sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Cancelamento precipitado do Dakar
dá vitória ao terrorismo

No dia em que o Lisboa Dakar se preparava para iniciar a 30º edição, o responsável pela empresa organizadora do evento anuncia o seu cancelamento.
Uma eventual ameaça de atentado terrorista contra a caravana do Rally Dakar, na passagem pela Mauritânia, foi a razão apresentada pela organização para justificar o seu cancelamento.
A anulação de etapas da prova tornou-se uma constante. Em anos anteriores, foram várias as edições em que tal atitude se tomou, mas nunca se optou pelo cancelamento total da prova. Não terá sido esta uma decisão precipitada?
Conhecida há alguns dias, ou até meses, a situação que se vivia na Mauritânia, a organização teve tempo para mudar o percurso do Dakar ou pensar num plano B, possível de ser utilizado. Em último caso, estando a insegurança presente na passagem pela Mauritânia, a prova poderia ter terminado o seu percurso em Marrocos. De qualquer forma, a Mauritânia tinha também reunido duas centenas de militares para garantirem a segurança da prova e dos seus participantes na passagem por essa região.
Os prejuízos do cancelamento são incontáveis e impossíveis de reembolsar. Há pilotos que pouparam o ano inteiro para realizarem um sonho. Desde câmaras, a empresas patrocinadoras e até ao turismo em Portugal são vários os prejudicados pelo cancelamento.
E a opinião dos pilotos não conta? São eles as figuras principais do Dakar, deviam ter uma palavra a dar.
Esta atitude levou à vitória do terrorismo. Estão assim a dar espaço para que o terrorismo interfira ainda mais na vida e nas actividades que as comunidades desenvolvem.
Em 2009 supõe-se a continuidade do Rally Dakar, mas se uma nova ameaça de atentado surgir, por este andar, não voltaremos a ver mais nenhuma edição do maior rally do mundo. A organização deu vitória ao terrorismo e pode ter tornado o Dakar dependente desta ameaça.

Sara Pereira
3º Comunicação Social

Mal tratados!

Pronto! Acabou mais um tabu na política portuguesa. O Governo decidiu: o Tratado da União Europeia, vai ser ratificado no Parlamento e não em referendo.
O primeiro-ministro, José Sócrates, invocou um “princípio de solidariedade” para com os seus parceiros do Velho Continente. O chefe do Executivo, pressionado, alinhou no receio dos restantes líderes europeus, que tremem com a possibilidade do Tratado assinado em Lisboa levar o mesmo destino do defunto Tratado Constitucional.
O referendo seria um risco, que Sócrates não quis correr. Os portugueses poderiam ser tentados a avaliar a actuação do seu Governo e não o Tratado, que poucos sabem o que é, a que se destina, para que serve.
Convenhamos que Sócrates até tem a seu favor a pouca participação nas consultas populares anteriores, sobre outras matérias, e é, igualmente, conhecida a pouca apetência nacional pelas questões europeias.
Todavia, a opção governamental está longe de ser aceitável.
O Partido Socialista estava “amarrado” à promessa eleitoral de ratificar por referendo o tratado europeu. (Dizer, sr. primeiro-ministro, que o compromisso respeitava ao “Tratado Constitucional” e este é de “Lisboa” é tentar iludir uma realidade que se sabe quase igual. É tapar o Sol com a peneira. Fica-lhe mal!). Rasgou-a!
Com esta decisão, o país perdeu uma excelente oportunidade de discutir o projecto europeu. Os portugueses nunca disseram de sua justiça o que pensam sobre algo que acabou por mudar as suas vidas. Era a hora.
Era a altura de explicar as vantagens de “estar” na Europa. A união monetária, o euro, que tanta carteira vazia tem deixado. Os milhões que chegam todos os dias para investimentos e que poucos vêem. Era uma excelente oportunidade para debater e “convencer” das vantagens de tudo isto. Mas não. Prevaleceu a solidariedade inter-pares, em detrimento da “autonomia” nacional, do esclarecimento.
No dia do referendo, os portugueses não trocariam, por certo, uma tarde num qualquer centro comercial, por uma ida às urnas, contudo, a campanha eleitoral ajudaria à “integração”. Os políticos, do bloco central – é bom dizê-lo-, acham que é melhor assim. Quando mais ignorantes, menos interesse em perguntar sobre matérias para as quais, porventura, não há resposta. Esta, por exemplo: Até onde a União Europeia nos vai levar? Se é que nos vai levar algures…

Luís Melo
3º Comunicação Social

Economia mundial à beira da ruptura

Novo ano, novo aumento do preço dos combustíveis. O povo reclama e a comunicação social aproveita para explorar o acontecimento pela sua relevância, pelo impacto que tem na vida das pessoas. Regateamos, apontamos culpados e nem sempre nos apercebemos que este aumento esconde um problema mais grave: a escassez do petróleo, o bem essencial sobre o qual assenta a economia mundial.
Vive-se na ilusão de que este é um bem infinito, quando afinal é um recurso à beira do colapso. As reservas da Sibéria Ocidental vêem o seu fim para breve e os campos de petróleo do Mar do Norte e do Texas estão esgotados; os do Canadá, Rússia e Noruega encontram-se em declínio. Até a reserva da Arábia Saudita está prestes a atingir o pico de produção, o que significa que depois entrará em declínio. Tenhamos noção de que, sendo este o maior produtor de petróleo, se ele acabar, o mundo fica sem energia.
Sem petróleo não podemos ir para o trabalho; o transporte de bens e matérias-primas pára, conduzindo, consequentemente, ao encerramento das fábricas que sem matéria-prima não funcionam; o cancelamento da produção e distribuição de produtos leva à paralisação da economia. Neste cenário as empresas encerram, as pessoas são despedidas, perdendo o meio de subsistência; o transporte de alimentos estaciona, trazendo a fome e o desespero; rompe-se a ordem pública que culmina em motins e pilhagens. Instala-se o caos.
Confrontados com esta previsão, talvez deixemos de nos preocupar tanto com os aumentos dos combustíveis e comecemos a pensar em soluções viáveis, nomeadamente no investimento em energias alternativas (mais baratas e menos poluentes).
Incomoda-me esta descontracção por parte de todos, especialmente da comunicação social. Responsável pela alimentação da opinião pública, além de dar conhecimento dos problemas devia também apresentar as causas e as possíveis soluções (que já existem). Incomoda-me que andemos a levitar quando este é um problema que vai afectar todos, sem excepção. Incomoda-me saber que é a corrida a esse magna da energia que está por detrás de guerras (a do Iraque é disso exemplo) e de mortes e que a política, o capitalismo, o egocentrismo e o “Bushismo” sejam um entrave ao desenvolvimento de novas energias.
E assim vamos vivendo preocupados com o que realmente interessa, como o possível relacionamento de Hugo Chávez com Naomi ou a transferência de Hélder Postiga para o Panathinaikos por quatro milhões. O petróleo? Oh, que tem o petróleo?!

