os portugueses nunca disseram de sua justiça o que pensam sobre algo que acabou por mudar as suas vidas. Era a hora.
Era a altura de explicar as vantagens de “estar” na Europa. A união monetária, o euro, que tanta carteira vazia tem deixado. Os milhões que chegam todos os dias para investimentos e que poucos vêem. Era uma excelente oportunidade para debater e “convencer” das vantagens de tudo isto. Mas não. Prevaleceu a solidariedade inter-pares, em detrimento da “autonomia” nacional, do esclarecimento.
No dia do referendo, os portugueses não trocariam, por certo, uma tarde num qualquer centro comercial, por uma ida às urnas, contudo, a campanha eleitoral ajudaria à “integração”. Os políticos, do bloco central – é bom dizê-lo-, acham que é melhor assim. Quando mais ignorantes, menos interesse em perguntar sobre matérias para as quais, porventura, não há resposta. Esta, por exemplo: Até onde a União Europeia nos vai levar? Se é que nos vai levar algures…

Luís Melo
3º Comunicação Social

Economia mundial à beira da ruptura

Novo ano, novo aumento do preço dos combustíveis. O povo reclama e a comunicação social aproveita para explorar o acontecimento pela sua relevância, pelo impacto que tem na vida das pessoas. Regateamos, apontamos culpados e nem sempre nos apercebemos que este aumento esconde um problema mais grave: a escassez do petróleo, o bem essencial sobre o qual assenta a economia mundial.
Vive-se na ilusão de que este é um bem infinito, quando afinal é um recurso à beira do colapso. As reservas da Sibéria Ocidental vêem o seu fim para breve e os campos de petróleo do Mar do Norte e do Texas estão esgotados; os do Canadá, Rússia e Noruega encontram-se em declínio. Até a reserva da Arábia Saudita está prestes a atingir o pico de produção, o que significa que depois entrará em declínio. Tenhamos noção de que, sendo este o maior produtor de petróleo, se ele acabar, o mundo fica sem energia.
Sem petróleo não podemos ir para o trabalho; o transporte de bens e matérias-primas pára, conduzindo, consequentemente, ao encerramento das fábricas que sem matéria-prima não funcionam; o cancelamento da produção e distribuição de produtos leva à paralisação da economia. Neste cenário as empresas encerram, as pessoas são despedidas, perdendo o meio de subsistência; o transporte de alimentos estaciona, trazendo a fome e o desespero; rompe-se a ordem pública que culmina em motins e pilhagens. Instala-se o caos.
Confrontados com esta previsão, talvez deixemos de nos preocupar tanto com os aumentos dos combustíveis e comecemos a pensar em soluções viáveis, nomeadamente no investimento em energias alternativas (mais baratas e menos poluentes).
Incomoda-me esta descontracção por parte de todos, especialmente da comunicação social. Responsável pela alimentação da opinião pública, além de dar conhecimento dos problemas devia também apresentar as causas e as possíveis soluções (que já existem). Incomoda-me que andemos a levitar quando este é um problema que vai afectar todos, sem excepção. Incomoda-me saber que é a corrida a esse magna da energia que está por detrás de guerras (a do Iraque é disso exemplo) e de mortes e que a política, o capitalismo, o egocentrismo e o “Bushismo” sejam um entrave ao desenvolvimento de novas energias.
E assim vamos vivendo preocupados com o que realmente interessa, como o possível relacionamento de Hugo Chávez com Naomi ou a transferência de Hélder Postiga para o Panathinaikos por quatro milhões. O petróleo? Oh, que tem o petróleo?!

Diana Andrade
3º Comunicação Social

Fumo e cismo

Resolução de Ano Novo (bem ao estilo do “Diário de Bridget Jones” ): não acender um cigarro se não me encontrar ao ar livre.
A lei antitabagismo “entrou a matar”. De um momento para o outro, tudo mudou radicalmente. Agora, antes de sair de casa para ir beber um café e fumar tranquilamente um cigarro, todos os fumadores têm de consultar o blogue de Francisco José Viegas, tal como se consulta os horários antes de ir para a estação de comboios. A diferença é que se não apanharem um comboio, sempre podem ir no seguinte, enquanto que se, por ventura, tiverem o azar de se deparar com a porta desse (raro) café fechado, provavelmente não poderão entrar na porta ao lado.
Os fumadores que conheço, na sua maioria, queixam-se de discriminação, uma espécie de “nova xenofobia”. A lei não conseguiu encontrar um equilíbrio que se baseasse num respeito mútuo. Os direitos dos não fumadores estão assegurados. Os fumadores têm o DEVER de não incomodar, o DEVER de respeitar a saúde pública, o DEVER de respeitar os outros.
Os argumentos são sempre os mesmos e a conclusão recai quase sempre num encolher de ombros indiferente, seguido da frase que parece estar mais na moda: «Lá fora também é assim e ninguém morreu». Vamos então seguir os exemplos lá de fora e deixar os nossos belos carros nas garagens, prefiramos as bicicletas! É nosso dever não poluir o ar que respiramos! Sigamos os exemplos lá de fora e instalemos um sistema de saúde como o francês. Não. A nossa política é encerrar, todos os dias, serviços novos nos hospitais. Agora as pessoas já não fumam passivamente, já não ficam tão doentes. Tantos hospitais? Não é preciso.
Sou uma fumadora em “processo de libertação”. Respeito o direito dos outros desde que o meu também seja respeitado. Até posso passar uma tarde inteira sentada num café e não me custa nada não acender um único cigarro…mas gostava de ter liberdade para decidir.
Apesar de tudo, acabo por ter que me render às evidências. «Lá fora ninguém morreu». O ser humano é feito de hábitos. A lei não vai recuar. Pode mudar, um pouco, mas nada mais. Havemos de acabar por nos habituar. E integrará a nossa normalidade.
Encaremos o cumprimento da lei como mais uma das resoluções para este novo ano. Bem ao estilo Bridget Jones. Não são impossíveis, por mais que assim pareçam. Apenas depende de cada um. Da forma como encaramos as mudanças. E do tempo que levamos a nos habituar a elas...

Vânia Furet
3º Comunicação Social

Irão
Uma guerra anunciada

Ao afirmar, em Abu Dhabi, que o "Irão é a maior ameaça à paz", George W. Bush contribuiu para aumentar o clima de medo no Médio Oriente e as manifestações contra o Ocidente. O presidente norte-americano, ao deslocar-se à região, procura apoio político, sobretudo, dos velhos inimigos do Irão, como é o caso de Israel. A sua intenção é deixar Teerão totalmente isolada, sem apoio dos seus vizinhos. De modo a ser facilmente aniquilado por uma forçada coligação ou, apenas, por militares norte-americanos.
Em vez de optar pela resolução do conflito por via diplomática, George W. Bush parece ter vontade de resolver mais este problema através da força e da guerra. Para o Sr. Bush, pegar em armas e bombardear os outros países, de preferência ricos em recursos naturais, é a solução mais acertada...
A paz no Médio Oriente só iria trazer prejuízos aos EUA. Onde é que os norte-americanos iriam buscar o petróleo para alimentar a sua brutal economia? Não teriam países para explorar e para prometer protecção em caso de conflitos. Em troca, os seus aliados oferecem este precioso líquido.
Nem os EUA nem outro país qualquer deveria entrar no Irão sem ter provas da existência de armas nucleares. Penso que a solução passa por voltar a enviar inspectores da ONU que investiguem se estas existem ou não, mas, desta vez, convém “dar-lhes ouvidos”.
Porque o caso do Iraque ainda está fresco na memória. As alegadas armas nucleares nunca apareceram e, depois da invasão, constatou-se que havia, apenas, um exército fraco e muito mal treinado.
O mundo não pode cair no mesmo erro, o mundo não pode deixar os EUA serem o juiz que condena quem deseja. Está na hora da Europa ter um papel mais activo no combate aos problemas globais.

Álvaro Bastos
3º Comunicação Social

Baixa temporada

A música no rádio corta o silêncio no fim de mais um dia de trabalho em que pouco houve para fazer. Celso Baía, dono de uma loja onde se vende de tudo, arruma umas tendas de campismo, enquanto lamenta a concorrência da Decathlon. “Comprei tendas para vender a trinta e poucos euros, nunca tive coisas tão baratas e chego lá e vejo tendas de montagem rápida a dezoito e a vinte euros”, diz, murmurando: “Não há hipótese, não há hipótese”.
A baixa que em tempos já foi o grande centro de comércio em Coimbra está “morta”, diz Celso Baía, que ainda se lembra de andar na rua da Sofia e de não conseguir passar porque “eram centenas e centenas de pessoas”. A situação é bem diferente daquela que conheceu quando veio trabalhar para a loja que o pai comprou “três semanas antes do 25 de Abril”. As pessoas já não param, as ruas já não estão a abarrotar e a baixa tornou-se num ponto de passagem. Olham para as montras mas as lojas continuam desertas.
“Nos shoppings está quentinho, há estacionamento e estão abertos ao domingo”, explica o comerciante, cada vez mais desiludido com o negócio. 2007 foi o ano "pior de sempre”, afirma, acrescentando: “Se um chinês vier para me comprar a loja, vendo-a ao desbarato”.

Um comércio à antiga

“Nós aqui ainda olhamos para as pessoas não como clientes, mas como amigos", diz Arménio Pradas, dono da Sofimodas, profissão que reparte com o cargo de presidente do sector comercial da Associação Comercial e Industrial de Coimbra (ACIC). Defensor da viabilidade do comércio tradicional, Arménio Pradas gaba-se, sorrindo, de ter clientes que passam pela sua loja apenas para conversar.”Eu nem lhe pergunto se ele quer comprar alguma coisa ou não”, afirma, enquanto vai cumprimentando quem entra na loja. É essa a maior diferença entre os shoppings e o comércio tradicional, considera. Defende mais apoio estatal, porque “por mil postos de trabalho precários que se criam num centro comercial são dez ou quinze mil trabalhadores do comércio tradicional que vão embora”.
Com a abertura de mais centros comerciais, a quota de mercado do comércio tradicional, que agora é de 12%, daqui a quatro anos vai para os 6%, aventa, indignado, defendendo que a única solução para garantir a sobrevivência do comércio na baixa é a criação de uma carta de comércio, um documento onde se impõem regras quanto à diversificação de estabelecimentos comerciais.”Numa rua onde há por exemplo cinquenta sapatarias não pode haver mais nenhuma, se ficar vago um espaço deve ser ocupado por outro ramo comercial”, exemplifica o membro da ACIC.

Aguentando o barco

Quem olha para Manuel Magalhães vê as marcas de mais de quarenta anos de trabalho. O rosto sorridente disfarça a mágoa pela situação da baixa. Manuel Magalhães recorda o dia em que herdou a sapataria Reis dos padrinhos, na altura em que os sapatos ainda eram comprados para durar uma vida. "Não se vende nem um terço do que se vendia” afirma, atarefado, enquanto ajuda um fornecedor a descarregar mais uma remessa de sapatos que devem ficar nas prateleiras como tantos outros. O negócio, que vai mantendo com a ajuda da filha, já não é o que era porque “as grandes superfícies vieram absorver tudo e depois vieram os chineses”.
O futuro é incerto para este comerciante, não sabe até quando poderá ter a loja aberta. Percorrendo a loja com o olhar, desabafa: “Vamos aguentando o barco”.

