Manuel Branco, nasceu em Espinho há 55 anos. É ali que reside, mas corre as regiões norte e centro com a sua banca ambulante. Onde haja jogo de Porto, Benfica ou Sporting - a ordem não é arbitrária - ele lá está. A venda é ´desportivamente´ diversificada: Cachecóis dos mais diversos clubes, com destaque para os três “grandes” do futebol luso, assim com camisolas, bandeiras, gorros, pequenos galhardetes, pins e até isqueiros.
Sábado, 24 de Novembro. O Académica-Benfica promete noite de enchente e boas perspectivas para o negócio. O espinhense não falta. O seu ´estabelecimento´ está montado junto à Igreja de S. José, a poucos metros do Estádio Cidade de Coimbra.
Faltam mais de duas horas para o apito inicial no desafio de mais uma jornada do campeonato. O corrupio já é grande em redor do recinto.
“Prá bola há sempre dinheiro!”, constata o nortenho, habituado a grandes movimentos. “Olhe, quando o meu Porto joga, é lá à porta do estádio que faço negócio. E quando são os jogos do Benfica ou do Sporting aqui para cima também não falho. Umas vezes vendo mais outras menos, mas vai dando”, confessa.
Menos sorte parecem ter as ´roulottes´ das farturas e dos cachorros e bifanas. Estão quase às moscas. A noite começa com muito frio e os adeptos preferem lugares mais resguardados para aconchegar o estômago. Não admira por isso que o sector da restauração do centro comercial paredes-meias com o estádio esteja à pinha e assim há-de estar por largos minutos. Predomina o vermelho nos adereços habituais nestas ocasiões. Os da Briosa são menos e mais contidos.
O jogo começa às nove e um quarto. Os autocarros com as equipas hão-de chegar dentro em pouco, a hora e meia do pontapé de saída. À espera dos craques, o gradeamento de segurança está lotado. Não tardam. As sirenes dos batedores da Brigada de Trânsito ´anunciam´ o Vermelhão (é assim que é conhecido o luxuoso veículo de águia estampada). O primeiro momento de entusiasmo da noite é feito de palmas, muitas palmas, e gritos, muitos, do famoso “SLB, SLB, Glorioso SLB”. Mais discreta, poucos instantes depois, a chegada do adversário. Mundos e realidades bem diferentes.
As portas do recinto ainda estão fechadas. Aproveita Maria Glória, 61 anos “feitos a semana passada”, para ganhar a noite. Os braços carregam inúmeros cachecóis, todos encarnados. Deambula por entre os adeptos, cada vez em maior número. “Olhó cachecol! É pró maior!”, vai gritando. “Isto está mau, mas a cinco euros vou vendendo. Hoje em dia o que são cinco euros?”, pergunta sem esperar resposta.
São quase oito da noite. Abrem-se as portas do estádio. Os primeiros adeptos passam os torniquetes. O Rui e a Vera chegam junto da porta 3. Ele com 30 anos, ela 26. Vieram de Cantanhede. Os cachecóis vermelhos em volta do pescoço denunciam a preferência. “Até nem me importava com um empatezito, mas o Porto não pode fugir mais”, atira ela sorridente. “Qual empate?! Ganhar e por muitos!”, contrapõe de pronto o companheiro, pouco dado a sentimentos de boa vizinhança. E lá entram para as bancadas.
À medida que os ponteiros do relógio avançam maior é a azáfama em direcção as diversas portas. Cinco autocarros chegam com as claques dos ´Diabos Vermelhos´ e ´No Names Boys´. A escolta policial impressiona. Tudo decorre sem problemas.
Junto às bilheteiras há castanha assada. “Uma dúzia, um euro”, responde o assador a cada pergunta dos que chegam chamados pelo cheiro intenso.
O estádio vai enchendo a conta-gotas. Há-de chegar aos 16 mil espectadores, dois terços a torcer pelo clube visitante. O Benfica sofre mas termina a ganhar 3-1. É a festa vermelha nas bancadas. Bandeiras ao alto, cachecóis erguidos. O ´povo´ está feliz.
Uma hora depois do encontro acabar ainda algumas dezenas de adeptos esperam a saída dos jogadores para o autocarro. Gritam por eles. Simpáticos, alguns lá acedem a um autógrafo aqui, uma foto ali.
É quase meia-noite. Há muito que Manuel Branco está de regresso a Espinho. É preciso descansar. No dia seguinte o seu Porto joga em casa...
Luís Melo
3º Comunicação Social
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
A febre (encarnada) de sábado à noite
às
11:12
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