Diana Andrade
3º Comunicação Social

Fumo e cismo

Resolução de Ano Novo (bem ao estilo do “Diário de Bridget Jones” ): não acender um cigarro se não me encontrar ao ar livre.
A lei antitabagismo “entrou a matar”. De um momento para o outro, tudo mudou radicalmente. Agora, antes de sair de casa para ir beber um café e fumar tranquilamente um cigarro, todos os fumadores têm de consultar o blogue de Francisco José Viegas, tal como se consulta os horários antes de ir para a estação de comboios. A diferença é que se não apanharem um comboio, sempre podem ir no seguinte, enquanto que se, por ventura, tiverem o azar de se deparar com a porta desse (raro) café fechado, provavelmente não poderão entrar na porta ao lado.
Os fumadores que conheço, na sua maioria, queixam-se de discriminação, uma espécie de “nova xenofobia”. A lei não conseguiu encontrar um equilíbrio que se baseasse num respeito mútuo. Os direitos dos não fumadores estão assegurados. Os fumadores têm o DEVER de não incomodar, o DEVER de respeitar a saúde pública, o DEVER de respeitar os outros.
Os argumentos são sempre os mesmos e a conclusão recai quase sempre num encolher de ombros indiferente, seguido da frase que parece estar mais na moda: «Lá fora também é assim e ninguém morreu». Vamos então seguir os exemplos lá de fora e deixar os nossos belos carros nas garagens, prefiramos as bicicletas! É nosso dever não poluir o ar que respiramos! Sigamos os exemplos lá de fora e instalemos um sistema de saúde como o francês. Não. A nossa política é encerrar, todos os dias, serviços novos nos hospitais. Agora as pessoas já não fumam passivamente, já não ficam tão doentes. Tantos hospitais? Não é preciso.
Sou uma fumadora em “processo de libertação”. Respeito o direito dos outros desde que o meu também seja respeitado. Até posso passar uma tarde inteira sentada num café e não me custa nada não acender um único cigarro…mas gostava de ter liberdade para decidir.
Apesar de tudo, acabo por ter que me render às evidências. «Lá fora ninguém morreu». O ser humano é feito de hábitos. A lei não vai recuar. Pode mudar, um pouco, mas nada mais. Havemos de acabar por nos habituar. E integrará a nossa normalidade.
Encaremos o cumprimento da lei como mais uma das resoluções para este novo ano. Bem ao estilo Bridget Jones. Não são impossíveis, por mais que assim pareçam. Apenas depende de cada um. Da forma como encaramos as mudanças. E do tempo que levamos a nos habituar a elas...

Vânia Furet
3º Comunicação Social

Irão
Uma guerra anunciada

Ao afirmar, em Abu Dhabi, que o "Irão é a maior ameaça à paz", George W. Bush contribuiu para aumentar o clima de medo no Médio Oriente e as manifestações contra o Ocidente. O presidente norte-americano, ao deslocar-se à região, procura apoio político, sobretudo, dos velhos inimigos do Irão, como é o caso de Israel. A sua intenção é deixar Teerão totalmente isolada, sem apoio dos seus vizinhos. De modo a ser facilmente aniquilado por uma forçada coligação ou, apenas, por militares norte-americanos.
Em vez de optar pela resolução do conflito por via diplomática, George W. Bush parece ter vontade de resolver mais este problema através da força e da guerra. Para o Sr. Bush, pegar em armas e bombardear os outros países, de preferência ricos em recursos naturais, é a solução mais acertada...
A paz no Médio Oriente só iria trazer prejuízos aos EUA. Onde é que os norte-americanos iriam buscar o petróleo para alimentar a sua brutal economia? Não teriam países para explorar e para prometer protecção em caso de conflitos. Em troca, os seus aliados oferecem este precioso líquido.
Nem os EUA nem outro país qualquer deveria entrar no Irão sem ter provas da existência de armas nucleares. Penso que a solução passa por voltar a enviar inspectores da ONU que investiguem se estas existem ou não, mas, desta vez, convém “dar-lhes ouvidos”.
Porque o caso do Iraque ainda está fresco na memória. As alegadas armas nucleares nunca apareceram e, depois da invasão, constatou-se que havia, apenas, um exército fraco e muito mal treinado.
O mundo não pode cair no mesmo erro, o mundo não pode deixar os EUA serem o juiz que condena quem deseja. Está na hora da Europa ter um papel mais activo no combate aos problemas globais.

