sábado, 10 de novembro de 2007

Bibliotecária por acidente


entrevista

Margarida Paiva é coordenadora do Centro de Documentação e Informação (CDI) da Escola Superior de Educação de Coimbra. Chefia, desde 1987, a equipa responsável pelo funcionamento da biblioteca da escola, estando intimamente ligada a toda a história da própria ESEC. Conta como iniciou as funções na escola e diz que “se começa a gostar dos livros no berço”

Há quanto tempo é coordenadora do CDI?
Eu sou considerada da velha guarda, iniciei as minhas funções na escola em 1987, ainda no primeiro edifício da ESEC, na Rua Pinheiro Chagas, onde se deram os primeiros passos para o arranque da escola. Partilhávamos o edifício com os Serviços de Assessoria da Universidade de Coimbra, que ainda hoje aí funcionam. No ano seguinte, ocupámos as actuais instalações da escola, em coabitação com a Escola do Magistério Primário de Coimbra que cessava funções nesse ano mas ainda estava em funcionamento. A parte do edifício onde hoje está instalada a biblioteca ainda estava em obras e ocupámos a sala que hoje tem o nome da primeira presidente da ESEC, a Dra. Maria Alice Gouveia, e uma sala contígua, que hoje funciona como sala de informática.

Gosta do que faz? Como é que se tornou bibliotecária?
Isto de ser bibliotecária foi tudo um acidente! A minha formação é na área das Ciências Pedagógicas de Filologia Romana, actualmente designada apenas por curso de Português/Francês. No entanto, surgiu a oportunidade de ir dinamizar a biblioteca do Centro de Medicina Pedagógica de Coimbra e eu aceitei o desafio. Como não tinha qualquer formação nesta área, inscrevi-me no curso de Técnicos Auxiliares de Biblioteca e Documentação, que só existia em Lisboa. No ano seguinte, iniciei o curso de Bibliotecário, Arquivista e Documentalista da FLUC, que era algo parecido com uma pós-graduação, mas já desempenhava funções no Centro de Medicina Pedagógica. Gosto muito do que faço e gosto muito de trabalhar. No entanto, não gosto muito de estar fechada num gabinete. Apesar de desempenhar o meu trabalho essencialmente num gabinete, gosto muito do contacto com as pessoas. Se este emprego for assumido de forma fundamentalista, tornamo-nos nuns ratos de biblioteca. E eu ratos… só os dos computadores! Gosto do que faço, todavia não gosto só das tarefas técnicas. Sempre que me dão a oportunidade de participar noutros projectos, eu vou. Gosto bastante do trabalho de grupo e, tal como no CDI, gosto de trabalhar em articulação com várias pessoas. Acho também que a biblioteca pode servir como detonadora de diversos projectos e que deve ajudar no desenvolvimento de variadas ideias. Um exemplo é o último projecto que esteve aqui na escola, o Magic Pencil.

Acha que os jovens lêem menos? Qual é a sua opinião sobre o estado da leitura em Portugal?
Eu digo sempre que se começa a gostar dos livros no berço. Mas penso que, hoje em dia, as famílias já têm outra preocupação com a leitura, têm já um sentido de motivação para o livro e para a arte de ler. Também porque há outros meios de leitura, nomeadamente os meios informáticos. As próprias bibliotecas estão a adaptar-se a estes novos meios de informação e de leitura. Até porque voltámos àquilo que acontecia na antiguidade, onde os copistas dos manuscritos originais deixavam notas nas margens, que mais tarde eram incluídas no documento, e que davam origem a um novo documento. Com os novos meios informáticos, temos outra vez a capacidade de intervir nos documentos. Segundo os dados que são do conhecimento do público, os hábitos de leitura têm melhorado nos últimos anos em Portugal. E penso que a Internet é um meio útil para esse crescimento.