João Pedro Sismeiro
3º Comunicação Social

Condenados à morte

São dezenas os animais abandonados numa estrada que atravessa a floresta entre as praias de Esmoriz e do Furadouro. Um lugar sem casas, longe dos olhares de reprovação e que dificulta o regresso dos animais aos “seus” lares.
Romeira, professor de Educação Física, residente em Esmoriz, é a esperança destes animais que imploram carinho, um tecto e alimento para sobreviver.
Desde muito novo que Romeira dedica o seu tempo a ajudar animais, uma paixão nascida com ele e fomentada pelos pais: “A sensibilidade e carinho que se tem pelos animais é algo que vem da educação e que deve ser adquirido desde pequenino”.
Foi já após ter feito 50 anos que se apercebeu do que acontecia na “estrada da mata”. Como tinha uma loja no Furadouro, passava por aí todos os dias e apercebeu-se que muitos eram os que iam propositadamente "despejar animais”. “Vi montanhas de episódios lamentáveis naquela floresta”, diz, com mágoa.
O local em questão alberga uma lixeira. “Tudo o que ali cai não dura, neste momento, 2 ou 3 meses. Assisti à morte de uma matilha de 22 cães com tosse esgana, menos o chefe do grupo que trouxe comigo e que já devia ter anticorpos”, conta, com tristeza.
Também a mão humana é um factor de perigo para estes animais sem dono. Na floresta, estão sujeitos a caçadores. “Os humanos atiram a tudo”, explica, acrescentando que outra ameaça são as bolas envenenadas usadas para apanhar raposas: “Com o veneno, caem para o lado e não é danificada a pele”. O resto, tem o mesmo destino: “Vai, vai pássaros, vai cães, vai gatos, vai tudo…”, resume. E há quem passe de carro e se divirta a "fazer pontaria" a cães e gatos. Conta Romeira:"Já vi um indivíduo a atropelar três cães, um de cada vez".
Desde essa altura, passa diariamente pela mata. Desloca-se de Esmoriz até ao Furadouro para alimentar cães e gatos que têm a floresta como casa: “Meto comida em 31 sítios todos os dias”, “mas há uma grande concorrência e, este ano, um aumento muito grande de raposas, que também comem”. Os animais já o reconhecem: “Todos ele conhecem a minha carrinha, conhece o gato, o cão e algumas raposas, posso vir a 500 metros que eles conseguem perfeitamente associar que eu venho ali.”
Alimenta actualmente cerca de 100 animais, cães e gatos, algumas dezenas dos quais em sua casa. “Gatos há um monte deles”, diz o professor, que identificou perto de 40 no início de Novembro de 2007. “Mas agora o Inverno está muito rigoroso e não vejo mais do que 20”, diz, lamentando não ver quatro dos seus melhores amigos há uma semana: “Chamo, chamo, chamo e não aparecem”.
O facto de alimentar todos os animais abandonados na estrada da mata tem-lhe trazido alguns problemas com as autoridades. “Um agente da Polícia Florestal ameaçou-me de prisão porque não podia pôr comida aos bichos abandonados”, refere, indignando-se com essa preocupação com a sua “obra de caridade”.
Romeira tem consciência que a lei proíbe a colocação de comida na via pública para alimentar animais vadios. Defende-se dizendo que também, por lei, é proibido abandonar animais: “Só faço isto porque o outro lado não é respeitado e é muito menos grave meter um bocadinho de comida ao pé de uma árvore”.

Filipa Fragoso
3º Comunicação Social





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A febre (encarnada) de sábado à noite

Manuel Branco, nasceu em Espinho há 55 anos. É ali que reside, mas corre as regiões norte e centro com a sua banca ambulante. Onde haja jogo de Porto, Benfica ou Sporting - a ordem não é arbitrária - ele lá está. A venda é ´desportivamente´ diversificada: Cachecóis dos mais diversos clubes, com destaque para os três “grandes” do futebol luso, assim com camisolas, bandeiras, gorros, pequenos galhardetes, pins e até isqueiros.
Sábado, 24 de Novembro. O Académica-Benfica promete noite de enchente e boas perspectivas para o negócio. O espinhense não falta. O seu ´estabelecimento´ está montado junto à Igreja de S. José, a poucos metros do Estádio Cidade de Coimbra.
Faltam mais de duas horas para o apito inicial no desafio de mais uma jornada do campeonato. O corrupio já é grande em redor do recinto.
“Prá bola há sempre dinheiro!”, constata o nortenho, habituado a grandes movimentos. “Olhe, quando o meu Porto joga, é lá à porta do estádio que faço negócio. E quando são os jogos do Benfica ou do Sporting aqui para cima também não falho. Umas vezes vendo mais outras menos, mas vai dando”, confessa.
Menos sorte parecem ter as ´roulottes´ das farturas e dos cachorros e bifanas. Estão quase às moscas. A noite começa com muito frio e os adeptos preferem lugares mais resguardados para aconchegar o estômago. Não admira por isso que o sector da restauração do centro comercial paredes-meias com o estádio esteja à pinha e assim há-de estar por largos minutos. Predomina o vermelho nos adereços habituais nestas ocasiões. Os da Briosa são menos e mais contidos.
O jogo começa às nove e um quarto. Os autocarros com as equipas hão-de chegar dentro em pouco, a hora e meia do pontapé de saída. À espera dos craques, o gradeamento de segurança está lotado. Não tardam. As sirenes dos batedores da Brigada de Trânsito ´anunciam´ o Vermelhão (é assim que é conhecido o luxuoso veículo de águia estampada). O primeiro momento de entusiasmo da noite é feito de palmas, muitas palmas, e gritos, muitos, do famoso “SLB, SLB, Glorioso SLB”. Mais discreta, poucos instantes depois, a chegada do adversário. Mundos e realidades bem diferentes.
As portas do recinto ainda estão fechadas. Aproveita Maria Glória, 61 anos “feitos a semana passada”, para ganhar a noite. Os braços carregam inúmeros cachecóis, todos encarnados. Deambula por entre os adeptos, cada vez em maior número. “Olhó cachecol! É pró maior!”, vai gritando. “Isto está mau, mas a cinco euros vou vendendo. Hoje em dia o que são cinco euros?”, pergunta sem esperar resposta.
São quase oito da noite. Abrem-se as portas do estádio. Os primeiros adeptos passam os torniquetes. O Rui e a Vera chegam junto da porta 3. Ele com 30 anos, ela 26. Vieram de Cantanhede. Os cachecóis vermelhos em volta do pescoço denunciam a preferência. “Até nem me importava com um empatezito, mas o Porto não pode fugir mais”, atira ela sorridente. “Qual empate?! Ganhar e por muitos!”, contrapõe de pronto o companheiro, pouco dado a sentimentos de boa vizinhança. E lá entram para as bancadas.
À medida que os ponteiros do relógio avançam maior é a azáfama em direcção as diversas portas. Cinco autocarros chegam com as claques dos ´Diabos Vermelhos´ e ´No Names Boys´. A escolta policial impressiona. Tudo decorre sem problemas.
Junto às bilheteiras há castanha assada. “Uma dúzia, um euro”, responde o assador a cada pergunta dos que chegam chamados pelo cheiro intenso.
O estádio vai enchendo a conta-gotas. Há-de chegar aos 16 mil espectadores, dois terços a torcer pelo clube visitante. O Benfica sofre mas termina a ganhar 3-1. É a festa vermelha nas bancadas. Bandeiras ao alto, cachecóis erguidos. O ´povo´ está feliz.
Uma hora depois do encontro acabar ainda algumas dezenas de adeptos esperam a saída dos jogadores para o autocarro. Gritam por eles. Simpáticos, alguns lá acedem a um autógrafo aqui, uma foto ali.
É quase meia-noite. Há muito que Manuel Branco está de regresso a Espinho. É preciso descansar. No dia seguinte o seu Porto joga em casa...

Luís Melo
3º Comunicação Social

Baixa de Coimbra em alta

Quem entrou na cidade de Coimbra pela ponte de Sta Clara, facilmente percebeu que algo diferente tomara conta das ruas da cidade. A noite estava calma e muito fria, um grau a menos e a temperatura passava a negativa. A decoração natalícia parecia ser a mesma dos anos anteriores, mas a música da orquestra ecoava tão alto que que era impossível não perceber que a noite se transformara numa festa.
A ideia partiu de um grupo de estudantes de Engenharia Informática, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, que desenvolveu o projecto “Noite Branca”, que consiste na animação cultural e comércio nocturno, para ajudar o comércio da baixa de Coimbra a combater a "desertificação", devido às enormes afluências a grandes superfícies comerciais.
Armindo Gaspar foi um dos visitantes que decidiu participar. “A minha família está a adorar presenciar este acontecimento. A cidade precisa de mais iniciativas como esta ao longo do ano, pois temos mesmo de manter viva a tradição na cidade, caso contrário o comércio tradicional continuará a desaparecer”, diz.
No centro da Praça Oito de Maio, vê-se uma enorme chaminé com cerca de quatro a cinco metros de altura, com um Pai Natal no topo. À entrada da Igreja de Sta Cruz, a Orquestra Ligeira da Filarmónica do Mondego anima a praça, onde muitos dançam.
Segundo Luís Braga, proprietário de uma loja de agasalhos nas imediações, “a noite está fria, o que por um lado é bom para as vendas, mas por outro é mau para as pessoas, pois muitas não se atrevem sequer a pensar sair de casa. Contudo, o resultado é acima do esperado, estou muito satisfeito. Gostaria de manter a minha casa aberta por muito tempo, mas para isso é necessário que a situação melhore consideravelmente".
Seguindo na direcção da Praça do Comércio, ouve-se um grande alarido ao cimo das escadas, é o Rancho Folclórico da Associação Cultural Rosas do Mondego a animar a “malta”, mas o ruído é tão alto que os cantores do rancho têm de se esforçar para se fazerem ouvir.
Sentados num dos bancos de jardim que ali se encontra, estão dois vendedores ambulantes, com peças de madeira trabalhadas à mão. Joeli Albani, moçambicano, não tem dúvidas, a iniciativa é boa: “A cidade está cada vez mais deserta, no Verão vêm-se poucas pessoas nas ruas, devem ir para a praia… no Inverno ninguém se atreve a sair à rua com medo do frio, são iniciativas como esta que nos fazem ganhar um pouco mais, esta cidade vive de estudantes, mas existem mais pessoas a viver cá e a precisarem dela para conseguir comer”.
Ao fundo das escadas da Praça do Comércio ouviu-se um enorme eco, o som bateu tão forte nas paredes da Igreja S. Bartolomeu, que era impossível alguém esquecer que a noite era de festa. O grupo responsável por tamanha algazarra é a “Olpa Big Band”, Orquestra Ligeira da Filarmónica da Pampilhosa, com 15 músicos.
Na Rua da Sota, a cerca de 5 metros da actuação, há três montras diferentes de todas as outras, são “montra vivas” com manequins humanos, quem passa acha engraçado e ri, ri tanto, que fazem rir os próprios manequins.
O pequeno estacionamento junto ao barco Basófias está apinhado de carros e até os arrumadores parecem ter tirado folga. À entrada da rua encontra-se um grupo de gaiteiros. O passeio está tão repleto de pessoas que parece ser dia. Dia de festa.

Paulo Rodrigues
3º Comunicação Social

Quando o temporário passa a permanente

Acabado o curso, muitos deparam-se com um obstáculo comum a muitos portugueses: o desemprego. Ao folhear os jornais, deparam-se com uma realidade mais sombria do que esperavam. “O flagelo do desemprego atingiu no primeiro trimestre deste ano 8,4% da população, que se encontra disponível para trabalhar” ou “ A taxa de desemprego regista maior subida dos últimos 15 anos”, são títulos quase diários. Enquadram-se nesta taxa percentual cerca de 50 mil jovens licenciados que terminaram os seus estudos e não encontram possibilidades de carreira na sua área de formação.
É neste cenário que os jovens começam a decidir o seu futuro, procurando alternativas com vista à sua independência pessoal e financeira.
A formação desejada e, por vezes, obtida com muito esforço passa para segundo plano. Uma das portas que se abre mais facilmente é a das empresas de trabalho temporário que recrutam e formam pessoas para as mais diversas áreas e sectores do mercado. São chamadas empresas de outsourcing, fornecendo recursos humanos a outras empresas que tentam diminuir os seus custos.
Segundo Bruno Pinheiro, responsável pelo call-center de apoio ao cliente da TV Cabo Portugal, “este trabalho temporário é procurado sobretudo por jovens que acabaram de completar a licenciatura. Tenho à minha responsabilidade cerca de 80% de licenciados e, considerando que estamos na "cidade dos estudantes", não há surpresa. Durante a procura do primeiro emprego precisam de pagar as despesas normais de uma casa e mesmo as da própria procura, e este torna-se um meio acessível a todos”.
Vera Salvador, licenciada em Língua Portuguesa e a trabalhar no atendimento ao público na loja da TV Cabo, em Coimbra, é um dos casos que ilustram esta realidade. Com 30 anos, procurou “uma segunda opção ou um recurso para pagar as despesas lá de casa”. “As preocupações de quem se esqueceu de pagar a factura do mês ou os problemas com os cabos de fibra óptica não são propriamente a realidade que me fazem mais feliz. No entanto, não me imagino daqui a 3 ou 4 anos no mesmo sítio. Gostaria de exercer aquilo para que estudei e dediquei tanto tempo, mas as coisas não estão fáceis para ninguém”, remata.
Percorrendo a mesma empresa, longe dos olhares cansados na fila à espera de vez, está Liliana Soares, de 28 anos. “O meu percurso foi um pouco diferente do habitual. Desisti de estudar aos 17 anos e quis logo pôr as mãos no trabalho. Respondi a um anúncio no jornal que pedia operadores de loja. E agora que já experimentei um pouco de tudo decidi tirar um curso superior que me preenche mais e sobretudo que é um complemento à formação prática que já tenho.”
Só para a TV Cabo Portugal, na zona centro, trabalham duas empresas de outsourcing absorvendo cerca de cem colaboradores a prestarem serviços de part-time e full-time.
Para o primeiro emprego a solução eficaz não existe, o que existem são pequenas opções até se encontrar o caminho, e o trabalho temporário pode ser uma alternativa à espera.