Álvaro Bastos
3º Comunicação Social

Baixa temporada

A música no rádio corta o silêncio no fim de mais um dia de trabalho em que pouco houve para fazer. Celso Baía, dono de uma loja onde se vende de tudo, arruma umas tendas de campismo, enquanto lamenta a concorrência da Decathlon. “Comprei tendas para vender a trinta e poucos euros, nunca tive coisas tão baratas e chego lá e vejo tendas de montagem rápida a dezoito e a vinte euros”, diz, murmurando: “Não há hipótese, não há hipótese”.
A baixa que em tempos já foi o grande centro de comércio em Coimbra está “morta”, diz Celso Baía, que ainda se lembra de andar na rua da Sofia e de não conseguir passar porque “eram centenas e centenas de pessoas”. A situação é bem diferente daquela que conheceu quando veio trabalhar para a loja que o pai comprou “três semanas antes do 25 de Abril”. As pessoas já não param, as ruas já não estão a abarrotar e a baixa tornou-se num ponto de passagem. Olham para as montras mas as lojas continuam desertas.
“Nos shoppings está quentinho, há estacionamento e estão abertos ao domingo”, explica o comerciante, cada vez mais desiludido com o negócio. 2007 foi o ano "pior de sempre”, afirma, acrescentando: “Se um chinês vier para me comprar a loja, vendo-a ao desbarato”.

Um comércio à antiga

“Nós aqui ainda olhamos para as pessoas não como clientes, mas como amigos", diz Arménio Pradas, dono da Sofimodas, profissão que reparte com o cargo de presidente do sector comercial da Associação Comercial e Industrial de Coimbra (ACIC). Defensor da viabilidade do comércio tradicional, Arménio Pradas gaba-se, sorrindo, de ter clientes que passam pela sua loja apenas para conversar.”Eu nem lhe pergunto se ele quer comprar alguma coisa ou não”, afirma, enquanto vai cumprimentando quem entra na loja. É essa a maior diferença entre os shoppings e o comércio tradicional, considera. Defende mais apoio estatal, porque “por mil postos de trabalho precários que se criam num centro comercial são dez ou quinze mil trabalhadores do comércio tradicional que vão embora”.
Com a abertura de mais centros comerciais, a quota de mercado do comércio tradicional, que agora é de 12%, daqui a quatro anos vai para os 6%, aventa, indignado, defendendo que a única solução para garantir a sobrevivência do comércio na baixa é a criação de uma carta de comércio, um documento onde se impõem regras quanto à diversificação de estabelecimentos comerciais.”Numa rua onde há por exemplo cinquenta sapatarias não pode haver mais nenhuma, se ficar vago um espaço deve ser ocupado por outro ramo comercial”, exemplifica o membro da ACIC.

Aguentando o barco

Quem olha para Manuel Magalhães vê as marcas de mais de quarenta anos de trabalho. O rosto sorridente disfarça a mágoa pela situação da baixa. Manuel Magalhães recorda o dia em que herdou a sapataria Reis dos padrinhos, na altura em que os sapatos ainda eram comprados para durar uma vida. "Não se vende nem um terço do que se vendia” afirma, atarefado, enquanto ajuda um fornecedor a descarregar mais uma remessa de sapatos que devem ficar nas prateleiras como tantos outros. O negócio, que vai mantendo com a ajuda da filha, já não é o que era porque “as grandes superfícies vieram absorver tudo e depois vieram os chineses”.
O futuro é incerto para este comerciante, não sabe até quando poderá ter a loja aberta. Percorrendo a loja com o olhar, desabafa: “Vamos aguentando o barco”.

João Pedro Sismeiro
3º Comunicação Social

Condenados à morte

São dezenas os animais abandonados numa estrada que atravessa a floresta entre as praias de Esmoriz e do Furadouro. Um lugar sem casas, longe dos olhares de reprovação e que dificulta o regresso dos animais aos “seus” lares.
Romeira, professor de Educação Física, residente em Esmoriz, é a esperança destes animais que imploram carinho, um tecto e alimento para sobreviver.
Desde muito novo que Romeira dedica o seu tempo a ajudar animais, uma paixão nascida com ele e fomentada pelos pais: “A sensibilidade e carinho que se tem pelos animais é algo que vem da educação e que deve ser adquirido desde pequenino”.
Foi já após ter feito 50 anos que se apercebeu do que acontecia na “estrada da mata”. Como tinha uma loja no Furadouro, passava por aí todos os dias e apercebeu-se que muitos eram os que iam propositadamente "despejar animais”. “Vi montanhas de episódios lamentáveis naquela floresta”, diz, com mágoa.
O local em questão alberga uma lixeira. “Tudo o que ali cai não dura, neste momento, 2 ou 3 meses. Assisti à morte de uma matilha de 22 cães com tosse esgana, menos o chefe do grupo que trouxe comigo e que já devia ter anticorpos”, conta, com tristeza.
Também a mão humana é um factor de perigo para estes animais sem dono. Na floresta, estão sujeitos a caçadores. “Os humanos atiram a tudo”, explica, acrescentando que outra ameaça são as bolas envenenadas usadas para apanhar raposas: “Com o veneno, caem para o lado e não é danificada a pele”. O resto, tem o mesmo destino: “Vai, vai pássaros, vai cães, vai gatos, vai tudo…”, resume. E há quem passe de carro e se divirta a "fazer pontaria" a cães e gatos. Conta Romeira:"Já vi um indivíduo a atropelar três cães, um de cada vez".
Desde essa altura, passa diariamente pela mata. Desloca-se de Esmoriz até ao Furadouro para alimentar cães e gatos que têm a floresta como casa: “Meto comida em 31 sítios todos os dias”, “mas há uma grande concorrência e, este ano, um aumento muito grande de raposas, que também comem”. Os animais já o reconhecem: “Todos ele conhecem a minha carrinha, conhece o gato, o cão e algumas raposas, posso vir a 500 metros que eles conseguem perfeitamente associar que eu venho ali.”
Alimenta actualmente cerca de 100 animais, cães e gatos, algumas dezenas dos quais em sua casa. “Gatos há um monte deles”, diz o professor, que identificou perto de 40 no início de Novembro de 2007. “Mas agora o Inverno está muito rigoroso e não vejo mais do que 20”, diz, lamentando não ver quatro dos seus melhores amigos há uma semana: “Chamo, chamo, chamo e não aparecem”.
O facto de alimentar todos os animais abandonados na estrada da mata tem-lhe trazido alguns problemas com as autoridades. “Um agente da Polícia Florestal ameaçou-me de prisão porque não podia pôr comida aos bichos abandonados”, refere, indignando-se com essa preocupação com a sua “obra de caridade”.
Romeira tem consciência que a lei proíbe a colocação de comida na via pública para alimentar animais vadios. Defende-se dizendo que também, por lei, é proibido abandonar animais: “Só faço isto porque o outro lado não é respeitado e é muito menos grave meter um bocadinho de comida ao pé de uma árvore”.

