quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Combater a ignorância

A discriminação em relação aos portadores do Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH também conhecido por HIV), responsável pela Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA), persiste, remetendo, muitas vezes, para a clandestinidade um problema que é de todos.
Não obstante as várias campanhas informativas e de sensibilização realizadas nos últimos 20 anos, há ainda muita ignorância em relação à doença. “Quase toda a gente já ouviu falar na palavra SIDA, ouviu falar no HIV, mas não sabe ao certo o que é a doença, quais os factores de risco, como se transmite ou não se transmite”, diz Teresa Ferreira, médica de clínica geral.
Muitos doentes são considerados"infames", porque “durante muitos anos foi uma doença tabu, da qual que as pessoas não falavam. Pensavam que era uma doença relacionada com homossexuais, tudo foi sempre muito estigmatizado”, explica a médica.
O vírus HIV fragiliza o sistema imunitário, deixando-o vulnerável a muitas doenças e podendo levar à SIDA. Ser seropositivo significa que o sistema imunitário está infectado pelo HIV, mas não necessariamente que se tenha SIDA, mas o vírus é transmissível e pode demorar muito tempo até se manifestar.
Daí o medo e a insegurança que toma conta das pessoas. “Até os próprios médicos ainda têm uma certa relutância em contactar com doentes HIV positivos. Numa urgência, se um doente diz que é HIV positivo, o médico que está com ele quase sempre encaminha-o para médicos de doenças infecciosas”, diz Teresa Ferreira, acrescentando: “Até eu, que sou médica, ao contactar com doentes HIV positivos tive receio, foi preciso um momento de consciencialização”.
Enquanto profissional de saúde, na área de enfermagem, João Alves afirma que procura ser o mais correcto, ética e humanamente, para com os portadores de HIV: “Imagino como deve ser difícil para uma pessoa portadora do vírus HIV lidar com seus próprios sentimentos, exorcizar os medos, viver um dia de cada vez”.
O HIV não é transmitido por beijos, abraços, suor, saliva, lágrimas, pelo uso comum de piscinas, copos, talheres ou roupas. O contágio ocorre através de relações sexuais sem protecção, do contacto sanguíneo, pelo uso de agulhas e seringas contaminadas ou de mãe seropositiva ao filho, sendo possível, neste último caso, diminuir esse risco, através de cesariana e de outros recursos, nomeadamente através de medicamentos específicos para o HIV.
A principal via de transmissão do vírus HIV é o contacto sexual, surgindo muitos problemas adicionais, resultantes de questões culturais relacionadas com a sexualidade. Se é uma mulher a portadora do HIV, é rotulada como “promíscua”, se é um homem, já está previamente classificado como “homossexual”, se o caso envolve uma pessoa idosa, trata-se de uma “velhinha ou velhinho tolo”. Desta maneira, todo o seropositivo sente-se socialmente pré-rotulado para a exclusão. Mas os profissionais de saúde são unânimes em afirmar que já não existem “grupos de risco”. “É muito fácil evitar o contágio se houver uma relação protegida, basta um preservativo para que isso aconteça”, acrescenta a médica.
A SIDA é um problema global, sendo necessária uma maior consciencialização, que leve à adopção de comportamentos sexuais responsáveis. Para isso, é preciso uma “educação sexual precoce, aberta e descomplexada”, diz Teresa Ferreira.

Tânia Gonçalves
3º Comunicação Social

Chamamento de Deus

Como seria uma aldeia sem um padre? Nestas pequenas localidades, são hábitos já há muito adquiridos ir à missa ao domingo de manhã ou a realização das festas religiosas, mas nas cidades torna-se cada vez mais escassa a prática cristã, que diminuiu cerca de 20 % em Portugal.
Quando alguém diz: “Vou ser padre”, os motivos dessa escolha costumam ser questionados. Os seminaristas dão uma resposta simples: dizem ser jovens comuns, que optaram por outro caminho. Afirmam ter uma vida normal e gostar das mesmas coisas que todos os rapazes gostam. Muitos, antes de iniciarem o novo caminho, tinham namorada e faziam o mesmo que qualquer outro jovem. Continuam a fazê-lo, apenas rezam um pouco mais. Levantam-se cedo, estudam, fazem exercício físico, como outra pessoa qualquer.
Entre 2000 e 2005, verificou-se um aumento do número de estudantes de Filosofia e Teologia nos seminários religiosos e diocesanos, à excepção da Europa, onde houve um decréscimo de 14,95 por cento no número de candidatos ao sacerdócio. O continente africano foi o que registou maior crescimento (15,68 por cento). Contudo, constata-se que em relação aos quinquénios anteriores (1995-2000 e 1990-1995) o número de candidatos ao sacerdócio tem vindo a diminuir. Para o Pe. Pedro Nunes Pedro, capelão dos Hospitais da Universidade de Coimbra, este é o resultado da “grande mutação cultural que existiu no nosso país e no mundo”, mas não só. Diz tratar-se também da crescente valorização do sucesso individual, das carreiras profissionais e ainda do consumismo e do materialismo.
Encontrar alguém que sinta vocação para exercer o ministério sacerdotal é algo raro. Os poucos jovens que pretendem seguir esta vocação, fazem-no de forma abnegada, com sacrifícios, mas convictos de que esse é um dos caminhos para a felicidade. Para haver mais vocações, o Pe. Pedro afirma ser “preciso pedir a Deus”, pois “uma vocação é um chamamento de Deus”, dizendo: “É preciso que as comunidades cristãs e os cristãos individualmente vivam mais a fé. Não se limitem a ser «cristãos não praticantes»". Declara que é preciso “despertar os jovens para o voluntariado, para o serviço ao próximo, para que alguns assumam esse compromisso para a vida, por exemplo, no sacerdócio.”
No Seminário Maior de Coimbra estão, actualmente, nove seminaristas, que têm de completar 6 anos de formação, o que “implica uma reorganização no trabalho paroquial”, afirma o Pe. Pedro, pois a falta de padres faz com que “um grupo de padres trabalhe em conjunto para servir um certo numero de paróquias, situação que já se verifica em algumas.
Mas não são só os rapazes que sentem o "chamamento de Deus", pois também as raparigas se podem tornar religiosas. O número de vocações para a vida religiosa feminina diminuiu, cerca de 5 por cento. Contudo, este decréscimo verifica-se apenas na Europa (menos 11,8 por cento), na Oceânia (menos 10,7 por cento) e na América (menos 7,5 por cento), tendo aumentado na África (11,8 por cento) e na Ásia (11 por cento). Apesar de tudo, ainda é a Europa que apresenta o maior índice mundial de religiosas, rondando os 42,47 por cento.