Diana Oliveira
3º Comunicação Social

Pílula do dia seguinte
é solução de último recurso

A pílula do dia seguinte encontra-se à venda desde o ano 2000, sendo cada vez maior a sua procura, quando a mulher teme engravidar.
Como se toma? Quais as consequências? São as perguntas mais frequentes.
A Internet parece ser o meio menos constrangedor para obter informação. Sites como o http://piluladodiaseguinte.no.sapo.pt/ dão respostas para algumas dúvidas. A pílula do dia seguinte só deve ser usada como medida de emergência, para prevenir a gravidez após uma relação sexual desprotegida durante o período fértil. Quando ingerida no máximo até 72 horas após o acto sexual, reduz o risco de engravidar, embora não seja 100% eficaz. Se a mulher já tomar a pílula contraceptiva regular, deve continuar a fazê-lo.
Ginecologista na Maternidade Professor Bissaya Barreto, em Coimbra, Inês Marques explica que a eficácia da pílula diminui tanto mais, quanto mais tarde for absorvida. Alertando para as suas consequências, pelas elevadas doses hormonais, a médica diz que “o uso excessivo da pílula abortiva altera o ciclo menstrual e prejudica gravemente a saúde, causando riscos como tromboses, cancro da mama, do útero e até mesmo problemas numa futura gravidez”. Se depois de tomar a pílula do dia seguinte, a mulher pretender ter relações sexuais, “deve usar um contraceptivo de barreira, como o preservativo”, aconselha. “A pílula é abortiva porque impede a implantação, não impede uma gravidez já instalada. Este medicamento não actuará se a mulher tiver outra relação sexual desprotegida, antes da menstruação seguinte”.
A ginecologista reforça a ideia de que o vómito e a diarreia podem acontecer após a toma da pílula abortiva, assim como uma hemorragia.
Para a médica, “há um desfasamento entre o crescimento do corpo e a maturidade. Quando surge uma oportunidade inesperada, não sendo tomada uma precaução, a pílula do dia seguinte é para muitas jovens a solução. Num meio académico como o de Coimbra, acontece regularmente. Certos erros devem-se à falta de um seguimento de planeamento familiar e ginecológico”.
Segundo o JN, “as portuguesas compraram quase 240 mil pílulas do dia seguinte, em 2006”. Daniel Pereira da Silva, da direcção da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, sublinhou ao JN que “a toma da pílula do dia seguinte equivale ao consumo de 15 comprimidos de uma pílula convencional”. Vera Rodrigues, farmacêutica na Farmácia Estádio, em Coimbra, diz que os picos de venda da pílula abortiva, este ano, foram em Janeiro, depois da passagem de ano, e em Maio, época da Queima das Fitas. “Seguimos um protocolo de ética. Fazemos perguntas chave e só fornecemos consoante as mulheres preencham certos requisitos. Damos um folheto informativo e aconselhamos que se dirijam ao serviço de contracepção de emergência na Maternidade Daniel de Matos. Não vendemos a homens e se verificarmos que é um risco para a saúde da mulher, recusamo-nos a dá‑la”, reforça.
A pílula do dia seguinte pode matar devido aos factores de risco causados pelos efeitos secundários, havendo “pelo menos cinco casos de morte”, revelou Margarida Castel-Branco, investigadora da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, ao Diário as Beiras. Embora a lei determine que seja fornecida gratuitamente nos Centros de Saúde e hospitais públicos, a pílula do dia seguinte é de venda livre e o preço ronda os 10 euros.
Inquiridas 20 estudantes do ensino superior, conclui-se que cinco já tomaram a pílula do dia seguinte e todas dizem estar bem informadas.
Ana viu-se obrigada a comprar a pílula abortiva por estar a tomar um antibiótico que cortava o efeito da pílula contraceptiva regular. Confessa ter sido uma irresponsabilidade, uma vez que estava informada e remata: “Por vergonha, pedi ao meu namorado que fosse à farmácia, não se pode repetir”.

Rita Matias
3º Comunicação Social

Crescente número de licenciados
é novo problema social

Longe vão os tempos em que um ‘canudo’ garantia uma entrada directa no mercado de trabalho.
Ao longo dos anos, o número de desempregados com habilitação superior têm vindo a aumentar significativamente, em consequência do aumento do número de diplomados.
Ivo Reis é um dos milhares de licenciados actualmente no desemprego. Licenciado em Tecnologias da Comunicação pela Escola Superior de Tecnologia e de Gestão do Instituto Politécnico de Bragança, está desempregado há cerca de um ano e, neste momento, procura ainda a sua primeira experiência na sua área de formação. Ivo Reis considera que o importante é não parar de procurar. “As desilusões fazem parte da aprendizagem que é necessária para enfrentar a realidade e a competitividade do mercado de trabalho, seja onde e quando for”, refere.
Segundo dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), no mês de Outubro de 2007, registaram-se cerca de 44.692 desempregados licenciados, em todo o país.
No entanto, o número de desempregados difere consoante as áreas de formação. As áreas das ciências sociais e as áreas ligadas à educação e à formação de formadores são aquelas que apresentam a maior taxa de desemprego, de acordo com os dados apurados pelo IEFP, em Junho de 2007.
Muitos são aqueles que não conseguem encontrar emprego na sua área de formação e que optam por trabalhar em outras áreas. É o caso de Ana Rita Jacinto e Catarina dos Santos. Ana Rita Jacinto é licenciada em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e actualmente está a trabalhar como recepcionista no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra.
Licenciada há já três anos, Ana Rita Jacinto, teve apenas uma experiência na sua área de formação num estágio que efectuou. Revela que já não tem esperança em encontrar emprego na sua área e que, se fosse hoje, escolheria uma área de formação diferente.
Catarina dos Santos, licenciada em Psicologia pela Universidade Internacional da Figueira da Foz, está actualmente a trabalhar como administrativa numa empresa de cerâmica. Terminou a sua licenciatura há dois anos e, até agora, a única experiência que teve na área da psicologia foi no seu estágio curricular.
A jovem licenciada garante que, se entrasse hoje para o ensino superior, não seguiria um sonho, como fez e que tentava “apostar numa área onde as saídas profissionais fossem mais viáveis”.
Contudo, Catarina dos Santos afirma que “o importante é nunca desistir”, acrescentando: “Deve-se tentar sempre fazer valer a vontade que nos moveu durante anos para concluir o curso”.
Na opinião dos jovens licenciados, o facto de muitos diplomados estarem a trabalhar numa área diferente da sua formação, deve-se essencialmente à realidade do mercado de trabalho em Portugal, à constante procura das empresas por pessoas com larga experiência de trabalho e ao comodismo de encontrar um emprego, sem qualquer ligação com o curso frequentado, onde se obtém um ordenado considerável.
No distrito de Coimbra, a maior taxa de desemprego verifica-se no grupo dos licenciados. No passado mês de Outubro, registaram-se neste distrito 1614 desempregados com formação superior.
Sónia Teles, responsável pelo gabinete de saídas profissionais da Associação Académica de Coimbra, refere que uma licenciatura continua a ser o caminho mais seguro para entrar no mercado de trabalho. No entanto, sublinha que se deve “ter em atenção os cursos que se fazem” porque nem todos têm uma boa integração no mercado de trabalho.
Apesar do número elevado de licenciados desempregados que se regista a nível nacional, este grupo de desempregados representa apenas 9,4 por cento da população inscrita nos centros de empregos de Portugal.

Urânia Cardoso
3º Comunicação Social

Aspirantes a jornalistas

Nesta nova cultura do empolgamento jornalístico, como a caracteriza Carl Bernstein, muitos são aqueles que, todos os anos, ingressam em cursos na área da comunicação social. Entre aqueles que vão ficando pelo caminho e os que decidem continuar em frente, encontramos Cândida Sá, agora jornalista, e Vasco Pinto, finalista do curso de Comunicação Social.
Cândida Sá concorreu para Comunicação Social, mas confessa que, na altura, nem imaginava o que tinha pela frente. Ao longo do curso, repetiu várias vezes que não queria ser jornalista, mas hoje os seus dias são passados dentro de uma redacção ou “na rua”a fazer aquilo que aprendeu a gostar. Quando chega ao “Aurinegra” (jornal local onde trabalha), corre apressadamente o correio electrónico e, como não poderia deixar de ser, lê todos os jornais diários que encontra à sua disposição. Considera fascinante a sua vida enquanto jornalista: “Sair para a rua, contactar com as pessoas, procurar informação, querer saber mais e, depois, exprimir tudo isso através de palavras”.
Cultivar fontes de informação não é tarefa fácil, Cândida sabe-o bem. Diz mesmo que as pessoas se afastam dos jornalistas e que essa é a principal dificuldade que tem sentido. No entanto, acredita que, com a experiência, irá aprender a lidar com isso. Considera que o curso no qual é licenciada tem pouco de prático ou, pelo menos no seu tempo de estudante, tinha, e que isso lhe dificultou o estágio na TVI. “Quando cheguei ao estágio nem sequer sabia escrever uma breve. Na TVI tive oportunidade de aprender a escrever uma “notícia à séria”. Foi uma experiência muito enriquecedora”. Hoje agradece o apoio e a atenção da coordenadora e editora e, aos futuros colegas de profissão, deixa o conselho: “Mexam-se”.
Entre o estúdio de uma rádio, a redacção de um jornal ou as câmaras de uma televisão, Vasco Pinto, finalista do curso de comunicação social da ESEC ( Escola Superior de Educação de Coimbra), opta pela última.
Por enquanto, fazer televisão, é apenas um sonho que espera ver concretizado em breve. Foi preciso chegar ao 4º ano para se sentir realmente satisfeito com o curso que, como Cândida, considera muito teórico. "Em Inglaterra as coisas eram bem diferentes”, recorda. Esteve em Erasmus no Cumbria Institute of the Arts e foi aí que começou a fazer as primeiras peças televisivas. Agora, com o estágio à porta, receia o que o espera, mas de uma coisa tem a certeza: “Farei os possíveis e impossíveis para trabalhar na área televisiva".

Tânia Figueiredo
3º Comunicação Social

Óleos Alimentares
de resíduo a matéria-prima

Os Óleos Alimentares Usados (OAU) são uma das mais recentes apostas no sector da reciclagem de resíduos.
Derivados da fritura de alimentos, os OAU provêm na sua maioria do uso doméstico, do fabrico industrial de batatas fritas e do sector HORECA que inclui hotéis, restaurantes, cantinas e cafés. No entanto, apenas uma pequena percentagem faz chegar os seus óleos a empresas especializadas na reciclagem desse resíduo.
Foram as questões sociais e ambientais que, no primeiro trimestre deste ano, levaram a APPACDM (Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental) de Coimbra a ingressar na actividade de recolha destes resíduos. José Júlio, responsável pela gestão da associação refere que poucos são ainda os cidadãos individuais que entregam os seus óleos para reciclar. Hospitais, restaurante, cantinas, autarquias e instituições de solidariedade social são as principais organizações com as quais a associação trabalha.
O Hotel Tivoli de Coimbra é um dos 433 estabelecimentos no distrito de Coimbra que entrega os OAU à Biological, empresa de recolha desses resíduos. Na cozinha do hotel foi colocada uma vasilha onde são depositados os OAU. Após uma recolha, a empresa substitui o recipiente por um devidamente lavado e com condições para ser novamente utilizado. Por mês, este estabelecimento entrega 20 litros de óleo.
Helena Sequeira refere que a política do hotel “assenta na preocupação de ser ambientalmente responsável” e salienta que em Agosto deste ano lhes foi atribuída a certificação em Qualidade, Ambiente e Segurança.
A Biological, após a recolha, armazena temporariamente na sua empresa os OAU, em recipientes próprios até serem dirigidos aos operadores da reciclagem.
Isabel Tavares, gerente do restaurante “Os Tigres” refere que foi por iniciativa própria que, há um ano, procurou uma empresa de recolha para os seus óleos. “Foi fácil encontrar uma empresa que efectuasse esse trabalho, pois encontrei várias. Depois disso, já passaram por aqui algumas a oferecerem os seus serviços”, diz a gerente.
Os OAU, recolhidos e armazenados, têm como principais destinos finais a industria saboeira e a produção de biodiesel, que se concentra mais na zona norte do país.
Segundo a Quercus, em Portugal existem cerca de dez empresas de reciclagem.
No que diz respeito à legislação, Cármen Lima, da Quercus, afirma que actualmente não existe “uma legislação específica” para a reciclagem dos OAU, “mas sim referências no âmbito da gestão dos resíduos”.