Filipa Fragoso
3º Comunicação Social





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A febre (encarnada) de sábado à noite

Manuel Branco, nasceu em Espinho há 55 anos. É ali que reside, mas corre as regiões norte e centro com a sua banca ambulante. Onde haja jogo de Porto, Benfica ou Sporting - a ordem não é arbitrária - ele lá está. A venda é ´desportivamente´ diversificada: Cachecóis dos mais diversos clubes, com destaque para os três “grandes” do futebol luso, assim com camisolas, bandeiras, gorros, pequenos galhardetes, pins e até isqueiros.
Sábado, 24 de Novembro. O Académica-Benfica promete noite de enchente e boas perspectivas para o negócio. O espinhense não falta. O seu ´estabelecimento´ está montado junto à Igreja de S. José, a poucos metros do Estádio Cidade de Coimbra.
Faltam mais de duas horas para o apito inicial no desafio de mais uma jornada do campeonato. O corrupio já é grande em redor do recinto.
“Prá bola há sempre dinheiro!”, constata o nortenho, habituado a grandes movimentos. “Olhe, quando o meu Porto joga, é lá à porta do estádio que faço negócio. E quando são os jogos do Benfica ou do Sporting aqui para cima também não falho. Umas vezes vendo mais outras menos, mas vai dando”, confessa.
Menos sorte parecem ter as ´roulottes´ das farturas e dos cachorros e bifanas. Estão quase às moscas. A noite começa com muito frio e os adeptos preferem lugares mais resguardados para aconchegar o estômago. Não admira por isso que o sector da restauração do centro comercial paredes-meias com o estádio esteja à pinha e assim há-de estar por largos minutos. Predomina o vermelho nos adereços habituais nestas ocasiões. Os da Briosa são menos e mais contidos.
O jogo começa às nove e um quarto. Os autocarros com as equipas hão-de chegar dentro em pouco, a hora e meia do pontapé de saída. À espera dos craques, o gradeamento de segurança está lotado. Não tardam. As sirenes dos batedores da Brigada de Trânsito ´anunciam´ o Vermelhão (é assim que é conhecido o luxuoso veículo de águia estampada). O primeiro momento de entusiasmo da noite é feito de palmas, muitas palmas, e gritos, muitos, do famoso “SLB, SLB, Glorioso SLB”. Mais discreta, poucos instantes depois, a chegada do adversário. Mundos e realidades bem diferentes.
As portas do recinto ainda estão fechadas. Aproveita Maria Glória, 61 anos “feitos a semana passada”, para ganhar a noite. Os braços carregam inúmeros cachecóis, todos encarnados. Deambula por entre os adeptos, cada vez em maior número. “Olhó cachecol! É pró maior!”, vai gritando. “Isto está mau, mas a cinco euros vou vendendo. Hoje em dia o que são cinco euros?”, pergunta sem esperar resposta.
São quase oito da noite. Abrem-se as portas do estádio. Os primeiros adeptos passam os torniquetes. O Rui e a Vera chegam junto da porta 3. Ele com 30 anos, ela 26. Vieram de Cantanhede. Os cachecóis vermelhos em volta do pescoço denunciam a preferência. “Até nem me importava com um empatezito, mas o Porto não pode fugir mais”, atira ela sorridente. “Qual empate?! Ganhar e por muitos!”, contrapõe de pronto o companheiro, pouco dado a sentimentos de boa vizinhança. E lá entram para as bancadas.
À medida que os ponteiros do relógio avançam maior é a azáfama em direcção as diversas portas. Cinco autocarros chegam com as claques dos ´Diabos Vermelhos´ e ´No Names Boys´. A escolta policial impressiona. Tudo decorre sem problemas.
Junto às bilheteiras há castanha assada. “Uma dúzia, um euro”, responde o assador a cada pergunta dos que chegam chamados pelo cheiro intenso.
O estádio vai enchendo a conta-gotas. Há-de chegar aos 16 mil espectadores, dois terços a torcer pelo clube visitante. O Benfica sofre mas termina a ganhar 3-1. É a festa vermelha nas bancadas. Bandeiras ao alto, cachecóis erguidos. O ´povo´ está feliz.
Uma hora depois do encontro acabar ainda algumas dezenas de adeptos esperam a saída dos jogadores para o autocarro. Gritam por eles. Simpáticos, alguns lá acedem a um autógrafo aqui, uma foto ali.
É quase meia-noite. Há muito que Manuel Branco está de regresso a Espinho. É preciso descansar. No dia seguinte o seu Porto joga em casa...