Filipa Silva
3º Comunicação Social

Aprender até ao fim da vida

A Universidade do Tempo Livre (UTL), em Coimbra, está a iniciar mais um ano lectivo de aprendizagem e de convívio. Para além das aulas, duas vezes por semana, a UTL promove outro tipo de actividades para os idosos preencherem o tempo livre, nomeadamente passeios e visitas a museus. Alemão, Inglês, Italiano, Religião e Religiões, Informática, Astrologia Científica, Ginástica e Manutenção, Yoga, Danças de Salão e Fotografia Digital são apenas algumas das disciplinas que os alunos da UTL podem escolher.
Álvaro Moreira, aluno na UTL há quatro anos, frequenta as aulas de Inglês e de Informática. Antigo Inspector, na área de Direito Administrativo e em Direito do Trabalho, soube da existência da universidade através de uma vizinha. Procura, desde há quatro anos, manter uma vida activa e manter-se ocupado. Álvaro Moreira recorda o que o levou a ingressar na UTL: “Temi o corte de uma vida intensa para uma vida demasiado parada”. Com a ida para a universidade procurou sobretudo “uma valorização social”. E acrescenta: “a Informática surge como um desafio novo enquanto o Inglês, como forma de recordar a língua”.
As actividades oferecidas pelas Universidades para a Terceira Idade (UTI) são variadas. Um anúncio, entre os muitos disponiveis, sintetiza o conceito: “Se já não tem idade para trabalhar e não quer estar em casa sem fazer nada, pode ocupar o seu tempo e aprender diversas actividades desde teatro, bordados, música ou mesmo disciplinas como Antropologia, Literatura Portuguesa, Marketing ou Informática”.
As UTI’s são um modelo de formação de adultos, com grande sucesso a nível mundial, que lhes proporciona um enorme leque de actividades culturais, recreativas, científicas e de aprendizagem. Reforça os laços de amizade e pressupõe a captação e o desenvolvimento de novos conhecimentos. E, acima de tudo, permitem trocar conhecimentos adquiridos ao longo da vida.
Armindo Lopes, antigo empregado de escritório, antigo oficial do exército e ex-delegado de informação médica, procurou a UTL para acabar com o stress do dia-a-dia: “Estava muito cansado, ser delegado de informação médica era muito cansativo, obrigava-me a fazer muitos quilómetros”. Armindo Lopes é dos poucos alunos que ainda não está reformado. “Estou no fundo de desemprego porque ainda não tenho idade para a reforma”, explica. Soube da existência da UTL pela esposa, que também queria frequentar a universidade, e por informações da Câmara Municipal. Sobre a universidade diz: “O ambiente de camaradagem é impressionante. Há um forte equilíbrio de mentalidades, há uma maior preocupação com a evolução”.
Já a professora de Inglês da UTL considera que estes alunos são mais exigentes e mais impacientes que a generalidade da massa estudantil. “A motivação é diferente, estes alunos estão mais motivados. Estão cá porque querem, por um lado ocupar os tempos livres, ou porque querem, por outro lado sentir-se activos”, explica. A docente acrescenta: “São pessoas diferentes com feitios diferentes o que faz com que tenha de se fazer uma gestão um tanto ao quanto complicada”. “A turma começa a criar laços de afinidades e, por isso, diminuem os níveis de desistência", conclui.
Existem, actualmente, mais de 30 UTI’s que contribuem de forma pró-activa, para ajudar os idosos a construírem um futuro melhor e mais digno, para si próprios e para os outros. O objectivo é conquistar de novo uma posição importante no seio da família e da comunidade, que é sua por direito.

Catarina Fernandes
3º Comunicação Social

Emergências nos bombeiros

O relógio marca 16H00. Começa o turno da tarde nos Bombeiros Novos de Aveiro. Ana Lopes e Fernando Nunes, já fardados, dirigem-se à sala dos Técnicos de Ambulâncias de Emergência (TAE). Ana Lopes, bombeira há cinco anos, pega nos verbetes do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) para conferir. “É a única coisa que o INEM nos paga.” O motivo radica na atribuição da ambulância do INEM à outra corporação de bombeiros de Aveiro, os Bombeiros Velhos, o Posto de Emergência Médica (PEM). Com os Bombeiros Novos, ficou a ambulância de Socorro a Náufragos.
Trim trim. Trim trim. “Bem, temos de ir. Até já.” Fernando conduz a ambulância, enquanto Ana controla os sinais sonoros. “É difícil sair do quartel, porque para além dos carros estacionados aqui em frente, na hora de saída das crianças do colégio é quase impossível a passagem da ambulância.” A juntar a essas dificuldades, soma-se a dimensão do quartel, que não é suficiente para todos os veículos da corporação, que ainda assim são poucos. “Faz-nos muita falta mais uma ambulância, pelo menos”, desabafa Fernando Nunes.
Apesar da ajuda prestada, nem sempre o estado de espírito dos bombeiros é positivo, quando regressam ao quartel. Nesta chamada, quando chegaram ao local receberam a habitual reclamação: “Pensávamos que nem vinham, demoraram tanto.” Apesar da reclamação, valeu o conhecimento da acidentada sobre o funcionamento do INEM. “Temos de ter em conta que somos os últimos a ser accionados”, diz Ana Lopes. Realidade desconhecida pela maioria dos portugueses, que pensam que quando ligam para o número de emergência médica (112) estão a ligar para os bombeiros. Quando uma pessoa telefona para o 112, a chamada é atendida por um polícia, que posteriormente a encaminha para o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU). Aí, quem atende a chamada, pede à pessoa que explique a situação da vítima. Seguidamente é activada a Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VEMER) e, em último lugar, a ambulância INEM. Em Aveiro, caso esta esteja ocupada, é activada a ambulância dos Bombeiros Novos, mas o tempo que leva até esta ser disponibilizada pode ser fatal para quem está à espera.
Nova emergência, nova complicação na saída da ambulância para o local. Desta vez, uma emergência mais simples e rápida. “Um cliente do costume, mas qualquer dia prega-nos um susto a sério”, diz Ana enquanto se aquece no pequeno aquecedor. Clientes do costume são bastantes, e os bombeiros até já os conhecem. Por isso mesmo, já sabem do que se trata, quando são chamados para emergências em determinados locais. “90% das chamadas de emergência que recebemos do CODU, são menos importantes do que as que recebemos directamente no quartel”, refere Ana Lopes, enquanto explica o procedimento de emergência, à primeira estagiária a acompanhar estas situações, Paula Lopes.
Outra condicionante é o local onde ocorrem as emergências. Se a ocorrência for na via pública, é quase sempre emergência, pois o facto de uma pessoa se encontrar ferida num local público, à vista de toda a sociedade, não favorece a imagem do INEM. No entanto, caso a emergência ocorra em local privado, como a casa do acidentado, condiciona as saídas, principalmente se quem estiver ao telefone não souber explicar o que se passa. Mas o mais grave mesmo, é quando os bombeiros são chamados directamente. “Estar um bombeiro no local, a telefonar ao CODU, a explicar a situação, e mesmo assim, o CODU não considerar a ocorrência como emergência”, explica Ana Lopes.
Às 21H00, acaba o turno de Fernando Nunes. Ana Lopes e Paula Lopes reclamam pelo jantar. Fernando acompanha-as até o centro comercial para que elas possam jantar acompanhadas e também para ajudar Ana nas explicações à nova estagiária. Para Fernando, o dia hoje terminou, mas as emergências continuam pela noite fora…