Da fritadeira para o depósito

A utilização do OAU como fonte de produção de biodiesel tem sido apontada como uma das melhores soluções. A DieselBase é uma das empresas portuguesas que recebe o óleo para produção desse combustível. A empresa salienta a diminuição da produção de gases para a atmosfera e a independência face ao mercado de petróleo que oscila constantemente, como vantagens que o biodiesel apresenta em relação aos outros combustíveis.
A Lei proíbe que OAU sejam depositados no sistema de esgotos, mas a verdade é que as ETAR’s são frequentemente inundadas por óleos e gorduras associadas.
Susana Ferreira, engenheira das Águas de Coimbra explica que os perigos causados por esses óleos, quando depositados nas redes públicas de águas residuais, interferem principalmente na saúde, no ambiente e no estado das tubagens. “Um litro de óleo alimentar contamina cerca de um milhão de litros de água. O equivalente ao consumo de uma pessoa num período de 14 anos” alertou a engenheira.
É certo que não existe um sistema de recolha obrigatória nem uma fiscalização ao destino que é dado a esses resíduos. No entanto, o Instituto de Resíduos sugere que tanto no sector doméstico como no sector Industrial ou no sector HORECA, os produtores de OAU manifestem uma participação voluntária e de responsabilidade pelos seus resíduos.

Sara Pereira
3º Comunicação Social

O outro lado de Coimbra

Os relógios marcam 21H00. É momento de vestir os coletes azuis. Um silêncio invade a sala. Sentimento de responsabilidade. A equipa da Associação Integrar sai do centro em direcção à carrinha, de onde são retirados cobertores e uma marmita com café quente. Com tudo pronto, parte rumo às Químicas. Um senhor de meia-idade recebe-os na sua humilde “casa”, um beco resguardado por uma grade alta, revestida por panos, outrora brancos. Não dá para lhe ver o rosto, está escuro, o cheiro é nauseabundo, mas a sua gentileza faz esquecer o cenário. O homem sofre, sofre na solidão, contando, apenas, com o auxílio daqueles que não se conformam com o estado das coisas. Os seus intestinos e a sua perna, doentes, não lhe dão descanso, mas não se queixa. Recusa beber o que se lhe oferece. Teme ficar pior. Após dois dedos de conversa, a despedida calorosa, difícil. Outras pessoas aguardam o bendito café, com enorme expectativa.
Quatro homens, que se encontram no “quentinho” dos seus cobertores, em camas improvisadas, são cumprimentados. O local é amplo, iluminado, o ambiente é de conversa. A bebida é servida. Pedem para repetir. Enchem-se as suas garrafas de água com o “líquido divino”. Parece que lhes reconforta a alma. São amáveis, receptivos à ajuda. Partilham com a equipa experiências vividas, derrotas e sonhos. Não perdem a vontade de viver. Acreditam que um dia tudo mudará, que o novo ano lhes trará sorte. As suas palavras, tão mais doces do que as de muitos doutores desse país fora. Toda a “tertúlia” se desenrola ao som de um frágil rádio portátil, que alegra um pouco a vida da rua. Um denso orvalho cai em cima das cabeças de cada um. De novo a despedida e a promessa de voltar.
Caminhando pela Rua da Sofia, eis um sem-abrigo a dormir à entrada de um Banco. Está ferrado no sono, não se apercebe da presença das assistentes, do café que decerto lhe aqueceria o espírito. Não possui as habituais bagagens, provavelmente perdeu-as. Deixam-no, sem o acordar. Ao longo do percurso dá-se conta de que os utentes não se encontram nos locais do costume. A vaga de frio não convida a ser presenteado pela humidade que se faz sentir. As “damas da noite” estarão em serviço? Mais à frente um grupo misto de toxicodependentes aborda as “heroínas” de colete azul. Pedem café e bolos. Pouca sorte, só há café. Bebem e repetem. Há neles uma suave simpatia, mas parecem excitados…Será da falta ou do excesso? Agradecem. A noite continua. No entanto, mais ninguém espera por alguma atenção, algum conforto. O frio não ajuda…ou há algo que não se sabe? Regressão ao centro com a marmita meio cheia. É tempo de despir os coletes, aqueles acessórios que fazem a diferença no meio da exclusão e da miséria que habita frente aos olhos de todos.
Coimbra é o único distrito do país onde existe um trabalho em rede entre várias instituições de solidariedade, no apoio aos sem abrigo. O PISACC (Projecto de Intervenção com os Sem Abrigo no Concelho de Coimbra) engloba associações como a ANAJOVEM, a CARITAS, a AMI Porta Amiga, as cozinhas económicas rainha Santa Isabel, a Câmara Municipal e a Segurança Social.
Paulo Pereira, assistente social e coordenador da AMI Porta Amiga, explica que “as equipas de rua, de intervenção directa, são quatro, e que dividem entre si os sete dias da semana. Fazem os giros nocturnos com o objectivo de sinalizar novos casos sem abrigo e motivar os mesmos para a adesão a um programa de mudança”. Destacam-se os gestores de caso que são, segundo Sara Antunes, assistente social na Integrar “o elemento da equipa que gere o caso de um sem abrigo identificado”. Para Carla Bento, estagiária da associação, é gratificante “sentir que se faz algo pelo outro”.

Carine Anacleto
3º Comunicação Social

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Combater a ignorância

A discriminação em relação aos portadores do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH também conhecido por HIV), responsável pela Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA), persiste, remetendo, muitas vezes, para a clandestinidade um problema que é de todos.
Não obstante as várias campanhas informativas e de sensibilização realizadas nos últimos 20 anos, há ainda muita ignorância em relação à doença. “Quase toda a gente já ouviu falar na palavra SIDA, ouviu falar no HIV, mas não sabe ao certo o que é a doença, quais os factores de risco, como se transmite ou não se transmite”, diz Teresa Ferreira, médica de clínica geral.
Muitos doentes são considerados"infames", porque “durante muitos anos foi uma doença tabu, da qual que as pessoas não falavam. Pensavam que era uma doença relacionada com homossexuais, tudo foi sempre muito estigmatizado”, explica a médica.
O vírus HIV fragiliza o sistema imunitário, deixando-o vulnerável a muitas doenças e podendo levar à SIDA. Ser seropositivo significa que o sistema imunitário está infectado pelo HIV, mas não necessariamente que se tenha SIDA, mas o vírus é transmissível e pode demorar muito tempo até se manifestar.
Daí o medo e a insegurança que toma conta das pessoas. “Até os próprios médicos ainda têm uma certa relutância em contactar com doentes HIV positivos. Numa urgência, se um doente diz que é HIV positivo, o médico que está com ele quase sempre encaminha-o para médicos de doenças infecciosas”, diz Teresa Ferreira, acrescentando: “Até eu, que sou médica, ao contactar com doentes HIV positivos tive receio, foi preciso um momento de consciencialização”.
Enquanto profissional de saúde, na área de enfermagem, João Alves afirma que procura ser o mais correcto, ética e humanamente, para com os portadores de HIV: “Imagino como deve ser difícil para uma pessoa portadora do vírus HIV lidar com seus próprios sentimentos, exorcizar os medos, viver um dia de cada vez”.
O HIV não é transmitido por beijos, abraços, suor, saliva, lágrimas, pelo uso comum de piscinas, copos, talheres ou roupas. O contágio ocorre através de relações sexuais sem protecção, do contacto sanguíneo, pelo uso de agulhas e seringas contaminadas ou de mãe seropositiva ao filho, sendo possível, neste último caso, diminuir esse risco, através de cesariana e de outros recursos, nomeadamente através de medicamentos específicos para o HIV.
A principal via de transmissão do vírus HIV é o contacto sexual, surgindo muitos problemas adicionais, resultantes de questões culturais relacionadas com a sexualidade. Se é uma mulher a portadora do HIV, é rotulada como “promíscua”, se é um homem, já está previamente classificado como “homossexual”, se o caso envolve uma pessoa idosa, trata-se de uma “velhinha ou velhinho tolo”. Desta maneira, todo o seropositivo sente-se socialmente pré-rotulado para a exclusão. Mas os profissionais de saúde são unânimes em afirmar que já não existem “grupos de risco”. “É muito fácil evitar o contágio se houver uma relação protegida, basta um preservativo para que isso aconteça”, acrescenta a médica.
A SIDA é um problema global, sendo necessária uma maior consciencialização, que leve à adopção de comportamentos sexuais responsáveis. Para isso, é preciso uma “educação sexual precoce, aberta e descomplexada”, diz Teresa Ferreira.

Tânia Gonçalves
3º Comunicação Social

Chamamento de Deus

Como seria uma aldeia sem um padre? Nestas pequenas localidades, são hábitos já há muito adquiridos ir à missa ao domingo de manhã ou a realização das festas religiosas, mas nas cidades torna-se cada vez mais escassa a prática cristã, que diminuiu cerca de 20 % em Portugal.
Quando alguém diz: “Vou ser padre”, os motivos dessa escolha costumam ser questionados. Os seminaristas dão uma resposta simples: dizem ser jovens comuns, que optaram por outro caminho. Afirmam ter uma vida normal e gostar das mesmas coisas que todos os rapazes gostam. Muitos, antes de iniciarem o novo caminho, tinham namorada e faziam o mesmo que qualquer outro jovem. Continuam a fazê-lo, apenas rezam um pouco mais. Levantam-se cedo, estudam, fazem exercício físico, como outra pessoa qualquer.
Entre 2000 e 2005, verificou-se um aumento do número de estudantes de Filosofia e Teologia nos seminários religiosos e diocesanos, à excepção da Europa, onde houve um decréscimo de 14,95 por cento no número de candidatos ao sacerdócio. O continente africano foi o que registou maior crescimento (15,68 por cento). Contudo, constata-se que em relação aos quinquénios anteriores (1995-2000 e 1990-1995) o número de candidatos ao sacerdócio tem vindo a diminuir. Para o Pe. Pedro Nunes Pedro, capelão dos Hospitais da Universidade de Coimbra, este é o resultado da “grande mutação cultural que existiu no nosso país e no mundo”, mas não só. Diz tratar-se também da crescente valorização do sucesso individual, das carreiras profissionais e ainda do consumismo e do materialismo.
Encontrar alguém que sinta vocação para exercer o ministério sacerdotal é algo raro. Os poucos jovens que pretendem seguir esta vocação, fazem-no de forma abnegada, com sacrifícios, mas convictos de que esse é um dos caminhos para a felicidade. Para haver mais vocações, o Pe. Pedro afirma ser “preciso pedir a Deus”, pois “uma vocação é um chamamento de Deus”, dizendo: “É preciso que as comunidades cristãs e os cristãos individualmente vivam mais a fé. Não se limitem a ser «cristãos não praticantes»". Declara que é preciso “despertar os jovens para o voluntariado, para o serviço ao próximo, para que alguns assumam esse compromisso para a vida, por exemplo, no sacerdócio.”
No Seminário Maior de Coimbra estão, actualmente, nove seminaristas, que têm de completar 6 anos de formação, o que “implica uma reorganização no trabalho paroquial”, afirma o Pe. Pedro, pois a falta de padres faz com que “um grupo de padres trabalhe em conjunto para servir um certo numero de paróquias, situação que já se verifica em algumas.
Mas não são só os rapazes que sentem o "chamamento de Deus", pois também as raparigas se podem tornar religiosas. O número de vocações para a vida religiosa feminina diminuiu, cerca de 5 por cento. Contudo, este decréscimo verifica-se apenas na Europa (menos 11,8 por cento), na Oceânia (menos 10,7 por cento) e na América (menos 7,5 por cento), tendo aumentado na África (11,8 por cento) e na Ásia (11 por cento). Apesar de tudo, ainda é a Europa que apresenta o maior índice mundial de religiosas, rondando os 42,47 por cento.

