sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Condenados à morte

São dezenas os animais abandonados numa estrada que atravessa a floresta entre as praias de Esmoriz e do Furadouro. Um lugar sem casas, longe dos olhares de reprovação e que dificulta o regresso dos animais aos “seus” lares.
Romeira, professor de Educação Física, residente em Esmoriz, é a esperança destes animais que imploram carinho, um tecto e alimento para sobreviver.
Desde muito novo que Romeira dedica o seu tempo a ajudar animais, uma paixão nascida com ele e fomentada pelos pais: “A sensibilidade e carinho que se tem pelos animais é algo que vem da educação e que deve ser adquirido desde pequenino”.
Foi já após ter feito 50 anos que se apercebeu do que acontecia na “estrada da mata”. Como tinha uma loja no Furadouro, passava por aí todos os dias e apercebeu-se que muitos eram os que iam propositadamente "despejar animais”. “Vi montanhas de episódios lamentáveis naquela floresta”, diz, com mágoa.
O local em questão alberga uma lixeira. “Tudo o que ali cai não dura, neste momento, 2 ou 3 meses. Assisti à morte de uma matilha de 22 cães com tosse esgana, menos o chefe do grupo que trouxe comigo e que já devia ter anticorpos”, conta, com tristeza.
Também a mão humana é um factor de perigo para estes animais sem dono. Na floresta, estão sujeitos a caçadores. “Os humanos atiram a tudo”, explica, acrescentando que outra ameaça são as bolas envenenadas usadas para apanhar raposas: “Com o veneno, caem para o lado e não é danificada a pele”. O resto, tem o mesmo destino: “Vai, vai pássaros, vai cães, vai gatos, vai tudo…”, resume. E há quem passe de carro e se divirta a "fazer pontaria" a cães e gatos. Conta Romeira:"Já vi um indivíduo a atropelar três cães, um de cada vez".
Desde essa altura, passa diariamente pela mata. Desloca-se de Esmoriz até ao Furadouro para alimentar cães e gatos que têm a floresta como casa: “Meto comida em 31 sítios todos os dias”, “mas há uma grande concorrência e, este ano, um aumento muito grande de raposas, que também comem”. Os animais já o reconhecem: “Todos ele conhecem a minha carrinha, conhece o gato, o cão e algumas raposas, posso vir a 500 metros que eles conseguem perfeitamente associar que eu venho ali.”
Alimenta actualmente cerca de 100 animais, cães e gatos, algumas dezenas dos quais em sua casa. “Gatos há um monte deles”, diz o professor, que identificou perto de 40 no início de Novembro de 2007. “Mas agora o Inverno está muito rigoroso e não vejo mais do que 20”, diz, lamentando não ver quatro dos seus melhores amigos há uma semana: “Chamo, chamo, chamo e não aparecem”.
O facto de alimentar todos os animais abandonados na estrada da mata tem-lhe trazido alguns problemas com as autoridades. “Um agente da Polícia Florestal ameaçou-me de prisão porque não podia pôr comida aos bichos abandonados”, refere, indignando-se com essa preocupação com a sua “obra de caridade”.
Romeira tem consciência que a lei proíbe a colocação de comida na via pública para alimentar animais vadios. Defende-se dizendo que também, por lei, é proibido abandonar animais: “Só faço isto porque o outro lado não é respeitado e é muito menos grave meter um bocadinho de comida ao pé de uma árvore”.

Filipa Fragoso
3º Comunicação Social





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