Andreia Pereira
3º Comunicação Social

Voltar à escola compensa

Boa noite! Vão dizendo à medida que entram na sala de aula, os alunos do curso RVCC (reconhecimento validação e certificação de competências) para adultos, integrado no projecto Novas Oportunidades.
A confusão instala-se com a distribuição dos trabalhos corrigidos pelo formador de Português.
Os formadores, profissionais que acompanham o adulto, são de instituições que aderiram a esta iniciativa do Ministério da Educação e do Ministério do Trabalho e Solidariedade.
Este curso existe desde 2000 e veio dar resposta ao baixo índice de escolarização dos Portugueses.
Olinda Eufrásio, com a 4º classe, iniciou o curso RVCC a nível do ensino básico em Outubro e diz entusiasmada: “Espero poder sentir-me realizada a nível pessoal e profissional, alargar os meus conhecimentos”.
A formação consta de trabalhos realizados em casa que puxam pela reflexão, com temas de várias áreas como a matemática e o português.
Posteriormente os trabalhos são corrigidos e distribuídos em aula, a entrega provoca um momento de silêncio, os alunos lêem as recomendações do formador, para melhorar no próximo trabalho.
No meio do frio que se faz sentir na sala, o professor continua a sua aula, os alunos mostram-se empenhados, embora sintam muitas dificuldades. “A falta de tempo, o trabalho, a família, os afazeres da casa, tornam tudo muito complicado e cansativo”, diz Olinda Eufrásio.
A exigência cresce ao longo do curso, são pedidos cada vez mais trabalhos, são realizados testes, fichas. “Está a complicar-se cada vez mais e para nós que já temos alguma idade não se tem revelado fácil”, diz, com ar de cansada, Maria Adília, aluna do ensino básico com 52 anos e o 8º ano incompleto.
Esta iniciativa para os adultos chega não só às escolas, mas também às juntas de freguesia. Vítor Nunes, vice presidente da junta de freguesia de Cernache (Coimbra) e director do curso Novas Oportunidades na escola secundária de Figueiró dos Vinhos, diz satisfeito: "O curso está a ser um êxito na nossa junta de freguesia, estão 60 pessoas inscritas, é uma capacidade de resposta para a população, o que é óptimo para o meio envolvente”.
As pessoas que frequentam o curso RVCC, esperam recuperar muitas coisas, hábitos de leitura, conhecimentos que já se encontravam esquecidos. “Este curso tem sido um remexer no meu passado e meter para o papel, usar coisas do dia a dia para aprender, como por exemplo uma simples factura” diz contente Maria Adília.
No final do curso os alunos têm de apresentar um dossiê pessoal com todos os trabalhos realizados e, ainda, apresentar ao júri de certificação, um trabalho realizado em Power Point.
Fernanda Lopes recebeu o seu certificado de 9º ano, em Março deste ano: “Este curso ajudou-me bastante no meu trabalho, sinto-me uma pessoa mais completa, mas não foi fácil conciliar os horários, só com muita força de vontade consegui terminar”.
Acabado o 9º ano e com o certificado na mão, Fernanda acrescenta: "Gostava de tirar o 12º ano, mas sei que vai ser muito mais exigente e é precisa mais disponibilidade”.
Segundo Vítor Nunes, o governo pretende até 2010 certificar meio milhão de pessoas a nível do 9º ano de escolaridade.
Este curso representa uma nova oportunidade para quem não conseguiu terminar os estudos, que sentem que vale a pena voltar a aprender, apenas com a experiência adquirida ao longo da vida.

Vânia Antunes
3º Comunicação Social

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Entre o sonho e a saudade

A emigração é uma tradição secular em Portugal. A procura de melhores condições de vida é a razão mais comum para a partida dos portugueses. Mas, muitas vezes, a ilusão transforma-se em desilusão.
“A chegada ao novo destino, a mudança de clima, a novidade do desconhecido, a nova casa, a cultura ainda desconhecida, são tudo factores ilusórios”, afirma Solange. Ela e o seu marido, Martim, fazem parte dos 28% de emigrantes permanentes no estrangeiro, segundo estatísticas do Instituto Nacional de Estatística (INE). Decidiram emigrar, pois a vida “não estava fácil”, diz, e têm dois filhos para criar. Escolheram Inglaterra como destino, por considerarem o país desenvolvido e adequado para os estudos dos filhos. Solange, de 39 anos, e Martim, de 46, ambos com a quarta classe, sonham que os filhos, Afonso e Luana, de 15 e 21 anos, “se possam formar e ser alguém na vida".
“Arranjar casa e trabalho foi fácil, as pessoas foram acolhedoras e também tinham boas referências nossas. Os patrões foram sempre sérios e prestáveis, quando necessário”, diz Martim, satisfeito. Já passaram três anos e não é o clima frio, a gastronomia, nem as diferenças culturais que preocupam o casal. “Outros valores falam mais alto”, afirma Solange, com olhar triste. Sentem a falta dos filhos. A saudade, a angústia e a preocupação, tiram o sono a estes pais. “As visitas a Portugal são frequentes, mas nunca são as suficientes”, confessa Luana, que gosta de passar férias com os pais, mas que prefere permanecer em Portugal.
Já Agonso, mudou-se para Inglaterra e, passadas algumas semanas, começou a frequentar a escola da localidade onde morava. Entrou para a equipa de futebol da cidade, chegando mesmo a ser seleccionado para representar a zona norte do país num torneio na Alemanha, e fez alguns amigos. “Inicialmente estava radiante e a adaptação foi muito positiva, novas cidades, novos estilos, nova língua, neve e tudo”, afirma, em tom de brincadeira, acrescentando: “O pior veio depois com as atitudes racistas e as perseguições”.
“Adorei o tempo que lá passei, o torneio na Alemanha, as brincadeiras, as miúda, mas não percebo porque não me deixavam em paz”, diz Afonso. As perseguições começaram na escola, tinha, por vezes, chegando mesmo a permanecer dentro da sala de aula no intervalo, com receio de alguns colegas. “Uma vez, se não fosse uma funcionária, atiravam-me de uma escada”, desabafa, com lágrimas nos olhos. “Estavam sempre a mandar-me para o meu país e a culpar-me de tudo o que acontecia. Cada dia, arranjavam um motivo novo para implicar comigo e acho que tinham inveja por eu tirar boas notas e ser bom jogador, não sei bem, não dava para perceber”, recorda.
Afonso regressou a Portugal um ano e meio depois. Não conseguiu acabar o nono ano, mas os pais optaram assim, pois preferiram que o seu filho “perdesse um ano na vida do que a vida em menos de um ano”.