Filipa Silva
3º Comunicação Social

Aprender até ao fim da vida

A Universidade do Tempo Livre (UTL), em Coimbra, está a iniciar mais um ano lectivo de aprendizagem e de convívio. Para além das aulas, duas vezes por semana, a UTL promove outro tipo de actividades para os idosos preencherem o tempo livre, nomeadamente passeios e visitas a museus. Alemão, Inglês, Italiano, Religião e Religiões, Informática, Astrologia Científica, Ginástica e Manutenção, Yoga, Danças de Salão e Fotografia Digital são apenas algumas das disciplinas que os alunos da UTL podem escolher.
Álvaro Moreira, aluno na UTL há quatro anos, frequenta as aulas de Inglês e de Informática. Antigo Inspector, na área de Direito Administrativo e em Direito do Trabalho, soube da existência da universidade através de uma vizinha. Procura, desde há quatro anos, manter uma vida activa e manter-se ocupado. Álvaro Moreira recorda o que o levou a ingressar na UTL: “Temi o corte de uma vida intensa para uma vida demasiado parada”. Com a ida para a universidade procurou sobretudo “uma valorização social”. E acrescenta: “a Informática surge como um desafio novo enquanto o Inglês, como forma de recordar a língua”.
As actividades oferecidas pelas Universidades para a Terceira Idade (UTI) são variadas. Um anúncio, entre os muitos disponiveis, sintetiza o conceito: “Se já não tem idade para trabalhar e não quer estar em casa sem fazer nada, pode ocupar o seu tempo e aprender diversas actividades desde teatro, bordados, música ou mesmo disciplinas como Antropologia, Literatura Portuguesa, Marketing ou Informática”.
As UTI’s são um modelo de formação de adultos, com grande sucesso a nível mundial, que lhes proporciona um enorme leque de actividades culturais, recreativas, científicas e de aprendizagem. Reforça os laços de amizade e pressupõe a captação e o desenvolvimento de novos conhecimentos. E, acima de tudo, permitem trocar conhecimentos adquiridos ao longo da vida.
Armindo Lopes, antigo empregado de escritório, antigo oficial do exército e ex-delegado de informação médica, procurou a UTL para acabar com o stress do dia-a-dia: “Estava muito cansado, ser delegado de informação médica era muito cansativo, obrigava-me a fazer muitos quilómetros”. Armindo Lopes é dos poucos alunos que ainda não está reformado. “Estou no fundo de desemprego porque ainda não tenho idade para a reforma”, explica. Soube da existência da UTL pela esposa, que também queria frequentar a universidade, e por informações da Câmara Municipal. Sobre a universidade diz: “O ambiente de camaradagem é impressionante. Há um forte equilíbrio de mentalidades, há uma maior preocupação com a evolução”.
Já a professora de Inglês da UTL considera que estes alunos são mais exigentes e mais impacientes que a generalidade da massa estudantil. “A motivação é diferente, estes alunos estão mais motivados. Estão cá porque querem, por um lado ocupar os tempos livres, ou porque querem, por outro lado sentir-se activos”, explica. A docente acrescenta: “São pessoas diferentes com feitios diferentes o que faz com que tenha de se fazer uma gestão um tanto ao quanto complicada”. “A turma começa a criar laços de afinidades e, por isso, diminuem os níveis de desistência", conclui.
Existem, actualmente, mais de 30 UTI’s que contribuem de forma pró-activa, para ajudar os idosos a construírem um futuro melhor e mais digno, para si próprios e para os outros. O objectivo é conquistar de novo uma posição importante no seio da família e da comunidade, que é sua por direito.

Catarina Fernandes
3º Comunicação Social

Emergências nos bombeiros

O relógio marca 16H00. Começa o turno da tarde nos Bombeiros Novos de Aveiro. Ana Lopes e Fernando Nunes, já fardados, dirigem-se à sala dos Técnicos de Ambulâncias de Emergência (TAE). Ana Lopes, bombeira há cinco anos, pega nos verbetes do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) para conferir. “É a única coisa que o INEM nos paga.” O motivo radica na atribuição da ambulância do INEM à outra corporação de bombeiros de Aveiro, os Bombeiros Velhos, o Posto de Emergência Médica (PEM). Com os Bombeiros Novos, ficou a ambulância de Socorro a Náufragos.
Trim trim. Trim trim. “Bem, temos de ir. Até já.” Fernando conduz a ambulância, enquanto Ana controla os sinais sonoros. “É difícil sair do quartel, porque para além dos carros estacionados aqui em frente, na hora de saída das crianças do colégio é quase impossível a passagem da ambulância.” A juntar a essas dificuldades, soma-se a dimensão do quartel, que não é suficiente para todos os veículos da corporação, que ainda assim são poucos. “Faz-nos muita falta mais uma ambulância, pelo menos”, desabafa Fernando Nunes.
Apesar da ajuda prestada, nem sempre o estado de espírito dos bombeiros é positivo, quando regressam ao quartel. Nesta chamada, quando chegaram ao local receberam a habitual reclamação: “Pensávamos que nem vinham, demoraram tanto.” Apesar da reclamação, valeu o conhecimento da acidentada sobre o funcionamento do INEM. “Temos de ter em conta que somos os últimos a ser accionados”, diz Ana Lopes. Realidade desconhecida pela maioria dos portugueses, que pensam que quando ligam para o número de emergência médica (112) estão a ligar para os bombeiros. Quando uma pessoa telefona para o 112, a chamada é atendida por um polícia, que posteriormente a encaminha para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU). Aí, quem atende a chamada, pede à pessoa que explique a situação da vítima. Seguidamente é activada a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VEMER) e, em último lugar, a ambulância INEM. Em Aveiro, caso esta esteja ocupada, é activada a ambulância dos Bombeiros Novos, mas o tempo que leva até esta ser disponibilizada pode ser fatal para quem está à espera.
Nova emergência, nova complicação na saída da ambulância para o local. Desta vez, uma emergência mais simples e rápida. “Um cliente do costume, mas qualquer dia prega-nos um susto a sério”, diz Ana enquanto se aquece no pequeno aquecedor. Clientes do costume são bastantes, e os bombeiros até já os conhecem. Por isso mesmo, já sabem do que se trata, quando são chamados para emergências em determinados locais. “90% das chamadas de emergência que recebemos do CODU, são menos importantes do que as que recebemos directamente no quartel”, refere Ana Lopes, enquanto explica o procedimento de emergência, à primeira estagiária a acompanhar estas situações, Paula Lopes.
Outra condicionante é o local onde ocorrem as emergências. Se a ocorrência for na via pública, é quase sempre emergência, pois o facto de uma pessoa se encontrar ferida num local público, à vista de toda a sociedade, não favorece a imagem do INEM. No entanto, caso a emergência ocorra em local privado, como a casa do acidentado, condiciona as saídas, principalmente se quem estiver ao telefone não souber explicar o que se passa. Mas o mais grave mesmo, é quando os bombeiros são chamados directamente. “Estar um bombeiro no local, a telefonar ao CODU, a explicar a situação, e mesmo assim, o CODU não considerar a ocorrência como emergência”, explica Ana Lopes.
Às 21H00, acaba o turno de Fernando Nunes. Ana Lopes e Paula Lopes reclamam pelo jantar. Fernando acompanha-as até o centro comercial para que elas possam jantar acompanhadas e também para ajudar Ana nas explicações à nova estagiária. Para Fernando, o dia hoje terminou, mas as emergências continuam pela noite fora…

Andreia Pereira
3º Comunicação Social

Voltar à escola compensa

Boa noite! Vão dizendo à medida que entram na sala de aula, os alunos do curso RVCC (reconhecimento validação e certificação de competências) para adultos, integrado no projecto Novas Oportunidades.
A confusão instala-se com a distribuição dos trabalhos corrigidos pelo formador de Português.
Os formadores, profissionais que acompanham o adulto, são de instituições que aderiram a esta iniciativa do Ministério da Educação e do Ministério do Trabalho e Solidariedade.
Este curso existe desde 2000 e veio dar resposta ao baixo índice de escolarização dos Portugueses.
Olinda Eufrásio, com a 4º classe, iniciou o curso RVCC a nível do ensino básico em Outubro e diz entusiasmada: “Espero poder sentir-me realizada a nível pessoal e profissional, alargar os meus conhecimentos”.
A formação consta de trabalhos realizados em casa que puxam pela reflexão, com temas de várias áreas como a matemática e o português.
Posteriormente os trabalhos são corrigidos e distribuídos em aula, a entrega provoca um momento de silêncio, os alunos lêem as recomendações do formador, para melhorar no próximo trabalho.
No meio do frio que se faz sentir na sala, o professor continua a sua aula, os alunos mostram-se empenhados, embora sintam muitas dificuldades. “A falta de tempo, o trabalho, a família, os afazeres da casa, tornam tudo muito complicado e cansativo”, diz Olinda Eufrásio.
A exigência cresce ao longo do curso, são pedidos cada vez mais trabalhos, são realizados testes, fichas. “Está a complicar-se cada vez mais e para nós que já temos alguma idade não se tem revelado fácil”, diz, com ar de cansada, Maria Adília, aluna do ensino básico com 52 anos e o 8º ano incompleto.
Esta iniciativa para os adultos chega não só às escolas, mas também às juntas de freguesia. Vítor Nunes, vice presidente da junta de freguesia de Cernache (Coimbra) e director do curso Novas Oportunidades na escola secundária de Figueiró dos Vinhos, diz satisfeito: "O curso está a ser um êxito na nossa junta de freguesia, estão 60 pessoas inscritas, é uma capacidade de resposta para a população, o que é óptimo para o meio envolvente”.
As pessoas que frequentam o curso RVCC, esperam recuperar muitas coisas, hábitos de leitura, conhecimentos que já se encontravam esquecidos. “Este curso tem sido um remexer no meu passado e meter para o papel, usar coisas do dia a dia para aprender, como por exemplo uma simples factura” diz contente Maria Adília.
No final do curso os alunos têm de apresentar um dossiê pessoal com todos os trabalhos realizados e, ainda, apresentar ao júri de certificação, um trabalho realizado em Power Point.
Fernanda Lopes recebeu o seu certificado de 9º ano, em Março deste ano: “Este curso ajudou-me bastante no meu trabalho, sinto-me uma pessoa mais completa, mas não foi fácil conciliar os horários, só com muita força de vontade consegui terminar”.
Acabado o 9º ano e com o certificado na mão, Fernanda acrescenta: "Gostava de tirar o 12º ano, mas sei que vai ser muito mais exigente e é precisa mais disponibilidade”.
Segundo Vítor Nunes, o governo pretende até 2010 certificar meio milhão de pessoas a nível do 9º ano de escolaridade.
Este curso representa uma nova oportunidade para quem não conseguiu terminar os estudos, que sentem que vale a pena voltar a aprender, apenas com a experiência adquirida ao longo da vida.

Vânia Antunes
3º Comunicação Social

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Entre o sonho e a saudade

A emigração é uma tradição secular em Portugal. A procura de melhores condições de vida é a razão mais comum para a partida dos portugueses. Mas, muitas vezes, a ilusão transforma-se em desilusão.
“A chegada ao novo destino, a mudança de clima, a novidade do desconhecido, a nova casa, a cultura ainda desconhecida, são tudo factores ilusórios”, afirma Solange. Ela e o seu marido, Martim, fazem parte dos 28% de emigrantes permanentes no estrangeiro, segundo estatísticas do Instituto Nacional de Estatística (INE). Decidiram emigrar, pois a vida “não estava fácil”, diz, e têm dois filhos para criar. Escolheram Inglaterra como destino, por considerarem o país desenvolvido e adequado para os estudos dos filhos. Solange, de 39 anos, e Martim, de 46, ambos com a quarta classe, sonham que os filhos, Afonso e Luana, de 15 e 21 anos, “se possam formar e ser alguém na vida".
“Arranjar casa e trabalho foi fácil, as pessoas foram acolhedoras e também tinham boas referências nossas. Os patrões foram sempre sérios e prestáveis, quando necessário”, diz Martim, satisfeito. Já passaram três anos e não é o clima frio, a gastronomia, nem as diferenças culturais que preocupam o casal. “Outros valores falam mais alto”, afirma Solange, com olhar triste. Sentem a falta dos filhos. A saudade, a angústia e a preocupação, tiram o sono a estes pais. “As visitas a Portugal são frequentes, mas nunca são as suficientes”, confessa Luana, que gosta de passar férias com os pais, mas que prefere permanecer em Portugal.
Já Agonso, mudou-se para Inglaterra e, passadas algumas semanas, começou a frequentar a escola da localidade onde morava. Entrou para a equipa de futebol da cidade, chegando mesmo a ser seleccionado para representar a zona norte do país num torneio na Alemanha, e fez alguns amigos. “Inicialmente estava radiante e a adaptação foi muito positiva, novas cidades, novos estilos, nova língua, neve e tudo”, afirma, em tom de brincadeira, acrescentando: “O pior veio depois com as atitudes racistas e as perseguições”.
“Adorei o tempo que lá passei, o torneio na Alemanha, as brincadeiras, as miúda, mas não percebo porque não me deixavam em paz”, diz Afonso. As perseguições começaram na escola, tinha, por vezes, chegando mesmo a permanecer dentro da sala de aula no intervalo, com receio de alguns colegas. “Uma vez, se não fosse uma funcionária, atiravam-me de uma escada”, desabafa, com lágrimas nos olhos. “Estavam sempre a mandar-me para o meu país e a culpar-me de tudo o que acontecia. Cada dia, arranjavam um motivo novo para implicar comigo e acho que tinham inveja por eu tirar boas notas e ser bom jogador, não sei bem, não dava para perceber”, recorda.
Afonso regressou a Portugal um ano e meio depois. Não conseguiu acabar o nono ano, mas os pais optaram assim, pois preferiram que o seu filho “perdesse um ano na vida do que a vida em menos de um ano”.