Luís Melo
3º Comunicação Social

Baixa de Coimbra em alta

Quem entrou na cidade de Coimbra pela ponte de Sta Clara, facilmente percebeu que algo diferente tomara conta das ruas da cidade. A noite estava calma e muito fria, um grau a menos e a temperatura passava a negativa. A decoração natalícia parecia ser a mesma dos anos anteriores, mas a música da orquestra ecoava tão alto que que era impossível não perceber que a noite se transformara numa festa.
A ideia partiu de um grupo de estudantes de Engenharia Informática, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, que desenvolveu o projecto “Noite Branca”, que consiste na animação cultural e comércio nocturno, para ajudar o comércio da baixa de Coimbra a combater a "desertificação", devido às enormes afluências a grandes superfícies comerciais.
Armindo Gaspar foi um dos visitantes que decidiu participar. “A minha família está a adorar presenciar este acontecimento. A cidade precisa de mais iniciativas como esta ao longo do ano, pois temos mesmo de manter viva a tradição na cidade, caso contrário o comércio tradicional continuará a desaparecer”, diz.
No centro da Praça Oito de Maio, vê-se uma enorme chaminé com cerca de quatro a cinco metros de altura, com um Pai Natal no topo. À entrada da Igreja de Sta Cruz, a Orquestra Ligeira da Filarmónica do Mondego anima a praça, onde muitos dançam.
Segundo Luís Braga, proprietário de uma loja de agasalhos nas imediações, “a noite está fria, o que por um lado é bom para as vendas, mas por outro é mau para as pessoas, pois muitas não se atrevem sequer a pensar sair de casa. Contudo, o resultado é acima do esperado, estou muito satisfeito. Gostaria de manter a minha casa aberta por muito tempo, mas para isso é necessário que a situação melhore consideravelmente".
Seguindo na direcção da Praça do Comércio, ouve-se um grande alarido ao cimo das escadas, é o Rancho Folclórico da Associação Cultural Rosas do Mondego a animar a “malta”, mas o ruído é tão alto que os cantores do rancho têm de se esforçar para se fazerem ouvir.
Sentados num dos bancos de jardim que ali se encontra, estão dois vendedores ambulantes, com peças de madeira trabalhadas à mão. Joeli Albani, moçambicano, não tem dúvidas, a iniciativa é boa: “A cidade está cada vez mais deserta, no Verão vêm-se poucas pessoas nas ruas, devem ir para a praia… no Inverno ninguém se atreve a sair à rua com medo do frio, são iniciativas como esta que nos fazem ganhar um pouco mais, esta cidade vive de estudantes, mas existem mais pessoas a viver cá e a precisarem dela para conseguir comer”.
Ao fundo das escadas da Praça do Comércio ouviu-se um enorme eco, o som bateu tão forte nas paredes da Igreja S. Bartolomeu, que era impossível alguém esquecer que a noite era de festa. O grupo responsável por tamanha algazarra é a “Olpa Big Band”, Orquestra Ligeira da Filarmónica da Pampilhosa, com 15 músicos.
Na Rua da Sota, a cerca de 5 metros da actuação, há três montras diferentes de todas as outras, são “montra vivas” com manequins humanos, quem passa acha engraçado e ri, ri tanto, que fazem rir os próprios manequins.
O pequeno estacionamento junto ao barco Basófias está apinhado de carros e até os arrumadores parecem ter tirado folga. À entrada da rua encontra-se um grupo de gaiteiros. O passeio está tão repleto de pessoas que parece ser dia. Dia de festa.

Paulo Rodrigues
3º Comunicação Social

Quando o temporário passa a permanente

Acabado o curso, muitos deparam-se com um obstáculo comum a muitos portugueses: o desemprego. Ao folhear os jornais, deparam-se com uma realidade mais sombria do que esperavam. “O flagelo do desemprego atingiu no primeiro trimestre deste ano 8,4% da população, que se encontra disponível para trabalhar” ou “ A taxa de desemprego regista maior subida dos últimos 15 anos”, são títulos quase diários. Enquadram-se nesta taxa percentual cerca de 50 mil jovens licenciados que terminaram os seus estudos e não encontram possibilidades de carreira na sua área de formação.
É neste cenário que os jovens começam a decidir o seu futuro, procurando alternativas com vista à sua independência pessoal e financeira.
A formação desejada e, por vezes, obtida com muito esforço passa para segundo plano. Uma das portas que se abre mais facilmente é a das empresas de trabalho temporário que recrutam e formam pessoas para as mais diversas áreas e sectores do mercado. São chamadas empresas de outsourcing, fornecendo recursos humanos a outras empresas que tentam diminuir os seus custos.
Segundo Bruno Pinheiro, responsável pelo call-center de apoio ao cliente da TV Cabo Portugal, “este trabalho temporário é procurado sobretudo por jovens que acabaram de completar a licenciatura. Tenho à minha responsabilidade cerca de 80% de licenciados e, considerando que estamos na "cidade dos estudantes", não há surpresa. Durante a procura do primeiro emprego precisam de pagar as despesas normais de uma casa e mesmo as da própria procura, e este torna-se um meio acessível a todos”.
Vera Salvador, licenciada em Língua Portuguesa e a trabalhar no atendimento ao público na loja da TV Cabo, em Coimbra, é um dos casos que ilustram esta realidade. Com 30 anos, procurou “uma segunda opção ou um recurso para pagar as despesas lá de casa”. “As preocupações de quem se esqueceu de pagar a factura do mês ou os problemas com os cabos de fibra óptica não são propriamente a realidade que me fazem mais feliz. No entanto, não me imagino daqui a 3 ou 4 anos no mesmo sítio. Gostaria de exercer aquilo para que estudei e dediquei tanto tempo, mas as coisas não estão fáceis para ninguém”, remata.
Percorrendo a mesma empresa, longe dos olhares cansados na fila à espera de vez, está Liliana Soares, de 28 anos. “O meu percurso foi um pouco diferente do habitual. Desisti de estudar aos 17 anos e quis logo pôr as mãos no trabalho. Respondi a um anúncio no jornal que pedia operadores de loja. E agora que já experimentei um pouco de tudo decidi tirar um curso superior que me preenche mais e sobretudo que é um complemento à formação prática que já tenho.”
Só para a TV Cabo Portugal, na zona centro, trabalham duas empresas de outsourcing absorvendo cerca de cem colaboradores a prestarem serviços de part-time e full-time.
Para o primeiro emprego a solução eficaz não existe, o que existem são pequenas opções até se encontrar o caminho, e o trabalho temporário pode ser uma alternativa à espera.