Hoje em dia assiste-se a um aumento de utilização da biblioteca. Pode já falar-se de um “efeito Bolonha”?
Em primeiro lugar, não devemos avaliar o número de utilizadores pelos alunos que estão na biblioteca. Muitas vezes, os utilizadores não estão a fazer trabalhos de pesquisa, mas apenas a estudar. Não me queixo da falta de utilizadores, até porque temos cerca de 4000 pessoas inscritas, das quais 1600 são pessoas externas à ESEC e o restante serão os alunos e funcionários da escola. E isto pode ser constatado por toda a gente, pois a biblioteca tem um elevado grau de ocupação. À partida, deveríamos ter lugar para 10% dos alunos, no entanto não temos espaço físico para essa capacidade de resposta. Todavia, parece-me falacioso, e prematuro, associar essa ocupação com os novos cursos de Bolonha.

O novo espaço da biblioteca melhorou as condições dos alunos da ESEC?
Claro que sim. E muito. Havia uma enorme falta de espaço reservado a trabalho de grupo. A área de trabalho de grupo era contígua à área técnica da biblioteca, numa espécie de aquário dentro da própria sala da biblioteca. Faltava-nos, de facto, uma área independente para esses trabalhos. E esta última intervenção foi bastante importante, pois ganhámos espaço. Tínhamos a parte das revistas, dos manuais escolares e do audiovisual na sala de leitura que, com esta remodelação, passaram para uma zona própria da biblioteca, com claros ganhos para os seus utilizadores. Com essa separação ganha-se também algum silêncio na parte da biblioteca destinada à pesquisa.

O acervo do CDI é suficiente para as necessidades da ESEC? Há alunos que se queixam de ter de recorrer a outras bibliotecas para consultarem os livros de que necessitam…
Eu não sou responsável por isso, pois isso prende-se com quem faz a proposta das aquisições. Os professores têm a responsabilidade de executar os programas e apresentar as bibliografias. Portanto, ou me dizem para adquirir tudo o que está na bibliografia ou então têm de me indicar o que é essencial na bibliografia de cada área. Nós já fizemos o levantamento de todas as bibliografias digitalizadas, que estão na Internet, para ver o que nós não tínhamos. Verificámos que faltava muita coisa. Fizemos uma proposta ao Conselho Directivo e a resposta foi negativa, devido aos valores que isso acarretava. Há obras que são referências de cada curso, e faz parte das minhas competências propor a aquisição dessas mesmas obras. Agora, do ponto de vista bibliográfico, são os professores que têm de propor as obras. Nós damos andamento a todas as propostas. O que acontece é que, por vezes, não nos chegam essas propostas ou não há capacidade para a aquisição dessas obras.

Quais são os livros mais requisitados?
Houve uma altura em que os livros mais requisitados eram os manuais escolares, e isso não diz muito bem de nós, como escola. Hoje em dia já é diferente, há uma maior orientação por parte dos professores para a consulta de livros na biblioteca. E isso reflecte-se nos livros mais requisitados, sobretudo os dos cursos de Turismo, da área da Educação e da área da Comunicação.

Que tipo de eventos é que o CDI promove?
Nós oficialmente não temos que promover eventos, mas eu gosto muito de colaborar com os projectos da ESEC. Gosto de me envolver com tudo o que acontece na escola. O que retenho de mais bonito da minha vida profissional são todos os projectos em que me envolvi aqui na escola. Já organizámos grandes projectos, em conjunto com a Câmara Municipal de Coimbra, com a Fundação Bissaya Barreto, por exemplo. Actualmente, já não é possível realizar esse tipo de projectos, mas sempre que aparece algo, e sempre que me deixam apanhar a carruagem, eu entro! O projecto do Magic Pencil é disso um exemplo. Foi um projecto que me foi proposto pelas pessoas do British Council e eu aceitei o desafio.

Quais são as perspectivas para o futuro da biblioteca e do CDI?
Eu gostava muito de alargar o espaço, mas tenho consciência de que há serviços dentro da escola que estão muito pior do que nós. Gostava de ter um espaço dedicado ao estudo, que permitisse à biblioteca ser um espaço mais silencioso, com melhores condições para pesquisa. Penso que o crescimento será inevitável. Por outro lado, acho que os recursos electrónicos são cada vez mais uma aposta. E o futuro passará por ter muitos dos trabalhos que são produzidos por professores e alunos da escola. É algo que ainda não temos. Mas o futuro passará também por aí. Grupo 2

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