Joana Martinho
3º Comunicação Social

O último porto de abrigo

O dia no lar começa bem cedo, com os pequenos-almoços a serem servidos na cama ou no refeitório, consoante a mobilidade das pessoas. Depois de “feita a higiene” a todos os utentes, alguns ficam pelo quarto, outros pelos espaços de convívio e outros aproveitam para passear.
É o caso de Manuel Maia, utente do lar da Santa Casa da Misericórdia de Vagos, que aproveita para dar o seu passeio sempre que pode. “O meu estado de saúde piorou e comecei a precisar de cuidados de saúde que sozinho não podia ter e que os meus filhos não me podiam dar”, explica.
Manuel Maia vive num lar completamente remodelado, onde o cheiro a novo se confunde com o odor característico da idade. Onde todos são como uma família, se ajudam uns aos outros e onde a fome “não bate à porta”. Diz ser muito bem tratado por todas as pessoas no lar e é com grande entusiasmo que recorda que, quando aí entrou, estava numa cadeira de rodas e hoje tem forças para andar pelo seu próprio pé. No meio do ruído da sala de convívio, comenta satisfeito: “Recebo visitas apenas de dois dos meus cinco filhos, mas aparecem cá duas a três vezes por semana”.
“Gosto muito de estar no lar porque não me sinto tão sozinho”, diz Manuel´Maia. “As condições da minha casa eram muito más e cheguei mesmo a passar fome”, afirma, com o olhar carregado de tristeza. A precariedade das habitações, o baixo rendimento, o abandono e o isolamento social são os principais problemas que afectam a vida dos idosos, mas que podem ser amenizados se estiverem num lar onde possam receber apoio físico e psicológico. Este idoso encontrou no lar muitos amigos, a sua nova casa está sempre cheia de luz e companhia nunca lhe falta.
Lígia Almeida, psicóloga no lar da Santa Casa da Misericórdia de Vagos e companheira de muitas conversas com Manuel Maia, comenta que nem todos os casos são iguais e que alguns idosos só recebem visitas “em épocas festivas e alguns quase nunca”. Os funcionários do lar tornam-se uma segunda família para os idosos que recebem deles o carinho negado pelos parentes. Segundo a psicóloga, as justificações para deixar os idosos no lar prendem-se geralmente com a necessidade de cuidados que o apoio domiciliário e a família não conseguem dar e também com a viuvez.
Lurdes Ferreira vive sozinha há cerca de 15 anos na sua casa a 1 km do lar e é no pequeno jardim em frente àquela instituição que procura companhia para algumas tardes. Tem filhos que não estão presentes e que raramente a vão visitar. É no banco do jardim, e com as lágrimas a caírem-lhe, que confessa sentir-se “muito sozinha”, dizendo já não ter capacidades para “cuidar sequer da sua higiene e da sua casa”. O lar é para esta idosa mais um motivo de inquietação, porque não consegue encontrar vagas. “Tenho procurado desesperadamente um lar aqui na região, mas não há vagas”, explica. O problema não é económico, porque as mensalidades adaptam-se ao rendimento de cada um. O que a entristece é “ter de esperar que alguém morra para poder ir para o lar”.
Este é um problema grave em Portugal. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de idosos em Portugal é superior ao número de jovens, mas faltam estabelecimentos para a terceira idade e, em alguns dos que existem, funcionam em condições deficientes.
Apenas 1 km separa fisicamente Manuel e Lurdes, mas a distância que os separa, no que respeita às condições de vida, é (ainda) intransponível. Pelo menos, até Lurdes encontrar também o seu porto de abrigo.

Joana Capucho
3º Comunicação Social

Aprender com a ESEC TV

A ESEC TV é uma estrutura de produção de vídeo e de televisão, que funciona na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) , graças ao trabalho de professores e alunos da licenciatura em Comunicação Social, mas também com a colaboração de alunos e docentes de outras licenciaturas. O seu funcionamento diário é assegurado por uma equipa de profissionais da área, formados na ESEC.
O projecto é coordenado por Francisco Amaral, professor da área das Ciências da Comunicação, das Organizações e dos Media, com o apoio técnico de Luís Pato e João Ventura, profissionais na área dos audiovisuais e funcionários da ESEC. Transformar a ESEC TV num pólo de formação na área dos audiovisuais, “incontornável para quem, na ESEC, queira fazer uma formação prática, séria e de exposição pública” é um dos principais objectivos do coordenador, Francisco Amaral, que tem “aberto as portas” da produtora aos alunos, proporcionando-lhes uma interacção pedagógica e real com o meio no qual, mais tarde, poderão vir a trabalhar.
Ao participar activamente na ESEC TV, os alunos têm a oportunidade de executar um produto real e não a sua simulação. Francisco Amaral acredita que “todos os alunos de Comunicação Social vão sair da Escola com a prática que as empresas sentem que não têm obrigação de lhes dar” e realça que, “conforme as capacidades de cada um, todos devem estar prontos a desempenhar funções nas empresas, e mesmo nas empresas que venham a ser por eles criadas”.
Para além desta vertente pedagógica, a ESEC TV produz para dois fins distintos: programas de televisão (RTP-2) e outros trabalhos em suportes multi-plataforma. Actualmente, produz um programa semanal de 30 minutos que se apresenta como um magazine cultural que aborda várias actividades e eventos desenvolvidos no Instituto Politécnico de Coimbra na ESEC e na cidade de Coimbra. É transmitido no Espaço Universidades, da RTP2.
Com esta janela aberta para o mundo exterior, a ESEC TV tem como principal preocupação colocar a cidade de Coimbra na pauta da agenda cultural de Portugal e mostrar a sua dinâmica artística, pois, em geral, quase só Lisboa e Porto têm visibilidade nos media.
Para Carina Esteves, produtora da ESEC TV, a cidade de Coimbra não tem “muita expressão nos media”, o que faz com que este magazine semanal seja muito bem aceite entre o público local. Este programa dá também a conhecer as actividades do Instituto Politécnico de Coimbra, principalmente aquelas organizadas pelos alunos.
Carina Esteves sintetiza a essência do projecto: a ESEC TV é, “ para além de um pólo de formação pedagógica para todos os alunos da ESEC, uma produtora, que produz jornalismo cultural” e que tem “oportunidade de o difundir através do seu magazine, todas as quartas-feiras de madrugada, na RTP2”.

Carolina Névoa
3º Comunicação Social

Amarelo-Azul

Na origem de um número cada vez maior de bebés proveta e da crescente inseminação artificial, destaca-se Robert Clark Graham, um milionário americano que se dedicou à engenharia genética e que já criou mais de 200 crianças: bebés em tubos de ensaio, cuja etiqueta tinha, apenas, escrito “Amarelo-Azul”.
Para a criação destes bebés existem algumas regras: os dadores de sémen não podem ter quaisquer fraquezas genéticas, não podem ter mais de 40 anos, não podem gerar mais de 20 filhos e, acima de tudo, e condição indispensável, deverão ter um Quociente de Inteligência (QI) de pelo menos 120 (mais 30 pontos do que a média). As mães têm de estar casadas com homens financeiramente bem sucedidos e que não possam ter filhos biológicos e têm de ter, também, um QI elevado.
O objectivo de Graham é melhorar a raça humana e não degradá-la. Será preciso tudo isto para a melhorar? Não deveria isso partir das próprias pessoas? Não será com pessoas como o Dr. Graham que a humanidade se degrada, querendo sempre mais e melhor do que aquilo que pode realmente ter? Por que ficará excluída deste tratamento uma pessoa que possua 119 de QI? Não valerá o mesmo que as outras apenas com mais um ponto?
O Dr. Graham assegura que são dadas as devidas oportunidades às crianças “de marca” para aproveitarem plenamente todo o potencial que têm e virem a ser pessoas importantes para a humanidade. E porque não dar as mesmas oportunidades a outras crianças “normais”? Se as “de marca” já são inteligentes ao ponto de aos 9 meses já andarem, aos 2 anos dominarem o computador e aos 5 lerem Shakespeare, poderiam dar-se essas tais oportunidades a outras crianças não tão inteligentes.
Esta história não lhe lembrará uma outra? Existe um inegável paralelismo entre gerar crianças super inteligentes e o sonho de um senhor chamado Hitler – que de senhor tinha muito pouco – de criar uma raça ariana superior. Não deveriam as oportunidades de crescimento e de desenvolvimento ser iguais para todos? Não só os homens e mulheres com elevado grau de inteligência deveriam trabalhar com este médico, assim como também os outros “menos dotados”? Se é para melhorar a raça humana, não estamos no caminho certo...
Sendo os bebés fruto e resultado de algo denominado “Amarelo-Azul” não sairão um pouco “verdes”? Talvez seja dessa côr a mentalidade deste brilhante cientista que deve amadurecer as suas ideias éticas…

Analisa Lucas
3º Comunicação Social

Usar sem abusar

É usual falar-se na dependência do tabaco, do álcool e das drogas , mas a dependência de determinados medicamentos já começa a ser encarada como um problema grave e muito sério na sociedade.
Os antidepressivos e os ansiolíticos, embora muitas vezes receitados para sintomas comuns e de resolução simples, tornaram-se na única solução para a chamada “doença da moda” – o stress.
Diana Oliveira, estudante, diz que começou a tomar antidepressivos porque tinha ataques de pânico frequentes. Só toma este tipo de medicamentos enquanto tiver acompanhamento psiquiátrico, até aprender a controlar os ataques sozinha.
A acção dos antidepressivos ocorre no Sistema Nervoso Central, normalizando o humor, mas só actuam em pessoas com depressão. Estes fármacos são utilizados para o tratamento da depressão (perturbação do humor), do pânico (caracterizado pelo desenvolvimento de ataques inesperados) e da fobia social (medo persistente e acentuado de situações sociais). Os antidepressivos podem levar à incapacidade de conduzir, ao risco de hipertensão arterial e a reacções paradoxais mais evidentes em idosos e crianças.
Receitados, usualmente, em simultâneo com os antidepressivos, os ansiolíticos são usados no combate da ansiedade patológica, visando tranquilizar o doente. Estes medicamentos tentam minimizar os sintomas de stress. São um perigo quando administrados incorrectamente. O uso de ansiolíticos pode provocar algumas reacções adversas, como sonolência, vómitos, dependência e vertigens.
Filipa Araújo, estudante de psicologia, reconhece que tomou ansiolíticos para conseguir controlar a ansiedade que sentia perante situações mais desfavoráveis. Esta estudante admite que quando tomava estes fármacos parecia ter um pouco mais de sonolência. Agora, já não os toma, porque aprendeu a controlar a sua ansiedade.
Segundo a revista Farmácia Saúde, os portugueses “consomem mais antdepressivos. Em 2001, venderam-se perto de 4 milhões de embalagens, mais do dobro do que se consumiu uma década antes (1,8 milhões em 1992). E vendem-se igualmente mais ansiolíticos, hipnóticos e sedativos, bem como neurolépticos”.
A Organização Mundial de Saúde (2001) prevê que a depressão se torne a maior causa de morbilidade nas primeiras duas décadas deste século.
Na opinião de António Oliveira Reis, farmacêutico, tem existido um aumento do consumo de antidepressivos e dos ansiolíticos, o que relaciona com uma sociedade que vive em stress, e que leva muitos a criarem dependência destes medicamentos.
Segundo Isabel Paiva, sub-chefe de Enfermagem, CPRArnes, “o uso prolongado pode causar dependência e síndrome de abstinência quando a medicação é interrompida”. Outros profissionais de saúde são da opinião que, actualmente, este tipo de psicofármacos são administrados em doses excessivas e, em alguns casos, desnecessárias, podendo ser substituídos por psicoterapias.
É frequente observar-se, principalmente nos serviços de Psiquiatria, a presença de doentes completamente sedados, ao ponto de não conseguirem satisfazer as suas necessidades básicas como higiene e alimentação de forma autónoma, o que não se verificava antes do processo de tratamento.
Fazendo uma analogia, a utilização dos psicofármacos deve funcionar como o corrimão, onde a pessoa se apoia para ter equilíbrio suficiente para subir uma escada muito alta. Logo que adquira a ritmo de subida, pode deixar o corrimão e continuar a subir sozinha. Este corrimão apenas dá sustentação, mas o esforço principal deve ser do doente. Neste processo a motivação e auto-estima são aspectos cruciais.