Diana Oliveira
3º Comunicação Social

Pílula do dia seguinte
é solução de último recurso

A pílula do dia seguinte encontra-se à venda desde o ano 2000, sendo cada vez maior a sua procura, quando a mulher teme engravidar.
Como se toma? Quais as consequências? São as perguntas mais frequentes.
A Internet parece ser o meio menos constrangedor para obter informação. Sites como o http://piluladodiaseguinte.no.sapo.pt/ dão respostas para algumas dúvidas. A pílula do dia seguinte só deve ser usada como medida de emergência, para prevenir a gravidez após uma relação sexual desprotegida durante o período fértil. Quando ingerida no máximo até 72 horas após o acto sexual, reduz o risco de engravidar, embora não seja 100% eficaz. Se a mulher já tomar a pílula contraceptiva regular, deve continuar a fazê-lo.
Ginecologista na Maternidade Professor Bissaya Barreto, em Coimbra, Inês Marques explica que a eficácia da pílula diminui tanto mais, quanto mais tarde for absorvida. Alertando para as suas consequências, pelas elevadas doses hormonais, a médica diz que “o uso excessivo da pílula abortiva altera o ciclo menstrual e prejudica gravemente a saúde, causando riscos como tromboses, cancro da mama, do útero e até mesmo problemas numa futura gravidez”. Se depois de tomar a pílula do dia seguinte, a mulher pretender ter relações sexuais, “deve usar um contraceptivo de barreira, como o preservativo”, aconselha. “A pílula é abortiva porque impede a implantação, não impede uma gravidez já instalada. Este medicamento não actuará se a mulher tiver outra relação sexual desprotegida, antes da menstruação seguinte”.
A ginecologista reforça a ideia de que o vómito e a diarreia podem acontecer após a toma da pílula abortiva, assim como uma hemorragia.
Para a médica, “há um desfasamento entre o crescimento do corpo e a maturidade. Quando surge uma oportunidade inesperada, não sendo tomada uma precaução, a pílula do dia seguinte é para muitas jovens a solução. Num meio académico como o de Coimbra, acontece regularmente. Certos erros devem-se à falta de um seguimento de planeamento familiar e ginecológico”.
Segundo o JN, “as portuguesas compraram quase 240 mil pílulas do dia seguinte, em 2006”. Daniel Pereira da Silva, da direcção da Sociedade Portuguesa de Ginecologia, sublinhou ao JN que “a toma da pílula do dia seguinte equivale ao consumo de 15 comprimidos de uma pílula convencional”. Vera Rodrigues, farmacêutica na Farmácia Estádio, em Coimbra, diz que os picos de venda da pílula abortiva, este ano, foram em Janeiro, depois da passagem de ano, e em Maio, época da Queima das Fitas. “Seguimos um protocolo de ética. Fazemos perguntas chave e só fornecemos consoante as mulheres preencham certos requisitos. Damos um folheto informativo e aconselhamos que se dirijam ao serviço de contracepção de emergência na Maternidade Daniel de Matos. Não vendemos a homens e se verificarmos que é um risco para a saúde da mulher, recusamo-nos a dá‑la”, reforça.
A pílula do dia seguinte pode matar devido aos factores de risco causados pelos efeitos secundários, havendo “pelo menos cinco casos de morte”, revelou Margarida Castel-Branco, investigadora da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, ao Diário as Beiras. Embora a lei determine que seja fornecida gratuitamente nos Centros de Saúde e hospitais públicos, a pílula do dia seguinte é de venda livre e o preço ronda os 10 euros.
Inquiridas 20 estudantes do ensino superior, conclui-se que cinco já tomaram a pílula do dia seguinte e todas dizem estar bem informadas.
Ana viu-se obrigada a comprar a pílula abortiva por estar a tomar um antibiótico que cortava o efeito da pílula contraceptiva regular. Confessa ter sido uma irresponsabilidade, uma vez que estava informada e remata: “Por vergonha, pedi ao meu namorado que fosse à farmácia, não se pode repetir”.

Rita Matias
3º Comunicação Social

Crescente número de licenciados
é novo problema social

Longe vão os tempos em que um ‘canudo’ garantia uma entrada directa no mercado de trabalho.
Ao longo dos anos, o número de desempregados com habilitação superior têm vindo a aumentar significativamente, em consequência do aumento do número de diplomados.
Ivo Reis é um dos milhares de licenciados actualmente no desemprego. Licenciado em Tecnologias da Comunicação pela Escola Superior de Tecnologia e de Gestão do Instituto Politécnico de Bragança, está desempregado há cerca de um ano e, neste momento, procura ainda a sua primeira experiência na sua área de formação. Ivo Reis considera que o importante é não parar de procurar. “As desilusões fazem parte da aprendizagem que é necessária para enfrentar a realidade e a competitividade do mercado de trabalho, seja onde e quando for”, refere.
Segundo dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), no mês de Outubro de 2007, registaram-se cerca de 44.692 desempregados licenciados, em todo o país.
No entanto, o número de desempregados difere consoante as áreas de formação. As áreas das ciências sociais e as áreas ligadas à educação e à formação de formadores são aquelas que apresentam a maior taxa de desemprego, de acordo com os dados apurados pelo IEFP, em Junho de 2007.
Muitos são aqueles que não conseguem encontrar emprego na sua área de formação e que optam por trabalhar em outras áreas. É o caso de Ana Rita Jacinto e Catarina dos Santos. Ana Rita Jacinto é licenciada em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e actualmente está a trabalhar como recepcionista no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra.
Licenciada há já três anos, Ana Rita Jacinto, teve apenas uma experiência na sua área de formação num estágio que efectuou. Revela que já não tem esperança em encontrar emprego na sua área e que, se fosse hoje, escolheria uma área de formação diferente.
Catarina dos Santos, licenciada em Psicologia pela Universidade Internacional da Figueira da Foz, está actualmente a trabalhar como administrativa numa empresa de cerâmica. Terminou a sua licenciatura há dois anos e, até agora, a única experiência que teve na área da psicologia foi no seu estágio curricular.
A jovem licenciada garante que, se entrasse hoje para o ensino superior, não seguiria um sonho, como fez e que tentava “apostar numa área onde as saídas profissionais fossem mais viáveis”.
Contudo, Catarina dos Santos afirma que “o importante é nunca desistir”, acrescentando: “Deve-se tentar sempre fazer valer a vontade que nos moveu durante anos para concluir o curso”.
Na opinião dos jovens licenciados, o facto de muitos diplomados estarem a trabalhar numa área diferente da sua formação, deve-se essencialmente à realidade do mercado de trabalho em Portugal, à constante procura das empresas por pessoas com larga experiência de trabalho e ao comodismo de encontrar um emprego, sem qualquer ligação com o curso frequentado, onde se obtém um ordenado considerável.
No distrito de Coimbra, a maior taxa de desemprego verifica-se no grupo dos licenciados. No passado mês de Outubro, registaram-se neste distrito 1614 desempregados com formação superior.
Sónia Teles, responsável pelo gabinete de saídas profissionais da Associação Académica de Coimbra, refere que uma licenciatura continua a ser o caminho mais seguro para entrar no mercado de trabalho. No entanto, sublinha que se deve “ter em atenção os cursos que se fazem” porque nem todos têm uma boa integração no mercado de trabalho.
Apesar do número elevado de licenciados desempregados que se regista a nível nacional, este grupo de desempregados representa apenas 9,4 por cento da população inscrita nos centros de empregos de Portugal.