Joana Martinho
3º Comunicação Social

O último porto de abrigo

O dia no lar começa bem cedo, com os pequenos-almoços a serem servidos na cama ou no refeitório, consoante a mobilidade das pessoas. Depois de “feita a higiene” a todos os utentes, alguns ficam pelo quarto, outros pelos espaços de convívio e outros aproveitam para passear.
É o caso de Manuel Maia, utente do lar da Santa Casa da Misericórdia de Vagos, que aproveita para dar o seu passeio sempre que pode. “O meu estado de saúde piorou e comecei a precisar de cuidados de saúde que sozinho não podia ter e que os meus filhos não me podiam dar”, explica.
Manuel Maia vive num lar completamente remodelado, onde o cheiro a novo se confunde com o odor característico da idade. Onde todos são como uma família, se ajudam uns aos outros e onde a fome “não bate à porta”. Diz ser muito bem tratado por todas as pessoas no lar e é com grande entusiasmo que recorda que, quando aí entrou, estava numa cadeira de rodas e hoje tem forças para andar pelo seu próprio pé. No meio do ruído da sala de convívio, comenta satisfeito: “Recebo visitas apenas de dois dos meus cinco filhos, mas aparecem cá duas a três vezes por semana”.
“Gosto muito de estar no lar porque não me sinto tão sozinho”, diz Manuel´Maia. “As condições da minha casa eram muito más e cheguei mesmo a passar fome”, afirma, com o olhar carregado de tristeza. A precariedade das habitações, o baixo rendimento, o abandono e o isolamento social são os principais problemas que afectam a vida dos idosos, mas que podem ser amenizados se estiverem num lar onde possam receber apoio físico e psicológico. Este idoso encontrou no lar muitos amigos, a sua nova casa está sempre cheia de luz e companhia nunca lhe falta.
Lígia Almeida, psicóloga no lar da Santa Casa da Misericórdia de Vagos e companheira de muitas conversas com Manuel Maia, comenta que nem todos os casos são iguais e que alguns idosos só recebem visitas “em épocas festivas e alguns quase nunca”. Os funcionários do lar tornam-se uma segunda família para os idosos que recebem deles o carinho negado pelos parentes. Segundo a psicóloga, as justificações para deixar os idosos no lar prendem-se geralmente com a necessidade de cuidados que o apoio domiciliário e a família não conseguem dar e também com a viuvez.
Lurdes Ferreira vive sozinha há cerca de 15 anos na sua casa a 1 km do lar e é no pequeno jardim em frente àquela instituição que procura companhia para algumas tardes. Tem filhos que não estão presentes e que raramente a vão visitar. É no banco do jardim, e com as lágrimas a caírem-lhe, que confessa sentir-se “muito sozinha”, dizendo já não ter capacidades para “cuidar sequer da sua higiene e da sua casa”. O lar é para esta idosa mais um motivo de inquietação, porque não consegue encontrar vagas. “Tenho procurado desesperadamente um lar aqui na região, mas não há vagas”, explica. O problema não é económico, porque as mensalidades adaptam-se ao rendimento de cada um. O que a entristece é “ter de esperar que alguém morra para poder ir para o lar”.
Este é um problema grave em Portugal. Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), o número de idosos em Portugal é superior ao número de jovens, mas faltam estabelecimentos para a terceira idade e, em alguns dos que existem, funcionam em condições deficientes.
Apenas 1 km separa fisicamente Manuel e Lurdes, mas a distância que os separa, no que respeita às condições de vida, é (ainda) intransponível. Pelo menos, até Lurdes encontrar também o seu porto de abrigo.

Joana Capucho
3º Comunicação Social

Aprender com a ESEC TV

A ESEC TV é uma estrutura de produção de vídeo e de televisão, que funciona na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) , graças ao trabalho de professores e alunos da licenciatura em Comunicação Social, mas também com a colaboração de alunos e docentes de outras licenciaturas. O seu funcionamento diário é assegurado por uma equipa de profissionais da área, formados na ESEC.
O projecto é coordenado por Francisco Amaral, professor da área das Ciências da Comunicação, das Organizações e dos Media, com o apoio técnico de Luís Pato e João Ventura, profissionais na área dos audiovisuais e funcionários da ESEC. Transformar a ESEC TV num pólo de formação na área dos audiovisuais, “incontornável para quem, na ESEC, queira fazer uma formação prática, séria e de exposição pública” é um dos principais objectivos do coordenador, Francisco Amaral, que tem “aberto as portas” da produtora aos alunos, proporcionando-lhes uma interacção pedagógica e real com o meio no qual, mais tarde, poderão vir a trabalhar.
Ao participar activamente na ESEC TV, os alunos têm a oportunidade de executar um produto real e não a sua simulação. Francisco Amaral acredita que “todos os alunos de Comunicação Social vão sair da Escola com a prática que as empresas sentem que não têm obrigação de lhes dar” e realça que, “conforme as capacidades de cada um, todos devem estar prontos a desempenhar funções nas empresas, e mesmo nas empresas que venham a ser por eles criadas”.
Para além desta vertente pedagógica, a ESEC TV produz para dois fins distintos: programas de televisão (RTP-2) e outros trabalhos em suportes multi-plataforma. Actualmente, produz um programa semanal de 30 minutos que se apresenta como um magazine cultural que aborda várias actividades e eventos desenvolvidos no Instituto Politécnico de Coimbra na ESEC e na cidade de Coimbra. É transmitido no Espaço Universidades, da RTP2.
Com esta janela aberta para o mundo exterior, a ESEC TV tem como principal preocupação colocar a cidade de Coimbra na pauta da agenda cultural de Portugal e mostrar a sua dinâmica artística, pois, em geral, quase só Lisboa e Porto têm visibilidade nos media.
Para Carina Esteves, produtora da ESEC TV, a cidade de Coimbra não tem “muita expressão nos media”, o que faz com que este magazine semanal seja muito bem aceite entre o público local. Este programa dá também a conhecer as actividades do Instituto Politécnico de Coimbra, principalmente aquelas organizadas pelos alunos.
Carina Esteves sintetiza a essência do projecto: a ESEC TV é, “ para além de um pólo de formação pedagógica para todos os alunos da ESEC, uma produtora, que produz jornalismo cultural” e que tem “oportunidade de o difundir através do seu magazine, todas as quartas-feiras de madrugada, na RTP2”.

Carolina Névoa
3º Comunicação Social

Amarelo-Azul

Na origem de um número cada vez maior de bebés proveta e da crescente inseminação artificial, destaca-se Robert Clark Graham, um milionário americano que se dedicou à engenharia genética e que já criou mais de 200 crianças: bebés em tubos de ensaio, cuja etiqueta tinha, apenas, escrito “Amarelo-Azul”.
Para a criação destes bebés existem algumas regras: os dadores de sémen não podem ter quaisquer fraquezas genéticas, não podem ter mais de 40 anos, não podem gerar mais de 20 filhos e, acima de tudo, e condição indispensável, deverão ter um Quociente de Inteligência (QI) de pelo menos 120 (mais 30 pontos do que a média). As mães têm de estar casadas com homens financeiramente bem sucedidos e que não possam ter filhos biológicos e têm de ter, também, um QI elevado.
O objectivo de Graham é melhorar a raça humana e não degradá-la. Será preciso tudo isto para a melhorar? Não deveria isso partir das próprias pessoas? Não será com pessoas como o Dr. Graham que a humanidade se degrada, querendo sempre mais e melhor do que aquilo que pode realmente ter? Por que ficará excluída deste tratamento uma pessoa que possua 119 de QI? Não valerá o mesmo que as outras apenas com mais um ponto?
O Dr. Graham assegura que são dadas as devidas oportunidades às crianças “de marca” para aproveitarem plenamente todo o potencial que têm e virem a ser pessoas importantes para a humanidade. E porque não dar as mesmas oportunidades a outras crianças “normais”? Se as “de marca” já são inteligentes ao ponto de aos 9 meses já andarem, aos 2 anos dominarem o computador e aos 5 lerem Shakespeare, poderiam dar-se essas tais oportunidades a outras crianças não tão inteligentes.
Esta história não lhe lembrará uma outra? Existe um inegável paralelismo entre gerar crianças super inteligentes e o sonho de um senhor chamado Hitler – que de senhor tinha muito pouco – de criar uma raça ariana superior. Não deveriam as oportunidades de crescimento e de desenvolvimento ser iguais para todos? Não só os homens e mulheres com elevado grau de inteligência deveriam trabalhar com este médico, assim como também os outros “menos dotados”? Se é para melhorar a raça humana, não estamos no caminho certo...
Sendo os bebés fruto e resultado de algo denominado “Amarelo-Azul” não sairão um pouco “verdes”? Talvez seja dessa côr a mentalidade deste brilhante cientista que deve amadurecer as suas ideias éticas…

