quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Um ofício de paixão

Toda a gente passa. Todos olham. Ninguém compra. Mas o entusiasmo e a dedicação acompanham sempre o trabalho na Praça do Comércio. Um trabalho árduo, com paciência e perfeccionismo, sempre um ofício de paixão. De qualquer canto do mundo, de qualquer país, de um lugar desconhecido, eles vivem para a sua arte. São artistas de rua.
“Os meus retratos são desenhados a lápis de carvão ou a óleo sobre tela ou a pastel”, explica Anildo Santana. É alto e moreno. A sua roupa está manchada com diversos tons devido aos seus trabalhos secundários que são feitos com aguarela. Não se incomoda que alguém esteja a falar com ele enquanto trabalha desde que não tenha que olhar nos olhos: “Não posso me distrair, tenho muitos retratos para terminar”. Adora apresentar a sua arte na rua. Não estar fechado num ateliê e não pagar renda e, acima de tudo, “o contacto com o público ”. É assim que Anildo justifica a opção por trabalhar na rua.
Mesmo sendo uma tarde de Inverno, a Baixa de Coimbra está repleta de movimento. O sol convida as pessoas a passearem pelas ruas frias e cinzentas, a fazerem as suas compras de Natal, no entanto, poucas são as que compram presentes nas tendas dos denominados artistas de rua. Lurdes Santos monta a sua tenda apenas nesta época, durante duas semanas. Aqui, pode vender directamente ao cliente final e, assim, pedir um preço minimamente justo pelas suas peças.
A artesã considera o contacto com o público “pobre”, mas há sempre pessoas que admiram, enquanto outras optam por não se manifestar relativamente ao seu trabalho e aos dos seus “vizinhos” da praça. Essencialmente, aprende-se a lidar com todo o tipo de pessoas. Diz Marcelo Andrade, também artesão: “Vai-se adquirindo alguma experiência de vida e até aprendo a falar outras línguas”.
Oriundo das terras do Brasil, foi em Portugal que descobriu que as suas mãos eram capazes de manusear a semente da flor de jacarandá: "Quando cheguei a Portugal não tinha qualquer tipo de formação e, um dia, ao passear na Praça da República encontrei uma folha de jacarandá que despertou a minha criatividade”. Consegue criar bijutaria única e original, pois esta folha originária do Brasil é fruto da natureza e esta nunca se repete. Sendo uma forma de reciclagem, aproveita o que a natureza lhe dá.
O movimento é constante. Não há nenhuma mudança visível. A procura de peças exclusivas é escassa. Os mais curiosos, homens e mulheres, observam e comentam os trabalhos expostos nas tendas improvisadas. Perguntam aos artistas como é feito aquele tipo de trabalho:” Isto tudo é feito por si?”. Mas continuam o seu caminho sem comprarem nada.
Para criar peças diferentes com frequência é necessária inspiração. Uns dizem que a inspiração vem da “alma”, outros que vem da “falta de dinheiro” e há quem defenda que, quando há “paixão pela arte e dá prazer”, trabalha-se em qualquer lugar.
Os artistas de rua criam, inventam, transpiram arte, ou seja, tudo o que está para venda nas suas tendas são resultado da sua criatividade e inspiração. Seja uma tarde fria de Inverno ou uma tarde quente de Verão, as mentes inquietas destes "dotados com alguma coisa", não param. “Criação” é a palavra de ordem.


Daniela Couto
3º Comunicação Social

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