Urânia Cardoso
3º Comunicação Social

Aspirantes a jornalistas

Nesta nova cultura do empolgamento jornalístico, como a caracteriza Carl Bernstein, muitos são aqueles que, todos os anos, ingressam em cursos na área da comunicação social. Entre aqueles que vão ficando pelo caminho e os que decidem continuar em frente, encontramos Cândida Sá, agora jornalista, e Vasco Pinto, finalista do curso de Comunicação Social.
Cândida Sá concorreu para Comunicação Social, mas confessa que, na altura, nem imaginava o que tinha pela frente. Ao longo do curso, repetiu várias vezes que não queria ser jornalista, mas hoje os seus dias são passados dentro de uma redacção ou “na rua”a fazer aquilo que aprendeu a gostar. Quando chega ao “Aurinegra” (jornal local onde trabalha), corre apressadamente o correio electrónico e, como não poderia deixar de ser, lê todos os jornais diários que encontra à sua disposição. Considera fascinante a sua vida enquanto jornalista: “Sair para a rua, contactar com as pessoas, procurar informação, querer saber mais e, depois, exprimir tudo isso através de palavras”.
Cultivar fontes de informação não é tarefa fácil, Cândida sabe-o bem. Diz mesmo que as pessoas se afastam dos jornalistas e que essa é a principal dificuldade que tem sentido. No entanto, acredita que, com a experiência, irá aprender a lidar com isso. Considera que o curso no qual é licenciada tem pouco de prático ou, pelo menos no seu tempo de estudante, tinha, e que isso lhe dificultou o estágio na TVI. “Quando cheguei ao estágio nem sequer sabia escrever uma breve. Na TVI tive oportunidade de aprender a escrever uma “notícia à séria”. Foi uma experiência muito enriquecedora”. Hoje agradece o apoio e a atenção da coordenadora e editora e, aos futuros colegas de profissão, deixa o conselho: “Mexam-se”.
Entre o estúdio de uma rádio, a redacção de um jornal ou as câmaras de uma televisão, Vasco Pinto, finalista do curso de comunicação social da ESEC ( Escola Superior de Educação de Coimbra), opta pela última.
Por enquanto, fazer televisão, é apenas um sonho que espera ver concretizado em breve. Foi preciso chegar ao 4º ano para se sentir realmente satisfeito com o curso que, como Cândida, considera muito teórico. "Em Inglaterra as coisas eram bem diferentes”, recorda. Esteve em Erasmus no Cumbria Institute of the Arts e foi aí que começou a fazer as primeiras peças televisivas. Agora, com o estágio à porta, receia o que o espera, mas de uma coisa tem a certeza: “Farei os possíveis e impossíveis para trabalhar na área televisiva".

Tânia Figueiredo
3º Comunicação Social

Óleos Alimentares
de resíduo a matéria-prima

Os Óleos Alimentares Usados (OAU) são uma das mais recentes apostas no sector da reciclagem de resíduos.
Derivados da fritura de alimentos, os OAU provêm na sua maioria do uso doméstico, do fabrico industrial de batatas fritas e do sector HORECA que inclui hotéis, restaurantes, cantinas e cafés. No entanto, apenas uma pequena percentagem faz chegar os seus óleos a empresas especializadas na reciclagem desse resíduo.
Foram as questões sociais e ambientais que, no primeiro trimestre deste ano, levaram a APPACDM (Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental) de Coimbra a ingressar na actividade de recolha destes resíduos. José Júlio, responsável pela gestão da associação refere que poucos são ainda os cidadãos individuais que entregam os seus óleos para reciclar. Hospitais, restaurante, cantinas, autarquias e instituições de solidariedade social são as principais organizações com as quais a associação trabalha.
O Hotel Tivoli de Coimbra é um dos 433 estabelecimentos no distrito de Coimbra que entrega os OAU à Biological, empresa de recolha desses resíduos. Na cozinha do hotel foi colocada uma vasilha onde são depositados os OAU. Após uma recolha, a empresa substitui o recipiente por um devidamente lavado e com condições para ser novamente utilizado. Por mês, este estabelecimento entrega 20 litros de óleo.
Helena Sequeira refere que a política do hotel “assenta na preocupação de ser ambientalmente responsável” e salienta que em Agosto deste ano lhes foi atribuída a certificação em Qualidade, Ambiente e Segurança.
A Biological, após a recolha, armazena temporariamente na sua empresa os OAU, em recipientes próprios até serem dirigidos aos operadores da reciclagem.
Isabel Tavares, gerente do restaurante “Os Tigres” refere que foi por iniciativa própria que, há um ano, procurou uma empresa de recolha para os seus óleos. “Foi fácil encontrar uma empresa que efectuasse esse trabalho, pois encontrei várias. Depois disso, já passaram por aqui algumas a oferecerem os seus serviços”, diz a gerente.
Os OAU, recolhidos e armazenados, têm como principais destinos finais a industria saboeira e a produção de biodiesel, que se concentra mais na zona norte do país.
Segundo a Quercus, em Portugal existem cerca de dez empresas de reciclagem.
No que diz respeito à legislação, Cármen Lima, da Quercus, afirma que actualmente não existe “uma legislação específica” para a reciclagem dos OAU, “mas sim referências no âmbito da gestão dos resíduos”.

