reportagem
São 9 da noite de um dia normal. Na Almedina, está a começar uma conferência. Já chegou à Bertrand o autor convidado para uma sessão de autógrafos e, na FNAC, estende-se a tela branca para projectar a curta-metragem de um jovem realizador.
As livrarias já não se limitam a vender livros. Perceber porquê implica recuar 50 anos no tempo. Estamos em França e vamos entrar na loja de electrodomésticos que vai ditar o ponto de viragem no conceito de livraria. O director de comunicação da FNAC, Viriato Filipe, explica que o conceito FNAC nasceu exactamente em 1954. "Na altura, estavamos em pleno na vaga de democratização dos electrodomésticos e os fundadores queriam que qualquer pessoa tivesse acesso a essas modernidades".
Há pouco mais de dois anos, a Bertrand abriu uma nova livraria em Coimbra. O espaço foi pensado durante quase um ano e, além de uma cafetaria, tem também um auditório. Nuno Matias, da Bertrand, considera que a loja do Dolce Vita, a maior do grupo no país, reflecte a "necessidade de haver um espaço maior na cidade, não só para comercializar livros mas também para dar algum espaço de lazer ao cliente". "Pensou-se numa cafetaria com luz natural, para que o cliente pudesse tomar o seu café, pudesse ler o seu livro relaxadamente... Pensámos também em ter um auditório e aliar um pouco as actividades que estão paralelas com a loja, como por exemplo as sessões de autógrafos", recorda Nuno Matias.
Alguns metros abaixo, no Estádio Cidade de Coimbra, abriu uma nova Almedina. O espaço tem uma cafetaria a funcionar durante o dia e uma sala de conferências durante a noite. A primeira Almedina a nascer no novo conceito foi a do Porto. O director de marketing, Pedro Sobral, diz que os novos espaços "não têm a ver com um conceito anterior que não estivesse a funcionar": "Foi apenas uma questão de inovação. O conceito clássico das livrarias Almedina já funcionava extraordinariamente bem", explica.
As livrarias portuguesas estão em fase de transição para o novo conceito. Uma realidade influenciada pelo aparecimento da FNAC em Portugal. "Sem querer puxar a brasa à minha sardinha, todos nós sabemos que, em Portugal, houve um 'antes' e um 'depois' de a FNAC ter entrado no mercado. Exactamente, porque as livrarias se deram conta de que vender livros não poderia ser feito de forma elitista, mas sim de uma forma acessível a toda a gente, como acontece com qualquer outro produto. E essa revolução que aconteceu em Portugal, penso eu, foi muito influenciada pela FNAC", sublinha.
A Bertrand nega a influência da FNAC e assegura que o novo espaço foi uma ideia nascida na própria livraria. Nuno Matias garante que este projecto não foi pensado em função de qualquer referência "nem de dentro nem de fora do país". "Na Bertrand, começámos a perceber que cultura não é só vender livros, mas também proporcionar um espaço".
Ao contrário da Bertrand, a Almedina assume que o conceito não é novo. O responsável do departamento de comunicação, Pedro Sobral, põe o acento tónico na adaptação dos espaços às diferentes cidades. «Obviamente que a integração de vários conceitos no mesmo espaço existe até fora do mundo livreiro. O que aqui tentámos foi ver o que melhor se adaptava ao modelo e à estratégia que a Almedina tem, mas também às cidades onde esta se inseria. Uma cafetaria e um espaço de discussão faz todo o sentido numa cidade como Coimbra, uma cidade que tem uma tradição muito grande".
Os livros podem ser consultados pelos potenciais clientes. Os espaços estão revestidos com um design moderno e têm acesso à Internet sem fios. As livrarias deixam de ser um simples ponto comercial e assumem-se como espaço de lazer e de trabalho. A ideia agrada aos clientes. Paula Amado é enfermeira. Sentada em frente ao computador portátil na Almedina do Estádio, confessa-se fã das novas livrarias. "Pessoalmente, gosto. Não só permite uma melhor consulta dos livros como é também mais agradável, sem ser apenas aquele espaço tradicional de compra", declara.
Também a Bertrand do Dolce Vita assegura que o espaço está a ter muito sucesso. Nuno Matias garante que, "quando a loja abriu, foi a mais visitada do Dolce Vita e o feedback dos clientes foi muito positivo. As pessoas gostaram bastante", reforça.
Trinta por cento do que a FNAC vende são livros. Para Viriato Filipe, isto prova "o sucesso, não só dos livros, mas também do próprio conceito da FNAC, do livre acesso e de possibilitar a espontaneidade das pessoas em relação aos livros e à leitura".
A perder ficam as livrarias tradicionais que, por serem mais pequenas, não têm possibilidade de se modernizar. "Só tenho os meus clientes habituais. Esses shoppings novos roubaram-nos muita clientela. Se tivesse de pagar o aluguer deste espaço, já tinha fechado há muito tempo", comenta Maria Alice, dona de uma pequena livraria.
Os grandes espaços ficam cada vez maiores. Por um lado, estão a prejudicar o negócio das pequenas livrarias. Mas, por outro, estão a aumentar a oferta cultural das cidades. Todos os dias há conferências e debates, e conquista-se mais público para novas iniciativas. Nas livrarias de hoje há auditórios e cafetarias, mas o objectivo continua a ser o mesmo: vender livros. Grupo 3
sexta-feira, 16 de novembro de 2007
“O Código Da Vinci e um café, por favor”
às
02:03
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