Analisa Lucas
3º Comunicação Social

Usar sem abusar

É usual falar-se na dependência do tabaco, do álcool e das drogas , mas a dependência de determinados medicamentos já começa a ser encarada como um problema grave e muito sério na sociedade.
Os antidepressivos e os ansiolíticos, embora muitas vezes receitados para sintomas comuns e de resolução simples, tornaram-se na única solução para a chamada “doença da moda” – o stress.
Diana Oliveira, estudante, diz que começou a tomar antidepressivos porque tinha ataques de pânico frequentes. Só toma este tipo de medicamentos enquanto tiver acompanhamento psiquiátrico, até aprender a controlar os ataques sozinha.
A acção dos antidepressivos ocorre no Sistema Nervoso Central, normalizando o humor, mas só actuam em pessoas com depressão. Estes fármacos são utilizados para o tratamento da depressão (perturbação do humor), do pânico (caracterizado pelo desenvolvimento de ataques inesperados) e da fobia social (medo persistente e acentuado de situações sociais). Os antidepressivos podem levar à incapacidade de conduzir, ao risco de hipertensão arterial e a reacções paradoxais mais evidentes em idosos e crianças.
Receitados, usualmente, em simultâneo com os antidepressivos, os ansiolíticos são usados no combate da ansiedade patológica, visando tranquilizar o doente. Estes medicamentos tentam minimizar os sintomas de stress. São um perigo quando administrados incorrectamente. O uso de ansiolíticos pode provocar algumas reacções adversas, como sonolência, vómitos, dependência e vertigens.
Filipa Araújo, estudante de psicologia, reconhece que tomou ansiolíticos para conseguir controlar a ansiedade que sentia perante situações mais desfavoráveis. Esta estudante admite que quando tomava estes fármacos parecia ter um pouco mais de sonolência. Agora, já não os toma, porque aprendeu a controlar a sua ansiedade.
Segundo a revista Farmácia Saúde, os portugueses “consomem mais antdepressivos. Em 2001, venderam-se perto de 4 milhões de embalagens, mais do dobro do que se consumiu uma década antes (1,8 milhões em 1992). E vendem-se igualmente mais ansiolíticos, hipnóticos e sedativos, bem como neurolépticos”.
A Organização Mundial de Saúde (2001) prevê que a depressão se torne a maior causa de morbilidade nas primeiras duas décadas deste século.
Na opinião de António Oliveira Reis, farmacêutico, tem existido um aumento do consumo de antidepressivos e dos ansiolíticos, o que relaciona com uma sociedade que vive em stress, e que leva muitos a criarem dependência destes medicamentos.
Segundo Isabel Paiva, sub-chefe de Enfermagem, CPRArnes, “o uso prolongado pode causar dependência e síndrome de abstinência quando a medicação é interrompida”. Outros profissionais de saúde são da opinião que, actualmente, este tipo de psicofármacos são administrados em doses excessivas e, em alguns casos, desnecessárias, podendo ser substituídos por psicoterapias.
É frequente observar-se, principalmente nos serviços de Psiquiatria, a presença de doentes completamente sedados, ao ponto de não conseguirem satisfazer as suas necessidades básicas como higiene e alimentação de forma autónoma, o que não se verificava antes do processo de tratamento.
Fazendo uma analogia, a utilização dos psicofármacos deve funcionar como o corrimão, onde a pessoa se apoia para ter equilíbrio suficiente para subir uma escada muito alta. Logo que adquira a ritmo de subida, pode deixar o corrimão e continuar a subir sozinha. Este corrimão apenas dá sustentação, mas o esforço principal deve ser do doente. Neste processo a motivação e auto-estima são aspectos cruciais.

Sara Santos
3º Comunicação Social

Reabilitação ritmada

São 15H00. A Sala do Papel, no Pavilhão das Actividades, está toda decorada com trabalhos artesanais. A música natalícia vinda de um pequeno rádio torna o ambiente calmo e acolhedor. Cátia Curado, psicóloga, sentada em redor de uma mesa, elabora cartões de Natal com a ajuda de oito homens que recortam estrelas. À primeira vista ninguém diria que são oito dos cerca de 150 utentes que o Centro Psiquiátrico de Recuperação de Arnes (CPRArnes) alberga. Nas salas ao lado vêem-se garrafões encestados, caixas montadas, convites de casamento, ementas, … uma pluralidade de trabalhos manuais que conta com lugar reservado em várias feiras de artesanato.
É na confecção destes artigos, encomendados por entidades do exterior em grandes quantias, que os doentes do CPRArnes ocupam algum do se tempo. Segundo a coordenadora do Serviço Social da Instituição, Argentina Sobral, “a ocupação tem o fim de manter o doente activo, para que não haja perda de competências pessoais e laborais”.
Ao lado do Pavilhão das Actividades avista-se a Carpintaria. A música natalícia envolve também este ambiente. Entre madeiras e serrotes, João Basílio, carpinteiro credenciado, auxilia um utente no acabamento de um quadro de colmeias que se será colocado junto das outras dezenas já confeccionadas.
Dalí, ouve-se um som vindo da rua. É um tractor. Um funcionário prepara um dos poucos terrenos ainda em pousio. A restante área, de grandes proporções, já foi laborada pelos utentes. Os produtos de agricultura biológica ali cultivados destinam-se ao abastecimento de várias entidades de restauração.
Por desenvolverem estas actividades, os utentes recebem uma pequena remuneração monetária. Segundo Cátia Curado, factores como o comportamento, a assiduidade e a pontualidade interferem na quantia do pagamento que se destina a financiar alguns mimos, como um café ou um bolo.
Ainda na área das actividades, existe a residencial que complementa a vertente da autonomia pessoal. “Os doentes são encaminhados para a unidade habitacional, onde tomam conta de si próprios com o mínimo de supervisão, tendo um programa de actividades que visa aperfeiçoar as suas competências a todos os níveis”, esclarece o responsável clínico pelo Centro e psiquiatra, António Canhão.
No percurso que separa a residência dos restantes pavilhões respira-se ar puro. Há utentes a cuidar do jardim. Além da paisagem verde, do pomar das estufas, existe um campo de futebol onde, duas vezes por semana, os doentes têm aulas de Educação Física.
O relógio de Fátima Monteiro, auxiliar, marca 16H00. Cabe-lhe supervisionar as tarefas dos residentes, assim como a higiene pessoal ou a toma da medicação. O dia de labuta já terminou para João (nome fictício), que regressa à residência e trata da sua higiene pessoal. Um cheiro agradável caracteriza a sala do rés-do-chão, destinado ao centro de dia, onde Rui (nome fictício) espera a carrinha que o conduzirá até à estação de comboio, para regressar a casa. É um dos utentes externos que frequentam o centro das 9H00 às 16H20.
As escadas que partem da sala conduzem ao 1º andar, onde habitam os doentes internos. No quadro de cortiça pregado numa parede do corredor, estão afixadas várias listas de tarefas a realizar pelos utentes. No terraço, José (nome fictício) apanha a sua roupa do estendal. Lavou-a, estendeu-a e agora recolhe-a para a engomar. É o que todos os utentes fazem com o seu vestuário.
Enquanto Fátima Monteiro efectua algumas tarefas, é surpreendida por um utente que lhe dedica uma canção, ritmada com palmas. O ambiente em Arnes é animado. O fundamental, como diz Argentina Sobral, é “acreditar na reabilitação e apostar no apoio permanente”, pois só assim as taxas de sucesso continuarão a ser “altíssimas”.