Sara Santos
3º Comunicação Social

Reabilitação ritmada

São 15H00. A Sala do Papel, no Pavilhão das Actividades, está toda decorada com trabalhos artesanais. A música natalícia vinda de um pequeno rádio torna o ambiente calmo e acolhedor. Cátia Curado, psicóloga, sentada em redor de uma mesa, elabora cartões de Natal com a ajuda de oito homens que recortam estrelas. À primeira vista ninguém diria que são oito dos cerca de 150 utentes que o Centro Psiquiátrico de Recuperação de Arnes (CPRArnes) alberga. Nas salas ao lado vêem-se garrafões encestados, caixas montadas, convites de casamento, ementas, … uma pluralidade de trabalhos manuais que conta com lugar reservado em várias feiras de artesanato.
É na confecção destes artigos, encomendados por entidades do exterior em grandes quantias, que os doentes do CPRArnes ocupam algum do se tempo. Segundo a coordenadora do Serviço Social da Instituição, Argentina Sobral, “a ocupação tem o fim de manter o doente activo, para que não haja perda de competências pessoais e laborais”.
Ao lado do Pavilhão das Actividades avista-se a Carpintaria. A música natalícia envolve também este ambiente. Entre madeiras e serrotes, João Basílio, carpinteiro credenciado, auxilia um utente no acabamento de um quadro de colmeias que se será colocado junto das outras dezenas já confeccionadas.
Dalí, ouve-se um som vindo da rua. É um tractor. Um funcionário prepara um dos poucos terrenos ainda em pousio. A restante área, de grandes proporções, já foi laborada pelos utentes. Os produtos de agricultura biológica ali cultivados destinam-se ao abastecimento de várias entidades de restauração.
Por desenvolverem estas actividades, os utentes recebem uma pequena remuneração monetária. Segundo Cátia Curado, factores como o comportamento, a assiduidade e a pontualidade interferem na quantia do pagamento que se destina a financiar alguns mimos, como um café ou um bolo.
Ainda na área das actividades, existe a residencial que complementa a vertente da autonomia pessoal. “Os doentes são encaminhados para a unidade habitacional, onde tomam conta de si próprios com o mínimo de supervisão, tendo um programa de actividades que visa aperfeiçoar as suas competências a todos os níveis”, esclarece o responsável clínico pelo Centro e psiquiatra, António Canhão.
No percurso que separa a residência dos restantes pavilhões respira-se ar puro. Há utentes a cuidar do jardim. Além da paisagem verde, do pomar das estufas, existe um campo de futebol onde, duas vezes por semana, os doentes têm aulas de Educação Física.
O relógio de Fátima Monteiro, auxiliar, marca 16H00. Cabe-lhe supervisionar as tarefas dos residentes, assim como a higiene pessoal ou a toma da medicação. O dia de labuta já terminou para João (nome fictício), que regressa à residência e trata da sua higiene pessoal. Um cheiro agradável caracteriza a sala do rés-do-chão, destinado ao centro de dia, onde Rui (nome fictício) espera a carrinha que o conduzirá até à estação de comboio, para regressar a casa. É um dos utentes externos que frequentam o centro das 9H00 às 16H20.
As escadas que partem da sala conduzem ao 1º andar, onde habitam os doentes internos. No quadro de cortiça pregado numa parede do corredor, estão afixadas várias listas de tarefas a realizar pelos utentes. No terraço, José (nome fictício) apanha a sua roupa do estendal. Lavou-a, estendeu-a e agora recolhe-a para a engomar. É o que todos os utentes fazem com o seu vestuário.
Enquanto Fátima Monteiro efectua algumas tarefas, é surpreendida por um utente que lhe dedica uma canção, ritmada com palmas. O ambiente em Arnes é animado. O fundamental, como diz Argentina Sobral, é “acreditar na reabilitação e apostar no apoio permanente”, pois só assim as taxas de sucesso continuarão a ser “altíssimas”.

Diana Andrade
3º Comunicação Social

Uma porta sempre aberta

A recepção é pequena para tanta gente. Há pessoas à espera na rua, outras aguardam pacientemente nos cafés do Terreiro da Erva. Entram com sacos vazios, saem com sacos cheios. Um homem na casa dos cinquenta, enrugado pelo tempo ou pela vida, pede à funcionária um blusão quente para o Inverno. “Agora não há”. Mas a funcionária promete : “Se para a semana vier algum, fica guardado para si”. É dia de distribuição no Centro Porta Amiga de Coimbra.
“Como filosofia, a população primeira com a qual trabalhamos é a sem-abrigo”, explica Paulo Pereira, assistente social e Coordenador do Centro Porta Amiga de Coimbra da AMI. Mas nem todos os utentes da Porta Amiga representam a face extrema da exclusão social. Os que hoje aguardam na recepção não são disso exemplo. Paulo Pereira salienta : “Atendemos toda e qualquer pessoa que se encontre numa situação de carência”.
Muitos daqueles que procuram esta ajuda estão marcados pela dureza da vida, por uma «pobreza tradicional», classifica o coordenador. Mas esta situação já não é regra. Actualmente, a maioria das pessoas que recorre ao centro já não faz parte da «pobreza e exclusão tradicionais». São pessoas como nós. «Novos pobres». Agora, todas as lógicas de intervenção social têm de ser readaptadas.
Raquel faz parte desta «nova classe». Entra cheia de pressa. Só pôde vir agora, teve de faltar às aulas do curso. Mostra a identificação e assina uma folha na recepção. Uma funcionária traz-lhe três caixas cheias. Vem buscar a parte de géneros alimentares a que tem direito esta semana.
No dia em que Raquel chegou à Porta Amiga em Coimbra, tal como todos os outros utentes, foi recebida por uma assistente social. Paulo Pereira deixa a questão: “E se um dia fôssemos nós a viver na rua, será que nos saberíamos mexer dentro dessa subcultura?”. A ilustração na nossa mente pretende que cheguemos à mesma conclusão que o coordenador: “Pedir pela primeira vez é sempre muito complicado”. A ajuda é prestada consoante as necessidades de cada um. O coordenador explica: “O centro assenta em duas lógicas de apoio: intervenção às necessidades básicas e serviços de apoio social, médico e jurídico”. Cada utente possui um processo onde é feita a listagem de todos os serviços dos quais vai usufruir.
Há pouco, muitos destes utentes acabaram de almoçar. O refeitório é pequeno, com uma capacidade que ronda as doze pessoas. É o “Restaurante do Coração”, um dos serviços que proporciona uma das necessidades mais básicas: alimentação. Mas só funciona ao almoço. De resto, o centro vai fornecendo géneros alimentares “conforme a necessidade”. Mas isso só serve àqueles que podem cozinhar em casa.
Não é o caso daqueles que fizeram da rua a sua morada. De dia, andam por aí alienados. Nós, sociedade, temos tendência para não os ver. “É a cegueira louca das pessoas”, define o assistente social, “é talvez o medo de um futuro”. Nas noites de Coimbra, oito instituições trabalham articuladamente na intervenção social com os sem-abrigo. “Há uma equipa de rua que todas as noites passa pelos locais onde eles estão, tenta motivá-los para a mudança, para aceitarem alojamento”, explica Paulo Pereira: “É o trabalho que não mostra resultados tão rapidamente”.
Estes «pequenos-grandes» trabalhos deveriam ser sempre recompensados. Mas nem sempre é assim. “Vai-se conseguindo alguma melhoria das condições de vida, alguma reinserção social”, afirma o coordenador, “mas, infelizmente, muitas das vezes, as pessoas voltam à situação inicial, não conseguem estar ao nível da normalidade imposta pela pressão social”.
Na recepção, entra agora um rapaz novo que aguardava na rua. Apenas quer confirmar a sua presença na Festa de Natal. É o próximo «pequeno-grande» evento realizado pela AMI. Um lanche no apertado refeitório do centro, com prendas para as crianças e cabazes de comida e roupa para os adultos.
Enquanto o rapaz dá o seu nome para a lista de presenças na festa, uma senhora abre a porta e pousa um saco cheio de roupa. Ao virar costas fica somente um “Feliz Natal”. A funcionária abre o saco. Mexe, remexe. Encontra um blusão, quente para o Inverno. Ainda na recepção, o homem marcado pela dureza do tempo ou da vida, reclama “Esse não, não é quente o suficiente”. O outro continua então prometido. Para a semana.
Já tem o seu saco na mão. Cheio. Hoje, nada mais há a fazer ali. “Venho então cá para a semana”, despede-se. E sai. Para trás dele, fica uma recepção ainda cheia com pessoas de sacos vazios que esperam a sua vez. E nas suas costas bate a porta onde se pode ler «A AMI enfrenta um Mundo que mais ninguém quer ver». Cegueira louca.

Vânia Furet
3º Comunicação Social

Amor gratuito

Os últimos raios de sol apontam para os singelos desenhos pendurados na parede. A sala de estar enche-se de luz e ilumina ainda mais as obras expostas dos “artistas de palmo e meio”. Entretanto, a Madre Maria Teresa Granado sorri, dizendo: “Deve estar mesmo a chegar, correu tudo bem de certeza…corre sempre!”. Passados poucos minutos irrompe pela sala uma menina saltitante e com um sorriso do tamanho do mundo. Inês (nome fictício) é uma das crianças da Comunidade Juvenil São Francisco de Assis que têm uma “Família Amiga” e acaba de chegar a “casa”, no final do fim-de-semana. “Foi fixe, fartei-me de passear” conta à Madre, sem nunca largar o sorriso.
As “Famílias Amigas” “apadrinham” uma, ou mais, crianças de uma instituição, indo “buscá-las para passarem fins-de-semana ou férias”, explica a Madre Teresa, directora da Comunidade Juvenil São Francisco de Assis. “Estas famílias têm que ser muito bem escolhidas e têm de ter consciência da responsabilidade que lhes é posta nas mãos”, sublinha. O processo começa no momento em que uma família decide acolher uma criança em sua casa. A partir desse instante recolhem-se “os dados habituais, ou seja, os números do BI, morada, profissão, entre outros”, conta a Madre Teresa. O processo de escolha das “Famílias Amigas” varia de instituição para instituição. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, por exemplo, exige que as famílias passem por uma entrevista e, posteriormente, se escolhidas, por uma formação. Existem, ainda, instituições que não são a favor destes projectos.
Consciências
“Este género de actividades só aumenta a instabilidade emocional das crianças” diz Margarida Pinhal, psicóloga da “Obra da Criança”, de Ílhavo. Esta instituição, que acolhe cerca de 30 crianças e jovens, é contra este tipo de programas. Segundo a psicóloga, “não é saudável mostrar às crianças uma realidade que não é a delas, isso causa traumas enormes”. A “Obra da Criança” teve, durante alguns anos, o projecto “Família Amiga”, contudo, explica Margarida Pinhal: “Chegámos à conclusão que a estabilidade emocional das crianças era muito afectada".
A opinião em relação a este género de projectos não é unânime no seio das instituições de solidariedade infantil. Exemplo disso é a “Comunidade Juvenil São Francisco de Assis”, em Coimbra. Para a directora da instituição, a Madre Maria Teresa Granado, estes projectos são de “grande valor porque é óptimo para as crianças puderem contactar com estas famílias”. A partir da convivência com as famílias que as acolhem, as crianças vêem como funciona uma família (com mãe, pai e filhos). Ao mesmo tempo que ganham esta noção, que lhes será útil quando, no futuro, constituírem família, apercebem-se de que as regras que lhes são impostas na instituição "são as mesmas que os pais impõem aos seus próprios filhos”, esclarece a directora.
Se em instituições, como a “Comunidade São Francisco de Assis”, cada família acolhe sempre a mesma criança, o mesmo não acontece em outras que têm este projecto. No Centro Paroquial e Social de Recardães, em Águeda, “cada criança tem 2 ou 3 famílias com quem costuma ir passar apenas os domingos”, diz Maria Gabriela, coordenadora do projecto. “É essencial garantir que as crianças não se pegam demasiado às famílias”, acrescenta.
A Família Amiga
João Carvalho, Maria do Céu e a filha Joana, constituem uma família que acolhe, há mais de dez anos, aos fins-de-semana, crianças do Centro Paroquial e Social de Recardães. Tudo começou porque “a Joana, quando acabou o curso de Serviço Social, esteve a estagiar no Centro e, como tinha muita pena das crianças, começou a trazer algumas cá para casa”, conta a mãe, Maria do Céu. O domingo é passado verdadeiramente em “família” e levam as crianças a passear e a contactar com a natureza porque “elas adoram”, dizem. Esta família descreve a experiência como “maravilhosa”. Mas “na hora da despedida é um sofrimento horrível, tanto para nós como para eles”, deixa escapar João Carvalho.

