São 15H00. A Sala do Papel, no Pavilhão das Actividades, está toda decorada com trabalhos artesanais. A música natalícia vinda de um pequeno rádio torna o ambiente calmo e acolhedor. Cátia Curado, psicóloga, sentada em redor de uma mesa, elabora cartões de Natal com a ajuda de oito homens que recortam estrelas. À primeira vista ninguém diria que são oito dos cerca de 150 utentes que o Centro Psiquiátrico de Recuperação de Arnes (CPRArnes) alberga. Nas salas ao lado vêem-se garrafões encestados, caixas montadas, convites de casamento, ementas, … uma pluralidade de trabalhos manuais que conta com lugar reservado em várias feiras de artesanato.
É na confecção destes artigos, encomendados por entidades do exterior em grandes quantias, que os doentes do CPRArnes ocupam algum do se tempo. Segundo a coordenadora do Serviço Social da Instituição, Argentina Sobral, “a ocupação tem o fim de manter o doente activo, para que não haja perda de competências pessoais e laborais”.
Ao lado do Pavilhão das Actividades avista-se a Carpintaria. A música natalícia envolve também este ambiente. Entre madeiras e serrotes, João Basílio, carpinteiro credenciado, auxilia um utente no acabamento de um quadro de colmeias que se será colocado junto das outras dezenas já confeccionadas.
Dalí, ouve-se um som vindo da rua. É um tractor. Um funcionário prepara um dos poucos terrenos ainda em pousio. A restante área, de grandes proporções, já foi laborada pelos utentes. Os produtos de agricultura biológica ali cultivados destinam-se ao abastecimento de várias entidades de restauração.
Por desenvolverem estas actividades, os utentes recebem uma pequena remuneração monetária. Segundo Cátia Curado, factores como o comportamento, a assiduidade e a pontualidade interferem na quantia do pagamento que se destina a financiar alguns mimos, como um café ou um bolo.
Ainda na área das actividades, existe a residencial que complementa a vertente da autonomia pessoal. “Os doentes são encaminhados para a unidade habitacional, onde tomam conta de si próprios com o mínimo de supervisão, tendo um programa de actividades que visa aperfeiçoar as suas competências a todos os níveis”, esclarece o responsável clínico pelo Centro e psiquiatra, António Canhão.
No percurso que separa a residência dos restantes pavilhões respira-se ar puro. Há utentes a cuidar do jardim. Além da paisagem verde, do pomar das estufas, existe um campo de futebol onde, duas vezes por semana, os doentes têm aulas de Educação Física.
O relógio de Fátima Monteiro, auxiliar, marca 16H00. Cabe-lhe supervisionar as tarefas dos residentes, assim como a higiene pessoal ou a toma da medicação. O dia de labuta já terminou para João (nome fictício), que regressa à residência e trata da sua higiene pessoal. Um cheiro agradável caracteriza a sala do rés-do-chão, destinado ao centro de dia, onde Rui (nome fictício) espera a carrinha que o conduzirá até à estação de comboio, para regressar a casa. É um dos utentes externos que frequentam o centro das 9H00 às 16H20.
As escadas que partem da sala conduzem ao 1º andar, onde habitam os doentes internos. No quadro de cortiça pregado numa parede do corredor, estão afixadas várias listas de tarefas a realizar pelos utentes. No terraço, José (nome fictício) apanha a sua roupa do estendal. Lavou-a, estendeu-a e agora recolhe-a para a engomar. É o que todos os utentes fazem com o seu vestuário.
Enquanto Fátima Monteiro efectua algumas tarefas, é surpreendida por um utente que lhe dedica uma canção, ritmada com palmas. O ambiente em Arnes é animado. O fundamental, como diz Argentina Sobral, é “acreditar na reabilitação e apostar no apoio permanente”, pois só assim as taxas de sucesso continuarão a ser “altíssimas”.
Diana Andrade
3º Comunicação Social
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Reabilitação ritmada
às
19:09
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