Diana Andrade
3º Comunicação Social

Uma porta sempre aberta

A recepção é pequena para tanta gente. Há pessoas à espera na rua, outras aguardam pacientemente nos cafés do Terreiro da Erva. Entram com sacos vazios, saem com sacos cheios. Um homem na casa dos cinquenta, enrugado pelo tempo ou pela vida, pede à funcionária um blusão quente para o Inverno. “Agora não há”. Mas a funcionária promete : “Se para a semana vier algum, fica guardado para si”. É dia de distribuição no Centro Porta Amiga de Coimbra.
“Como filosofia, a população primeira com a qual trabalhamos é a sem-abrigo”, explica Paulo Pereira, assistente social e Coordenador do Centro Porta Amiga de Coimbra da AMI. Mas nem todos os utentes da Porta Amiga representam a face extrema da exclusão social. Os que hoje aguardam na recepção não são disso exemplo. Paulo Pereira salienta : “Atendemos toda e qualquer pessoa que se encontre numa situação de carência”.
Muitos daqueles que procuram esta ajuda estão marcados pela dureza da vida, por uma «pobreza tradicional», classifica o coordenador. Mas esta situação já não é regra. Actualmente, a maioria das pessoas que recorre ao centro já não faz parte da «pobreza e exclusão tradicionais». São pessoas como nós. «Novos pobres». Agora, todas as lógicas de intervenção social têm de ser readaptadas.
Raquel faz parte desta «nova classe». Entra cheia de pressa. Só pôde vir agora, teve de faltar às aulas do curso. Mostra a identificação e assina uma folha na recepção. Uma funcionária traz-lhe três caixas cheias. Vem buscar a parte de géneros alimentares a que tem direito esta semana.
No dia em que Raquel chegou à Porta Amiga em Coimbra, tal como todos os outros utentes, foi recebida por uma assistente social. Paulo Pereira deixa a questão: “E se um dia fôssemos nós a viver na rua, será que nos saberíamos mexer dentro dessa subcultura?”. A ilustração na nossa mente pretende que cheguemos à mesma conclusão que o coordenador: “Pedir pela primeira vez é sempre muito complicado”. A ajuda é prestada consoante as necessidades de cada um. O coordenador explica: “O centro assenta em duas lógicas de apoio: intervenção às necessidades básicas e serviços de apoio social, médico e jurídico”. Cada utente possui um processo onde é feita a listagem de todos os serviços dos quais vai usufruir.
Há pouco, muitos destes utentes acabaram de almoçar. O refeitório é pequeno, com uma capacidade que ronda as doze pessoas. É o “Restaurante do Coração”, um dos serviços que proporciona uma das necessidades mais básicas: alimentação. Mas só funciona ao almoço. De resto, o centro vai fornecendo géneros alimentares “conforme a necessidade”. Mas isso só serve àqueles que podem cozinhar em casa.
Não é o caso daqueles que fizeram da rua a sua morada. De dia, andam por aí alienados. Nós, sociedade, temos tendência para não os ver. “É a cegueira louca das pessoas”, define o assistente social, “é talvez o medo de um futuro”. Nas noites de Coimbra, oito instituições trabalham articuladamente na intervenção social com os sem-abrigo. “Há uma equipa de rua que todas as noites passa pelos locais onde eles estão, tenta motivá-los para a mudança, para aceitarem alojamento”, explica Paulo Pereira: “É o trabalho que não mostra resultados tão rapidamente”.
Estes «pequenos-grandes» trabalhos deveriam ser sempre recompensados. Mas nem sempre é assim. “Vai-se conseguindo alguma melhoria das condições de vida, alguma reinserção social”, afirma o coordenador, “mas, infelizmente, muitas das vezes, as pessoas voltam à situação inicial, não conseguem estar ao nível da normalidade imposta pela pressão social”.
Na recepção, entra agora um rapaz novo que aguardava na rua. Apenas quer confirmar a sua presença na Festa de Natal. É o próximo «pequeno-grande» evento realizado pela AMI. Um lanche no apertado refeitório do centro, com prendas para as crianças e cabazes de comida e roupa para os adultos.
Enquanto o rapaz dá o seu nome para a lista de presenças na festa, uma senhora abre a porta e pousa um saco cheio de roupa. Ao virar costas fica somente um “Feliz Natal”. A funcionária abre o saco. Mexe, remexe. Encontra um blusão, quente para o Inverno. Ainda na recepção, o homem marcado pela dureza do tempo ou da vida, reclama “Esse não, não é quente o suficiente”. O outro continua então prometido. Para a semana.
Já tem o seu saco na mão. Cheio. Hoje, nada mais há a fazer ali. “Venho então cá para a semana”, despede-se. E sai. Para trás dele, fica uma recepção ainda cheia com pessoas de sacos vazios que esperam a sua vez. E nas suas costas bate a porta onde se pode ler «A AMI enfrenta um Mundo que mais ninguém quer ver». Cegueira louca.

Vânia Furet
3º Comunicação Social

Amor gratuito

Os últimos raios de sol apontam para os singelos desenhos pendurados na parede. A sala de estar enche-se de luz e ilumina ainda mais as obras expostas dos “artistas de palmo e meio”. Entretanto, a Madre Maria Teresa Granado sorri, dizendo: “Deve estar mesmo a chegar, correu tudo bem de certeza…corre sempre!”. Passados poucos minutos irrompe pela sala uma menina saltitante e com um sorriso do tamanho do mundo. Inês (nome fictício) é uma das crianças da Comunidade Juvenil São Francisco de Assis que têm uma “Família Amiga” e acaba de chegar a “casa”, no final do fim-de-semana. “Foi fixe, fartei-me de passear” conta à Madre, sem nunca largar o sorriso.
As “Famílias Amigas” “apadrinham” uma, ou mais, crianças de uma instituição, indo “buscá-las para passarem fins-de-semana ou férias”, explica a Madre Teresa, directora da Comunidade Juvenil São Francisco de Assis. “Estas famílias têm que ser muito bem escolhidas e têm de ter consciência da responsabilidade que lhes é posta nas mãos”, sublinha. O processo começa no momento em que uma família decide acolher uma criança em sua casa. A partir desse instante recolhem-se “os dados habituais, ou seja, os números do BI, morada, profissão, entre outros”, conta a Madre Teresa. O processo de escolha das “Famílias Amigas” varia de instituição para instituição. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, por exemplo, exige que as famílias passem por uma entrevista e, posteriormente, se escolhidas, por uma formação. Existem, ainda, instituições que não são a favor destes projectos.
Consciências
“Este género de actividades só aumenta a instabilidade emocional das crianças” diz Margarida Pinhal, psicóloga da “Obra da Criança”, de Ílhavo. Esta instituição, que acolhe cerca de 30 crianças e jovens, é contra este tipo de programas. Segundo a psicóloga, “não é saudável mostrar às crianças uma realidade que não é a delas, isso causa traumas enormes”. A “Obra da Criança” teve, durante alguns anos, o projecto “Família Amiga”, contudo, explica Margarida Pinhal: “Chegámos à conclusão que a estabilidade emocional das crianças era muito afectada".
A opinião em relação a este género de projectos não é unânime no seio das instituições de solidariedade infantil. Exemplo disso é a “Comunidade Juvenil São Francisco de Assis”, em Coimbra. Para a directora da instituição, a Madre Maria Teresa Granado, estes projectos são de “grande valor porque é óptimo para as crianças puderem contactar com estas famílias”. A partir da convivência com as famílias que as acolhem, as crianças vêem como funciona uma família (com mãe, pai e filhos). Ao mesmo tempo que ganham esta noção, que lhes será útil quando, no futuro, constituírem família, apercebem-se de que as regras que lhes são impostas na instituição "são as mesmas que os pais impõem aos seus próprios filhos”, esclarece a directora.
Se em instituições, como a “Comunidade São Francisco de Assis”, cada família acolhe sempre a mesma criança, o mesmo não acontece em outras que têm este projecto. No Centro Paroquial e Social de Recardães, em Águeda, “cada criança tem 2 ou 3 famílias com quem costuma ir passar apenas os domingos”, diz Maria Gabriela, coordenadora do projecto. “É essencial garantir que as crianças não se pegam demasiado às famílias”, acrescenta.
A Família Amiga
João Carvalho, Maria do Céu e a filha Joana, constituem uma família que acolhe, há mais de dez anos, aos fins-de-semana, crianças do Centro Paroquial e Social de Recardães. Tudo começou porque “a Joana, quando acabou o curso de Serviço Social, esteve a estagiar no Centro e, como tinha muita pena das crianças, começou a trazer algumas cá para casa”, conta a mãe, Maria do Céu. O domingo é passado verdadeiramente em “família” e levam as crianças a passear e a contactar com a natureza porque “elas adoram”, dizem. Esta família descreve a experiência como “maravilhosa”. Mas “na hora da despedida é um sofrimento horrível, tanto para nós como para eles”, deixa escapar João Carvalho.

