sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Moisés, dos Quinta do Bill:
"Sou um aluno como outro qualquer"


entrevista
Aos 45 anos, o vocalista dos Quinta do Bill, Carlos Moisés, regressa à escola. Invertem-se os papéis. Passou de professor para aluno e está no primeiro ano do novo curso de Música da ESEC. Todos os dias faz 160 quilómetros entre Coimbra e Tomar, cidade onde continua a viver. No ano em que os Quinta do Bill comemoram 20 anos de existência, o vocalista da banda da cidade dos tabuleiros falou ao cl@sse-media sobre a nova fase da sua vida.

Deixou o projecto dos Quinta do Bill de lado para se dedicar aos estudos?
Não. Estou a fazer paralelamente as duas coisas. Tenho de conseguir compatibilizar esta opção de voltar a estudar com a continuação do projecto Quinta do Bill.

Porque é que decidiu continuar a estudar?
Já tenho uma certa idade, mas nunca é tarde. Não cheguei a acabar o conservatório e resolvi tirar a licenciatura em música. O curso está a ser muito interessante. Estou a gostar imenso, tanto dos professores como dos colegas.

A ESEC foi o único sítio para onde concorreu?
Praticamente foi. Inicialmente também tinha pensado em Castelo Branco, mas já tinham acabado as inscrições. Penso que acaba por ser mais acessível aqui em Coimbra, embora faça viagens de ida e volta todos os dias. São 80 km e nunca demoro menos do que 1h40 min, mas tem de ser…

E porquê a ESEC?
Escolhi a ESEC porque, como vivo em Tomar, de certa forma, ficava perto. Também conhecia algumas pessoas que já tinham passado por cá e também alguns professores de outras escolas que me aconselharam a tirar a licenciatura. Sinto-me bem aqui e estou a gostar imenso do curso, do convívio, dos colegas e de partilhar conhecimento. Este início do ano lectivo está a ser aliciante, apesar de haver muito trabalho e muita matéria. Espero conseguir ir até ao fim.

Como consegue conciliar os Quinta do Bill com o curso?
Com uma certa ginástica e uma gestão do tempo quase nos limites. Faço um esforço enorme. Como tenho um filho, tenho de fazer uma boa gestão das horas. Tenho pouquíssimo tempo, mas com força de vontade vou fazendo todos os possíveis para me conseguir dedicar aos dois projectos.

E na família, quais foram as reacções?
Isto acaba por ser um pouco violento, um bocado ingrato. Como já disse, tenho um filho e é pequenino, tem 4 anos, e há dias em que só o vejo uma hora, duas horas… Portanto, depois tenho de compensar nos dias em que tenho um pouco mais de tempo para poder estar com ele. Mas é uma questão de rotina.

Mas qual é a prioridade neste momento? O curso ou a banda?
São as duas coisas. Os Quinta do Bill são um projecto que já tem 20 anos. A determinada altura, a banda deixou de ser um hobbie para passar a ser uma profissão. No fundo, acabo por ser um músico profissional por causa do grupo, mas quero, ao mesmo tempo, ir fazendo os meus estudos e adquirindo mais conhecimentos. O objectivo é esse.

Sabemos que dá aulas.
Sim, dei. Mas este ano tive de deixar de leccionar. Não tinha tempo.

Na ESEC, já alguma vez foi confundido com um professor?
É provável (risos), muito provável. Mas sou um reles “caloiro”.

Acha que os professores o tratam de maneira diferente?
Não, de maneira nenhuma. Sou um aluno como outro qualquer. Nem eu queria que fosse de outra forma. Por acaso tenho sido um aluno assíduo. Penso que é importante vir às aulas, porque assimilamos muito melhor a matéria.

Tem algum projecto para depois do curso?
Provavelmente, dar aulas. Esta vida de músico é um bocado efémera, as coisas deixam de estar em graça. De certa forma, acabar o curso, também é uma solução mais segura em termos profissionais.

Que mais-valias acha que o curso lhe vai dar?
Este curso tem uma vertente de ensino, mas também tem outras saídas profissionais, nomeadamente na área da cultura. Como tem uma vertente mais tecnológica, abre muito o espectro de soluções e de saídas profissionais.

Tem alguma ideia quanto ao futuro?
Vou tendo, vou criando… Isto também acaba por ser uma descoberta, no fundo, entrar numa aventura. Tal como me acontece na música. Como imaginam, também no grupo em si existem várias saídas profissionais, passando não só por fazer música, gravá-la…

Os Quinta do Bill já têm 20 anos. Como é a banda actualmente?
Em termos musicais, provavelmente estaremos mais maduros. Também se exige isso, após duas décadas. Os Quinta do Bill começaram por ser um trivial grupo de rock que acabou por fundir as suas sonoridades com o pop, o rock e a música folk. Fizemos essa fusão e essa acabou por ser a nossa identidade musical.

Qual foi a reacção dos restantes membros da banda ao saber que ia voltar a estudar?
Acharam-me maluco! (risos) Mais por causa da idade e por todo o esforço que estou a fazer, mas apoiaram-me! Aliás, neste momento somos três caloiros. O guitarrista e o teclista entraram também num curso novo, Produção Musical e Música Electrónica, que abriu em Castelo Branco.

E agora, como se organizam para ensaiar?
Nós já estávamos mais ou menos espalhados. Porque esses mesmos “caloiros” estão, neste momento, em Castelo Branco e a violinista é de lá também. O baterista é de Azenhas do Mar, Sintra, portanto já há algum tempo que fazemos esta ginástica para nos encontrarmos. O ponto de encontro é Tomar. Actualmente, com as novas estradas já é possível conseguir reunir sem vivermos todos no mesmo sítio.

Há pouco disse que se via como caloiro.Participa na tradição académica?
Já tenho uma certa idade… Nem sei se vou comprar o traje. Não participei na praxe, ia sentir-me um pouco deslocado… (risos) Mas farei os possíveis para ser um aluno integrado a nível académico. Se possível, gostava de vir cá tocar e dedicar uma música à minha escola. Seria engraçado! Aliás, nós temos um disco ao vivo que foi gravado, exactamente aqui, na Queima de Coimbra, em 2003. Grupo 3

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