quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Mercado Solidário em breve na ESEC

No próximo dia 30 de Novembro, pelas 14h30, terá início no auditório da ESEC uma assembleia sobre Mercado Solidário. Esta é uma iniciativa organizada pelos alunos da licenciatura de Animação Socioeducativa e coordenada pela docente da ESEC Teresa Cunha. Como colaboradores, este projecto conta também com a associação Acção para a Justiça e Paz e com a Comunidade da Granja do Ulmeiro.
O Mercado Solidário é uma ferramenta económica para responder às dificuldades das populações e gerar rendimentos e alternativas mais justas e solidárias no acesso a produtos e serviços. Por se tratar de um tipo de mercado diferente, este não lida com o euro; utiliza a "moeda social" que, no caso da ESEC, vai tomar o nome de "justas".
Esta iniciativa inclui dois momentos diferentes. O primeiro corresponde à sessão de 30 de Novembro, que conta com a apresentação de documentários e com debates entre convidados, como o professor Luís Mota e a professora Lucília Salgado, e entre estes e o público. Será ainda no dia 30 de Novembro que serão tratados aspectos relativos à organização do Mercado Solidário da ESEC. Para além da divulgação da iniciativa, decorrerão as inscrições e a distribuição das tarefas e equipas de trabalho.
O segundo momento do Mercado Solidário na ESEC acontecerá no dia 6 de Dezembro, no claustro da escola, desde as 9 até às 13h00. Mas não é necessário esperar pela assembleia para se inscrever na iniciativa. Qualquer pessoa pode participar preenchendo o formulário electrónico disponibilizado na página web da ESEC, enviando-o depois para tahine@esec.pt. Em alternativa, poderá preencher os formulários em papel (reutilizado) que serão distribuídos pela escola, colocando-os depois no cacifo nº 68. Grupo 4

Um jogo de animais jogado por cavalheiros

crónica

Podemos mudar de bairro, de cidade, de país, de continente. Um dia, quem sabe, talvez possamos até mudar de galáxia. Mas há uma coisa que nunca seremos capazes de mudar: a nossa cultura.
Até há cerca de dois meses, o meu ritual era o mesmo. Sentava-me na mesma cadeira, no mesmo bar e pedia a mesma bebida. O objectivo: assistir ao Mundial de Rugby. Procurei por todos os bares da zona, mas somente ali encontrei quem preferisse esta modalidade ao futebol e aproveitei a minha sorte de ter encontrado na mesma sala quem vivesse no mesmo planeta que eu, nem que fosse por apenas 80 minutos.
Podem chamar-me lamechas, chorão ou sensível, mas acho que o hino nacional de um país é sagrado e, tal como tinha acontecido nos últimos jogos, as lágrimas escorriam-me pela cara abaixo, no que para mim mais não era do que saudades da minha terra. Mal acabou o Nkosi Sikelele, que fiz questão de cantar alto e em bom som para que todos os “entendidos” de Coimbra soubessem que there was a South African in the house, sentei-me para ver mais um jogo de suspense.
Tal como no primeiro dia, eu era uma das três ou quatro pessoas a ver o jogo. Uma delas era um homem, na casa dos cinquenta, que passou o desafio quase todo fixado na televisão e a questionar-se sobre que tipo de jogo era aquele! "Que violência! Que horror!”, devia estar a pensar o homem que ficava cada vez mais pálido. Na África do Sul, costumamos dizer que o rugby é um jogo de animais jogado por cavalheiros e que o futebol é um jogo de cavalheiros jogado por animais. Dito isto, penso no número que conflitos que ocorrem entre adeptos do futebol e não deixo de pensar que, afinal, o jardim zoológico não se restringe às quatro linhas.
Por toda a parte, ouvimos dizer que só conhecemos alguém verdadeiramente após o casamento. Eu sou mais prático: se querem conhecer-me como realmente sou, ponham-me a ver rugby! Pode não ser bonito, mas sou eu!
Findo o jogo, fui para casa como se tivesse ganho a lotaria! Quem passasse por mim talvez me confundisse com um adepto do Fátima, isto porque a final do Mundial foi na mesma noite da jornada da Taça da Liga em que o Fátima bateu o Sporting por 2-1. Mais uma vez, tudo parece girar à volta do futebol…
Tenho a certeza de que, para os empregados do bar, o facto de o mundial ter acabado deve ter sido um momento de alívio, mais não fosse por saberem que depois desse dia quase de certeza que eu não voltaria lá! Pelo menos durante os próximos quatro anos… Óscar Filipe Ferreira Pinto