Salomé Filipe
3º Comunicação Social

Um ofício de paixão

Toda a gente passa. Todos olham. Ninguém compra. Mas o entusiasmo e a dedicação acompanham sempre o trabalho na Praça do Comércio. Um trabalho árduo, com paciência e perfeccionismo, sempre um ofício de paixão. De qualquer canto do mundo, de qualquer país, de um lugar desconhecido, eles vivem para a sua arte. São artistas de rua.
“Os meus retratos são desenhados a lápis de carvão ou a óleo sobre tela ou a pastel”, explica Anildo Santana. É alto e moreno. A sua roupa está manchada com diversos tons devido aos seus trabalhos secundários que são feitos com aguarela. Não se incomoda que alguém esteja a falar com ele enquanto trabalha desde que não tenha que olhar nos olhos: “Não posso me distrair, tenho muitos retratos para terminar”. Adora apresentar a sua arte na rua. Não estar fechado num ateliê e não pagar renda e, acima de tudo, “o contacto com o público ”. É assim que Anildo justifica a opção por trabalhar na rua.
Mesmo sendo uma tarde de Inverno, a Baixa de Coimbra está repleta de movimento. O sol convida as pessoas a passearem pelas ruas frias e cinzentas, a fazerem as suas compras de Natal, no entanto, poucas são as que compram presentes nas tendas dos denominados artistas de rua. Lurdes Santos monta a sua tenda apenas nesta época, durante duas semanas. Aqui, pode vender directamente ao cliente final e, assim, pedir um preço minimamente justo pelas suas peças.
A artesã considera o contacto com o público “pobre”, mas há sempre pessoas que admiram, enquanto outras optam por não se manifestar relativamente ao seu trabalho e aos dos seus “vizinhos” da praça. Essencialmente, aprende-se a lidar com todo o tipo de pessoas. Diz Marcelo Andrade, também artesão: “Vai-se adquirindo alguma experiência de vida e até aprendo a falar outras línguas”.
Oriundo das terras do Brasil, foi em Portugal que descobriu que as suas mãos eram capazes de manusear a semente da flor de jacarandá: "Quando cheguei a Portugal não tinha qualquer tipo de formação e, um dia, ao passear na Praça da República encontrei uma folha de jacarandá que despertou a minha criatividade”. Consegue criar bijutaria única e original, pois esta folha originária do Brasil é fruto da natureza e esta nunca se repete. Sendo uma forma de reciclagem, aproveita o que a natureza lhe dá.
O movimento é constante. Não há nenhuma mudança visível. A procura de peças exclusivas é escassa. Os mais curiosos, homens e mulheres, observam e comentam os trabalhos expostos nas tendas improvisadas. Perguntam aos artistas como é feito aquele tipo de trabalho:” Isto tudo é feito por si?”. Mas continuam o seu caminho sem comprarem nada.
Para criar peças diferentes com frequência é necessária inspiração. Uns dizem que a inspiração vem da “alma”, outros que vem da “falta de dinheiro” e há quem defenda que, quando há “paixão pela arte e dá prazer”, trabalha-se em qualquer lugar.
Os artistas de rua criam, inventam, transpiram arte, ou seja, tudo o que está para venda nas suas tendas são resultado da sua criatividade e inspiração. Seja uma tarde fria de Inverno ou uma tarde quente de Verão, as mentes inquietas destes "dotados com alguma coisa", não param. “Criação” é a palavra de ordem.


Daniela Couto
3º Comunicação Social

Europa sem fronteiras

A Europa está de portas abertas. São cada vez mais os jovens que se aventuram a descobrir novos países. O desejo de partilha de experiências e o conhecimento de novas culturas são duas fortes razões que incentivam jovens de toda a Europa a realizar a mobilidade Erasmus.
O protocolo Erasmus é um programa de mobilidade de estudantes do Ensino Superior entre estados membros da União Europeia. Permite que os alunos estudem noutro país por um período de 3, 6 e 12 meses. Os estudantes, dentro das universidades europeias que têm acordo Erasmus com a universidade que frequentam, podem escolher a instituição que lhes agrada mais.
Apesar da tarde de sol, sente-se o frio e corre um vento húmido vindo do rio Mondego, em Coimbra. “Não compreendo”, responde timidamente e com um sotaque italiano, Davide Russo, ao empregado do café onde está sentado, quando este lhe pergunta: “o que deseja tomar?”.
David Russo de 22 anos, trocou Florença por Coimbra há mais de três meses. Morava e estudava em Florença na Universitá degli Studi di Firenze, no 2º ano do curso de Estudos Internacionais. Chegou a Portugal em Setembro e escolheu estudar na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
“Realizar a mobilidade Erasmus era algo que não estava nos meus planos”, confessa Davide. Decidiu iniciar esta aventura depois de conhecer estudantes Erasmus portugueses que integraram a sua turma enquanto estudava na cidade italiana, “percebi que o contacto com outras culturas e pessoas, contribuem muito para a nossa evolução social e cultural”.
Chegou a Portugal sozinho, com “armas e bagagens”. Confessa ter sentido medo de não se integrar num país, para ele totalmente desconhecido. Os dias passaram, o medo desapareceu e admite agora, estar perfeitamente integrado na sociedade portuguesa. “Conheci pessoas novas incluindo outros estudantes Erasmus italianos e agora adoro esta cidade, as pessoas são muito simpáticas”, revela Davide.
Coimbra é conhecida, em Portugal, como a cidade dos estudantes e também considerada uma das que melhor integra os estudantes Erasmus. Davide é um dos 530 estudantes Erasmus nesta cidade portuguesa e a Universidade de Coimbra conta com 340 acordos entre universidades e instituições públicas e privadas por toda a União Europeia. Frequentemente são organizadas festas de Erasmus, na qual pode participar qualquer pessoa (mesmo não sendo estudante ou Erasmus). O importante é “a partilha de culturas e experiências”, esclarece Davide, num português ainda confuso. Com espanto, recorda ter encontrado numa dessas festas, alguns dos portugueses Erasmus que conheceu em Florença.
Escolheu Portugal, por ser um país quente e principalmente, por ter curiosidade em conhecer a cultura portuguesa. A escolha da cidade de Coimbra também não foi ao acaso. Colegas de turma, em Florença, que já tinham realizado esta mobilidade, descreveram as suas vivências pela “cidade dos estudantes portuguesa” como uma “experiência única” e “muito produtiva a nível social e educacional”.
Quanto ao ensino português, Davide, considera-o “acessível”. As disciplinas que escolheu realizar na Faculdade de Letras são semelhantes ás que realizou em Itália, mostrando-se por isso optimista em relação ao seu aproveitamento escolar neste ano lectivo.
Veio para ficar durante seis meses mas, pensa agora em prolongar o prazo da sua matrícula em Portugal, “já contactei os serviços administrativos da minha universidade em Florença, para saber se é possível ficar em Coimbra mais um semestre”. Está a adorar esta nova experiência. Ambiciona repetir a mobilidade Erasmus antes de finalizar o curso. Caso isso não seja possível, promete voltar em breve para rever os amigos, com os quais garante ter “traçado grandes laços de amizade”.

