A emigração é uma tradição secular em Portugal. A procura de melhores condições de vida é a razão mais comum para a partida dos portugueses. Mas, muitas vezes, a ilusão transforma-se em desilusão.
“A chegada ao novo destino, a mudança de clima, a novidade do desconhecido, a nova casa, a cultura ainda desconhecida, são tudo factores ilusórios”, afirma Solange. Ela e o seu marido, Martim, fazem parte dos 28% de emigrantes permanentes no estrangeiro, segundo estatísticas do Instituto Nacional de Estatística (INE). Decidiram emigrar, pois a vida “não estava fácil”, diz, e têm dois filhos para criar. Escolheram Inglaterra como destino, por considerarem o país desenvolvido e adequado para os estudos dos filhos. Solange, de 39 anos, e Martim, de 46, ambos com a quarta classe, sonham que os filhos, Afonso e Luana, de 15 e 21 anos, “se possam formar e ser alguém na vida".
“Arranjar casa e trabalho foi fácil, as pessoas foram acolhedoras e também tinham boas referências nossas. Os patrões foram sempre sérios e prestáveis, quando necessário”, diz Martim, satisfeito. Já passaram três anos e não é o clima frio, a gastronomia, nem as diferenças culturais que preocupam o casal. “Outros valores falam mais alto”, afirma Solange, com olhar triste. Sentem a falta dos filhos. A saudade, a angústia e a preocupação, tiram o sono a estes pais. “As visitas a Portugal são frequentes, mas nunca são as suficientes”, confessa Luana, que gosta de passar férias com os pais, mas que prefere permanecer em Portugal.
Já Agonso, mudou-se para Inglaterra e, passadas algumas semanas, começou a frequentar a escola da localidade onde morava. Entrou para a equipa de futebol da cidade, chegando mesmo a ser seleccionado para representar a zona norte do país num torneio na Alemanha, e fez alguns amigos. “Inicialmente estava radiante e a adaptação foi muito positiva, novas cidades, novos estilos, nova língua, neve e tudo”, afirma, em tom de brincadeira, acrescentando: “O pior veio depois com as atitudes racistas e as perseguições”.
“Adorei o tempo que lá passei, o torneio na Alemanha, as brincadeiras, as miúda, mas não percebo porque não me deixavam em paz”, diz Afonso. As perseguições começaram na escola, tinha, por vezes, chegando mesmo a permanecer dentro da sala de aula no intervalo, com receio de alguns colegas. “Uma vez, se não fosse uma funcionária, atiravam-me de uma escada”, desabafa, com lágrimas nos olhos. “Estavam sempre a mandar-me para o meu país e a culpar-me de tudo o que acontecia. Cada dia, arranjavam um motivo novo para implicar comigo e acho que tinham inveja por eu tirar boas notas e ser bom jogador, não sei bem, não dava para perceber”, recorda.
Afonso regressou a Portugal um ano e meio depois. Não conseguiu acabar o nono ano, mas os pais optaram assim, pois preferiram que o seu filho “perdesse um ano na vida do que a vida em menos de um ano”.
Joana Martinho
3º Comunicação Social
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Entre o sonho e a saudade
às
19:53
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