Salomé Filipe
3º Comunicação Social

Um ofício de paixão

Toda a gente passa. Todos olham. Ninguém compra. Mas o entusiasmo e a dedicação acompanham sempre o trabalho na Praça do Comércio. Um trabalho árduo, com paciência e perfeccionismo, sempre um ofício de paixão. De qualquer canto do mundo, de qualquer país, de um lugar desconhecido, eles vivem para a sua arte. São artistas de rua.
“Os meus retratos são desenhados a lápis de carvão ou a óleo sobre tela ou a pastel”, explica Anildo Santana. É alto e moreno. A sua roupa está manchada com diversos tons devido aos seus trabalhos secundários que são feitos com aguarela. Não se incomoda que alguém esteja a falar com ele enquanto trabalha desde que não tenha que olhar nos olhos: “Não posso me distrair, tenho muitos retratos para terminar”. Adora apresentar a sua arte na rua. Não estar fechado num ateliê e não pagar renda e, acima de tudo, “o contacto com o público ”. É assim que Anildo justifica a opção por trabalhar na rua.
Mesmo sendo uma tarde de Inverno, a Baixa de Coimbra está repleta de movimento. O sol convida as pessoas a passearem pelas ruas frias e cinzentas, a fazerem as suas compras de Natal, no entanto, poucas são as que compram presentes nas tendas dos denominados artistas de rua. Lurdes Santos monta a sua tenda apenas nesta época, durante duas semanas. Aqui, pode vender directamente ao cliente final e, assim, pedir um preço minimamente justo pelas suas peças.
A artesã considera o contacto com o público “pobre”, mas há sempre pessoas que admiram, enquanto outras optam por não se manifestar relativamente ao seu trabalho e aos dos seus “vizinhos” da praça. Essencialmente, aprende-se a lidar com todo o tipo de pessoas. Diz Marcelo Andrade, também artesão: “Vai-se adquirindo alguma experiência de vida e até aprendo a falar outras línguas”.
Oriundo das terras do Brasil, foi em Portugal que descobriu que as suas mãos eram capazes de manusear a semente da flor de jacarandá: "Quando cheguei a Portugal não tinha qualquer tipo de formação e, um dia, ao passear na Praça da República encontrei uma folha de jacarandá que despertou a minha criatividade”. Consegue criar bijutaria única e original, pois esta folha originária do Brasil é fruto da natureza e esta nunca se repete. Sendo uma forma de reciclagem, aproveita o que a natureza lhe dá.
O movimento é constante. Não há nenhuma mudança visível. A procura de peças exclusivas é escassa. Os mais curiosos, homens e mulheres, observam e comentam os trabalhos expostos nas tendas improvisadas. Perguntam aos artistas como é feito aquele tipo de trabalho:” Isto tudo é feito por si?”. Mas continuam o seu caminho sem comprarem nada.
Para criar peças diferentes com frequência é necessária inspiração. Uns dizem que a inspiração vem da “alma”, outros que vem da “falta de dinheiro” e há quem defenda que, quando há “paixão pela arte e dá prazer”, trabalha-se em qualquer lugar.
Os artistas de rua criam, inventam, transpiram arte, ou seja, tudo o que está para venda nas suas tendas são resultado da sua criatividade e inspiração. Seja uma tarde fria de Inverno ou uma tarde quente de Verão, as mentes inquietas destes "dotados com alguma coisa", não param. “Criação” é a palavra de ordem.


Daniela Couto
3º Comunicação Social

Europa sem fronteiras

A Europa está de portas abertas. São cada vez mais os jovens que se aventuram a descobrir novos países. O desejo de partilha de experiências e o conhecimento de novas culturas são duas fortes razões que incentivam jovens de toda a Europa a realizar a mobilidade Erasmus.
O protocolo Erasmus é um programa de mobilidade de estudantes do Ensino Superior entre estados membros da União Europeia. Permite que os alunos estudem noutro país por um período de 3, 6 e 12 meses. Os estudantes, dentro das universidades europeias que têm acordo Erasmus com a universidade que frequentam, podem escolher a instituição que lhes agrada mais.
Apesar da tarde de sol, sente-se o frio e corre um vento húmido vindo do rio Mondego, em Coimbra. “Não compreendo”, responde timidamente e com um sotaque italiano, Davide Russo, ao empregado do café onde está sentado, quando este lhe pergunta: “o que deseja tomar?”.
David Russo de 22 anos, trocou Florença por Coimbra há mais de três meses. Morava e estudava em Florença na Universitá degli Studi di Firenze, no 2º ano do curso de Estudos Internacionais. Chegou a Portugal em Setembro e escolheu estudar na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
“Realizar a mobilidade Erasmus era algo que não estava nos meus planos”, confessa Davide. Decidiu iniciar esta aventura depois de conhecer estudantes Erasmus portugueses que integraram a sua turma enquanto estudava na cidade italiana, “percebi que o contacto com outras culturas e pessoas, contribuem muito para a nossa evolução social e cultural”.
Chegou a Portugal sozinho, com “armas e bagagens”. Confessa ter sentido medo de não se integrar num país, para ele totalmente desconhecido. Os dias passaram, o medo desapareceu e admite agora, estar perfeitamente integrado na sociedade portuguesa. “Conheci pessoas novas incluindo outros estudantes Erasmus italianos e agora adoro esta cidade, as pessoas são muito simpáticas”, revela Davide.
Coimbra é conhecida, em Portugal, como a cidade dos estudantes e também considerada uma das que melhor integra os estudantes Erasmus. Davide é um dos 530 estudantes Erasmus nesta cidade portuguesa e a Universidade de Coimbra conta com 340 acordos entre universidades e instituições públicas e privadas por toda a União Europeia. Frequentemente são organizadas festas de Erasmus, na qual pode participar qualquer pessoa (mesmo não sendo estudante ou Erasmus). O importante é “a partilha de culturas e experiências”, esclarece Davide, num português ainda confuso. Com espanto, recorda ter encontrado numa dessas festas, alguns dos portugueses Erasmus que conheceu em Florença.
Escolheu Portugal, por ser um país quente e principalmente, por ter curiosidade em conhecer a cultura portuguesa. A escolha da cidade de Coimbra também não foi ao acaso. Colegas de turma, em Florença, que já tinham realizado esta mobilidade, descreveram as suas vivências pela “cidade dos estudantes portuguesa” como uma “experiência única” e “muito produtiva a nível social e educacional”.
Quanto ao ensino português, Davide, considera-o “acessível”. As disciplinas que escolheu realizar na Faculdade de Letras são semelhantes ás que realizou em Itália, mostrando-se por isso optimista em relação ao seu aproveitamento escolar neste ano lectivo.
Veio para ficar durante seis meses mas, pensa agora em prolongar o prazo da sua matrícula em Portugal, “já contactei os serviços administrativos da minha universidade em Florença, para saber se é possível ficar em Coimbra mais um semestre”. Está a adorar esta nova experiência. Ambiciona repetir a mobilidade Erasmus antes de finalizar o curso. Caso isso não seja possível, promete voltar em breve para rever os amigos, com os quais garante ter “traçado grandes laços de amizade”.

Cláudia Ferreiro
3º Comunicação Social

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Mancha sem nódoa

Dizem os adeptos mais emotivos que ser da Académica é ter paixão. É gritar, lutar, apoiar, enrouquecer, incentivar, ir, estar, defender, acreditar, resistir, crer, rir e chorar. O preto que os une na bandeira, nas camisolas, na capa e na batina é o mesmo que os irmana sob o historial do clube, com os seus valores, os princípios e ideais.
A Mancha Negra surgiu da fusão de três claques, Força Negra, Maré Negra e Solum Power. Nasceu no dia 3 de Março de 1985, num jogo entre a Académica e o Sporting de Braga. A claque decidiu usar o nome de uma das personagens de Walt Disney, o vilão Mancha Negra e, ao contrário do que o nome indica, dá sempre um colorido aos estádios onde se apresenta. Desde cedo que os objectivos do grupo passaram por estabelecer amizades com outras claques, por “torcer” pela Académica e por contribuir para o desenvolvimento do espírito “ultra” em Portugal.
O número de inscritos na Mancha Negra, e com a situação regularizada, tem vindo a diminuir, ficando, actualmente, pelos 1300. “Para ser sócio da Mancha Negra é necessário, antes de mais, ser-se sócio da Académica”, esclarece Bruno Dinis, antigo membro da direcção.
No contexto actual do clube, a opinião da Mancha Negra é ouvida regularmente, quer pelas sucessivas direcções da “Briosa”, quer pela comunicação social da zona centro do país.
Desde a sua fundação, a “MN” nunca deixou de apoiar a Académica e assume-se “100% Briosa” e conta com o apoio da direcção do clube. Actualmente, a claque está organizada por núcleos que representam as várias zonas da cidade, cujos chefes, asseguram que a informação chega rapidamente a todos os membros.
Muitos olham de lado para as claques, talvez por apenas as associarem a episódios de violência. Ao longo dos tempos, a Mancha Negra foi evoluindo em termos de mentalidade e conseguiu, apesar da presença, de muitos anos, da Académica na segunda divisão, criar fortes raízes que hoje em dia sustentam a claque. Luís Carvalho, membro do núcleo de S. Martinho do Bispo e adepto incondicional da Briosa, reforça essa ideia: “A MN é, acima de tudo, um grande grupo de amigos”. A Mancha Negra encontra-se neste momento bem preparada para receber novos elementos, na certeza de que a mensagem passará correctamente a quem chega e de que todos ficarão imbuídos do verdadeiro espírito “ultra”.
Organização é algo em que nunca foi forte. No entanto, tem-se mudado gradualmente esta forma de estar da claque e, aos poucos, a organização tem vindo a impor-se. A criação da revista Central B é exemplo disso. Funciona como veículo de transmissão das ideias dos adeptos da Académica em geral e dos “manchas” em particular. A claque criou também o seu sítio na web (www.manchanegra85.com) com o intuito de estar mais próxima das pessoas, nomeadamente dos seus membros. “É uma forma de apresentar às pessoas a sua história, as suas actividades e as suas aventuras em cada viagem”, esclarece Bruno Dinis.
A Mancha Negra tem sido uma claque muito activa e atenta aos problemas da Académica. Deste modo, os membros da Mancha não se inibem de fazer passar a sua mensagem, quer participando nas assembleias de sócios do clube, quer no estádio, lugar de eleição para a actuação da claque.
Para os elementos da MN, o espectáculo das bancadas não se restringe somente aos cânticos de incentivo à equipa e afirmam que as coreografias são uma espécie de arte. Para Luís Carvalho, esta é uma forma de demonstrar o seu amor pela “Briosa” e pela cidade de Coimbra. “Um dia, até fiz uma bandeira com 15 metros quadrados”, conta cheio de orgulho. A “arte” exibida nas bancadas reflecte um trabalho árduo, levado a cabo durante semanas por alguns “ultras”. “O prazer de assistir ao resultado desse trabalho, de saber que a coreografia teve o efeito desejado é comparável, muitas vezes, ao sabor das vitórias da Briosa”, afirma Luís Carvalho.
A vida da claque não passa apenas pelo futebol. As actividades paralelas são uma constante. O convívio na sede, a realização de “patuscadas” e grandes jantares, os jogos de futsal entre os elementos e outras actividades lúdicas são parte integrante do dia-a-dia da Mancha Negra.
Apesar de, por vezes, o clube não lhes dar tantas alegrias com desejariam, os “manchas” continuam a apoiar incondicionalmente a Briosa. Bruno Dinis remata: “é uma claque diferente, num clube diferente. Não nos cansamos de dizer que se ela jogasse no céu, morreríamos para a ver jogar”. Grupo 2

 

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