quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Furacão Teresa

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Quando se ouve risota ou agitação na ESEC, o mais certo será Teresa Jorge estar aí. Nasceu em Luanda há 34 anos. Veio para Portugal com sete meses, mas sonha um dia voltar a Angola.
Morou sempre em Outil, concelho de Cantanhede.
No secundário escolheu Humanidades, mas o seu sonho sempre foi Desporto. Também quis seguir a carreira do pai, polícia, ou ser militar, mas a Matemática fê-la desistir. "Sou a rebelde lá de casa, a mulher do desporto. O meu irmão era o menino queque", conta Teresa Jorge, que sublinha ser do signo Escorpião.
Entrou na Escola Superior de Educação da Guarda em Relações Públicas. "Foram os melhores anos da minha vida. Era a mais maluca das quatro lá de casa", diz divertida. No final do bacharelato, fez cinco estágios. O primeiro foi na Câmara Municipal de Cantanhede: “Ganhei muito calo, foi a escola da minha vida”. O mesmo aconteceu na Purina, a empresa das rações para animais, onde ganhava 115 contos (575 euros) que pareciam uma fortuna. “Fiquei doida!”, recorda extasiada. Foi para o Governo Civil de Coimbra durante ano e meio, mas dessa vez ficou desiludida. "Ensinou-me o pior".
Chega então à ESEC em 1999, para se licenciar. No estágio profissional que cumpriu nesta escola, abriu o Gabinete de Relações Públicas e acabou por ficar efectiva na casa. Diz que, até 2003, tudo correu bem, mas que, a partir daí, com a mudança de conselho directivo, as coisas pioraram. “Ou és forte e aguentas ou, então, sofres bastante. Quanto mais tentava provar, menos queriam saber, e os meus projectos não saíam da prateleira. Eu gosto que me piquem, que me explorem”. Até Junho de 2007, quando entra novo directivo, confessa ter sofrido bastante. Agora sente-se outra: “Há feedback, respeito e sou ouvida”. Conta que aquilo que mais a prende à escola são os alunos. “Ninguém sai do meu gabinete sem que fique tudo tratado. Se as pessoas me procuram, é porque precisam da minha ajuda”, reforça.
Em 2002, Teresa Jorge deu aulas de Relações Públicas a alunos de Turismo em Cabo Verde, durante duas semanas. “Fui assaltada por miúdos! A partir daí, senti-me preparada para tudo e fui passar férias sozinha ao Brasil”.
Apesar dos altos e baixos por que passou na escola, não faltou um único dia.
“A melhor coisa que me aconteceu na ESEC foi ter conhecido o Armando”. Começaram a namorar em 2004 e casaram um ano depois. “O primeiro beijo tive de ser eu a dar-lho, em frente ao guichet dos Serviços Académicos. Depois da hora de expediente!”, ressalva a rir.
Casou pelo Registo Civil, de ténis e jardineiras, depois de ter feito o noivo andar atrás dela na manhã do casamento, pensando que Teresa se teria arrependido. “Cheguei ao tribunal e escondi o carro atrás de uns arbustos e o Armando, desesperado, foi à praia procurar-me. Liguei-lhe a gritar: ‘Onde é que tu estás, Armando? Estou à tua espera para nos casarmos!’”. Um mês depois, casaram pela igreja e foram morar para a casa que Teresa orgulhosamente desenhou. “Decidi ir morar sozinha quando ainda estava com os meus pais. Imaginei e concretizei cada parte da minha casa”.
A independência sempre foi um objectivo de Teresa Jorge, que trabalhava durante as férias para ter o seu dinheiro de bolso. Desenvolveu o projecto “Tempos Activos” com o marido (“T” de Teresa e “A” de Armando). Ela ensina Aeróbica e ele Informática, tudo a baixo custo na Junta de Freguesia de Outil, cujo executico Teresa integra. A iniciativa ajudou-a a abstrair-se da ESEC, fora do horário de trabalho. Diz estar na junta “não pela política, mas pelo povo”.
O cancro despertou especial atenção em Teresa, depois da morte da mãe de uma amiga. “Apercebi-me de que a saúde é o nosso bem mais precioso, mais importante do que uma conta cheia de euros. Tomei conta dos filhos da minha amiga, depois de a mãe lhe ter morrido com cancro e de também a ela lhe ter sido diagnosticado o mesmo problema”. Por isso, todos os anos, Teresa realiza jantares cuja receita reverte a favor do Instituto Português de Oncologia de Coimbra ou da associação Acreditar. Para não pensarem que é “uma obcecada por cancros”, decidiu também organizar jantares para ajudar os bombeiros de Cantanhede.
Detesta esperar, mas desta vez não teve hipótese. Falta-lhe um mês para ser mãe. “É muito bom estar grávida, mas estou farta. Só quero ter este, mas gostava de adoptar uma ou duas crianças”. Já garantiu que, “se aos 9 meses o João não estiver cá fora, vão ver uma doida a subir e descer as escadas monumentais até provocar o parto”.
Apesar de também gostar de dar e receber carinho, Teresa assume-se como exigente e impulsiva: “Quando me empancam eu expludo e posso perder a razão”. O marido concorda e acrescenta que ela “é muito exigente”.
Teresa não desiste dos sonhos. “Gostava de abrir uma empresa de organização de eventos na área de hotelaria, ou algo ligado ao desporto”. Seja o que for que o futuro lhe reserve, será sempre algo ligado às pessoas. “A minha vida é gira, porque estou sempre em contacto com os outros. Sozinhos não somos nada”. Grupo 3

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