Cláudia Ferreiro
3º Comunicação Social

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Mancha sem nódoa

Dizem os adeptos mais emotivos que ser da Académica é ter paixão. É gritar, lutar, apoiar, enrouquecer, incentivar, ir, estar, defender, acreditar, resistir, crer, rir e chorar. O preto que os une na bandeira, nas camisolas, na capa e na batina é o mesmo que os irmana sob o historial do clube, com os seus valores, os princípios e ideais.
A Mancha Negra surgiu da fusão de três claques, Força Negra, Maré Negra e Solum Power. Nasceu no dia 3 de Março de 1985, num jogo entre a Académica e o Sporting de Braga. A claque decidiu usar o nome de uma das personagens de Walt Disney, o vilão Mancha Negra e, ao contrário do que o nome indica, dá sempre um colorido aos estádios onde se apresenta. Desde cedo que os objectivos do grupo passaram por estabelecer amizades com outras claques, por “torcer” pela Académica e por contribuir para o desenvolvimento do espírito “ultra” em Portugal.
O número de inscritos na Mancha Negra, e com a situação regularizada, tem vindo a diminuir, ficando, actualmente, pelos 1300. “Para ser sócio da Mancha Negra é necessário, antes de mais, ser-se sócio da Académica”, esclarece Bruno Dinis, antigo membro da direcção.
No contexto actual do clube, a opinião da Mancha Negra é ouvida regularmente, quer pelas sucessivas direcções da “Briosa”, quer pela comunicação social da zona centro do país.
Desde a sua fundação, a “MN” nunca deixou de apoiar a Académica e assume-se “100% Briosa” e conta com o apoio da direcção do clube. Actualmente, a claque está organizada por núcleos que representam as várias zonas da cidade, cujos chefes, asseguram que a informação chega rapidamente a todos os membros.
Muitos olham de lado para as claques, talvez por apenas as associarem a episódios de violência. Ao longo dos tempos, a Mancha Negra foi evoluindo em termos de mentalidade e conseguiu, apesar da presença, de muitos anos, da Académica na segunda divisão, criar fortes raízes que hoje em dia sustentam a claque. Luís Carvalho, membro do núcleo de S. Martinho do Bispo e adepto incondicional da Briosa, reforça essa ideia: “A MN é, acima de tudo, um grande grupo de amigos”. A Mancha Negra encontra-se neste momento bem preparada para receber novos elementos, na certeza de que a mensagem passará correctamente a quem chega e de que todos ficarão imbuídos do verdadeiro espírito “ultra”.
Organização é algo em que nunca foi forte. No entanto, tem-se mudado gradualmente esta forma de estar da claque e, aos poucos, a organização tem vindo a impor-se. A criação da revista Central B é exemplo disso. Funciona como veículo de transmissão das ideias dos adeptos da Académica em geral e dos “manchas” em particular. A claque criou também o seu sítio na web (www.manchanegra85.com) com o intuito de estar mais próxima das pessoas, nomeadamente dos seus membros. “É uma forma de apresentar às pessoas a sua história, as suas actividades e as suas aventuras em cada viagem”, esclarece Bruno Dinis.
A Mancha Negra tem sido uma claque muito activa e atenta aos problemas da Académica. Deste modo, os membros da Mancha não se inibem de fazer passar a sua mensagem, quer participando nas assembleias de sócios do clube, quer no estádio, lugar de eleição para a actuação da claque.
Para os elementos da MN, o espectáculo das bancadas não se restringe somente aos cânticos de incentivo à equipa e afirmam que as coreografias são uma espécie de arte. Para Luís Carvalho, esta é uma forma de demonstrar o seu amor pela “Briosa” e pela cidade de Coimbra. “Um dia, até fiz uma bandeira com 15 metros quadrados”, conta cheio de orgulho. A “arte” exibida nas bancadas reflecte um trabalho árduo, levado a cabo durante semanas por alguns “ultras”. “O prazer de assistir ao resultado desse trabalho, de saber que a coreografia teve o efeito desejado é comparável, muitas vezes, ao sabor das vitórias da Briosa”, afirma Luís Carvalho.
A vida da claque não passa apenas pelo futebol. As actividades paralelas são uma constante. O convívio na sede, a realização de “patuscadas” e grandes jantares, os jogos de futsal entre os elementos e outras actividades lúdicas são parte integrante do dia-a-dia da Mancha Negra.
Apesar de, por vezes, o clube não lhes dar tantas alegrias com desejariam, os “manchas” continuam a apoiar incondicionalmente a Briosa. Bruno Dinis remata: “é uma claque diferente, num clube diferente. Não nos cansamos de dizer que se ela jogasse no céu, morreríamos para a ver jogar”. Grupo 2

K&Batuna participa em concurso

A Tuna Académica da Escola Superior de Educação de Coimbra, a K&Batuna, está a participar numa iniciativa promovida por uma marca de cerveja nacional, com o intuito de criar um hino para este produto.

Intitulado “Hino à verdade”, decorre de 1 de Outubro a 31 de Dezembro de 2007 e visa estimular a criatividade de tunas académicas de todo o país,que, caso aceitem o desafio, têm de produzir letra e música originais alusivas à empresa organizadora.

Para João Madeira, elemento da K&Batuna, "há muita esperança numa boa prestação". Este estudante justifica o optimismo com o argumento de que esta é uma das tunas "com melhor sonoridade em Coimbra”. Como prémio final, estão em jogo um bilhete de InterRail para 20 pessoas, assim como a possibilidade de a canção vencedora ser usada em spots publicitários.

O projecto, que está a ser gravado no estúdio do CEMEIA (Centro de Meios Audiovisuais da escola), encontra-se na fase final de produção. Resta à K&Batuna esperar pelo dia 11 de Janeiro para conhecer o resultado do concurso. Raquel Cerca, que toca pandeireta no grupo, salienta que, "se a tuna da ESEC não for a contemplada, não faz mal. O que vale é a participação", remata. Grupo 2

 

Classe Media © 2007 Álvaro Vieira