Da fritadeira para o depósito

A utilização do OAU como fonte de produção de biodiesel tem sido apontada como uma das melhores soluções. A DieselBase é uma das empresas portuguesas que recebe o óleo para produção desse combustível. A empresa salienta a diminuição da produção de gases para a atmosfera e a independência face ao mercado de petróleo que oscila constantemente, como vantagens que o biodiesel apresenta em relação aos outros combustíveis.
A Lei proíbe que OAU sejam depositados no sistema de esgotos, mas a verdade é que as ETAR’s são frequentemente inundadas por óleos e gorduras associadas.
Susana Ferreira, engenheira das Águas de Coimbra explica que os perigos causados por esses óleos, quando depositados nas redes públicas de águas residuais, interferem principalmente na saúde, no ambiente e no estado das tubagens. “Um litro de óleo alimentar contamina cerca de um milhão de litros de água. O equivalente ao consumo de uma pessoa num período de 14 anos” alertou a engenheira.
É certo que não existe um sistema de recolha obrigatória nem uma fiscalização ao destino que é dado a esses resíduos. No entanto, o Instituto de Resíduos sugere que tanto no sector doméstico como no sector Industrial ou no sector HORECA, os produtores de OAU manifestem uma participação voluntária e de responsabilidade pelos seus resíduos.

Sara Pereira
3º Comunicação Social

O outro lado de Coimbra

Os relógios marcam 21H00. É momento de vestir os coletes azuis. Um silêncio invade a sala. Sentimento de responsabilidade. A equipa da Associação Integrar sai do centro em direcção à carrinha, de onde são retirados cobertores e uma marmita com café quente. Com tudo pronto, parte rumo às Químicas. Um senhor de meia-idade recebe-os na sua humilde “casa”, um beco resguardado por uma grade alta, revestida por panos, outrora brancos. Não dá para lhe ver o rosto, está escuro, o cheiro é nauseabundo, mas a sua gentileza faz esquecer o cenário. O homem sofre, sofre na solidão, contando, apenas, com o auxílio daqueles que não se conformam com o estado das coisas. Os seus intestinos e a sua perna, doentes, não lhe dão descanso, mas não se queixa. Recusa beber o que se lhe oferece. Teme ficar pior. Após dois dedos de conversa, a despedida calorosa, difícil. Outras pessoas aguardam o bendito café, com enorme expectativa.
Quatro homens, que se encontram no “quentinho” dos seus cobertores, em camas improvisadas, são cumprimentados. O local é amplo, iluminado, o ambiente é de conversa. A bebida é servida. Pedem para repetir. Enchem-se as suas garrafas de água com o “líquido divino”. Parece que lhes reconforta a alma. São amáveis, receptivos à ajuda. Partilham com a equipa experiências vividas, derrotas e sonhos. Não perdem a vontade de viver. Acreditam que um dia tudo mudará, que o novo ano lhes trará sorte. As suas palavras, tão mais doces do que as de muitos doutores desse país fora. Toda a “tertúlia” se desenrola ao som de um frágil rádio portátil, que alegra um pouco a vida da rua. Um denso orvalho cai em cima das cabeças de cada um. De novo a despedida e a promessa de voltar.
Caminhando pela Rua da Sofia, eis um sem-abrigo a dormir à entrada de um Banco. Está ferrado no sono, não se apercebe da presença das assistentes, do café que decerto lhe aqueceria o espírito. Não possui as habituais bagagens, provavelmente perdeu-as. Deixam-no, sem o acordar. Ao longo do percurso dá-se conta de que os utentes não se encontram nos locais do costume. A vaga de frio não convida a ser presenteado pela humidade que se faz sentir. As “damas da noite” estarão em serviço? Mais à frente um grupo misto de toxicodependentes aborda as “heroínas” de colete azul. Pedem café e bolos. Pouca sorte, só há café. Bebem e repetem. Há neles uma suave simpatia, mas parecem excitados…Será da falta ou do excesso? Agradecem. A noite continua. No entanto, mais ninguém espera por alguma atenção, algum conforto. O frio não ajuda…ou há algo que não se sabe? Regressão ao centro com a marmita meio cheia. É tempo de despir os coletes, aqueles acessórios que fazem a diferença no meio da exclusão e da miséria que habita frente aos olhos de todos.
Coimbra é o único distrito do país onde existe um trabalho em rede entre várias instituições de solidariedade, no apoio aos sem abrigo. O PISACC (Projecto de Intervenção com os Sem Abrigo no Concelho de Coimbra) engloba associações como a ANAJOVEM, a CARITAS, a AMI Porta Amiga, as cozinhas económicas rainha Santa Isabel, a Câmara Municipal e a Segurança Social.
Paulo Pereira, assistente social e coordenador da AMI Porta Amiga, explica que “as equipas de rua, de intervenção directa, são quatro, e que dividem entre si os sete dias da semana. Fazem os giros nocturnos com o objectivo de sinalizar novos casos sem abrigo e motivar os mesmos para a adesão a um programa de mudança”. Destacam-se os gestores de caso que são, segundo Sara Antunes, assistente social na Integrar “o elemento da equipa que gere o caso de um sem abrigo identificado”. Para Carla Bento, estagiária da associação, é gratificante “sentir que se faz algo pelo outro”.

Carine Anacleto
3º Comunicação Social

 

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