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O bar é que está dar na AAC


reportagem

Nos últimos tempos, quando se fala da Associação Académica de Coimbra (AAC), a primeira coisa que ocorre aos estudantes é o bar da associação. As secções culturais e desportivas da AAC parecem estar até a perder, a favor do bar, parte do protagonismo que já tiveram na academia.
Em qualquer noite da semana, quem passar pelo edifício da rua Padre António Vieira vê grandes grupos de jovens à porta conversando, de copo na mão, à porta do bar. Às vezes, chega a haver fila para entrar.
Lá dentro, há muito calor humano. Nota-se que algumas raparigas, e rapazes, se produziram com esmero, para a saída nocturna. Mas aqui também há muito fumo, bebidas entornadas e cheiros de diferentes perfumes. A música sobrepõe-se a quase todas as vozes, que têm de gritar para se fazer entender.
O bar da AAC não se enche apenas à noite. Depois de almoço, basta uma espreitadela para se perceber que quem quiser tomar café terá que o fazer ao balcão, se não estiver disposto a desesperar por uma mesa.
Pelo contrário, quem subir ao 1º andar da AAC, descobre os corredores das secções culturais e desportivas quase desertos, cruzando-se aqui e ali com o vulto negro de um estudante trajado. Ao cimo das escadas, tranquilas, o placard é uma gritaria visual de informações, com panfletos e cartazes alusivos às actividades do Coro Misto, aos cursos ministrados na RUC [Rádio Universidade de Coimbra], à prática do taekwondo, às aulas de guitarra portuguesa, aos torneios de xadrez e, claro, às acções de luta da academia contra as propinas.
Apesar deste dinamismo aparente, um olhar mais atento nota que as vozes de muitos destes papéis já perderam vigor. Alguns já datam do mês passado, do ano passado ou mesmo de 2004 e começam a amarelecer.
Perto dali, o teatro de bolso está vazio. Na porta, está afixado o cartaz da última produção do CITAC - Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra. “Estado de Excepção” é o nome da peça.
A meio do corredor do 1º andar descobrem-se novos sinais de que o edifício ainda acolhe actividades culturais. Os suaves acordes de guitarra começam a iluminar e aquecer as paredes tristes de cor indefinida. Sentados em círculo, numa pequena sala da Secção de Fado, três alunos tentam escrupulosamente acompanhar o professor, que dedilha, mais ágil, as doze difíceis cordas da guitarra. A placa ao lado da porta dizia “ Sala da Secção de Fado”. São quase aulas particulares. Já houve turmas de 40 alunos na secção, mas este anoapareceram apenas dez interessados em aprender a tocar o instrumento da tradição coimbrã.
A sala da Secção de Xadrez, uma das 25 secções desportivas da AAC, é das poucas que estão abertas. Esta, na verdade, tem a porta escancarada, mostrando as mesas cuidadosamente arrumadas, com as respectivas cadeiras à sua volta. Mas os reis e rainhas, imóveis, parecem aborrecidos nos tabuleiros, por não poderem governar um reino onde não há jogadores.
No 2º andar da sede da AAC, volta a imperar o silêncio, só rasgado, de forma agressiva, pelos berbequins mobilizados para as obras de remodelação das instalações sanitárias.
Mesmo ao lado da sala do Basquetebol fica a sala da secção de Jornalismo. Esta está em plena laboração. À volta de uma mesa, quatro colaboradoras sorridentes, todas alunas da Universidade de Coimbra, preparam as peças da próxima edição de “A Cabra “. Como o último número do jornal, com periodicidade quinzenal, acabou de sair, há mais que tempo para preparar as coisas com descontracção. Esta é uma das 16 secções culturais da AAC que têm mantido um trabalho mais constante, como está aí "A Cabra" para testemunhar com as suas edições sucessivas.
A AAC também reservou um lugar para o cinema. A secção chama-se Centro de Estudos Cinematográficos. A porta está fechada, mas exibe o calendário dos filmes que vão passar no Ateneu, semanalmente. O festival Caminhos do Cinema Português também é organizado pelos estudantes que costumam ocupar esta sala, agora vazia.
Lotação esgotada, ou quase, é algo que só mesmo o bar da AAC, cheio de conversas, fumo e cafés, parece conseguir nesta tarde. Grupo 4

Furacão Teresa

perfil
Quando se ouve risota ou agitação na ESEC, o mais certo será Teresa Jorge estar aí. Nasceu em Luanda há 34 anos. Veio para Portugal com sete meses, mas sonha um dia voltar a Angola.
Morou sempre em Outil, concelho de Cantanhede.
No secundário escolheu Humanidades, mas o seu sonho sempre foi Desporto. Também quis seguir a carreira do pai, polícia, ou ser militar, mas a Matemática fê-la desistir. "Sou a rebelde lá de casa, a mulher do desporto. O meu irmão era o menino queque", conta Teresa Jorge, que sublinha ser do signo Escorpião.
Entrou na Escola Superior de Educação da Guarda em Relações Públicas. "Foram os melhores anos da minha vida. Era a mais maluca das quatro lá de casa", diz divertida. No final do bacharelato, fez cinco estágios. O primeiro foi na Câmara Municipal de Cantanhede: “Ganhei muito calo, foi a escola da minha vida”. O mesmo aconteceu na Purina, a empresa das rações para animais, onde ganhava 115 contos (575 euros) que pareciam uma fortuna. “Fiquei doida!”, recorda extasiada. Foi para o Governo Civil de Coimbra durante ano e meio, mas dessa vez ficou desiludida. "Ensinou-me o pior".
Chega então à ESEC em 1999, para se licenciar. No estágio profissional que cumpriu nesta escola, abriu o Gabinete de Relações Públicas e acabou por ficar efectiva na casa. Diz que, até 2003, tudo correu bem, mas que, a partir daí, com a mudança de conselho directivo, as coisas pioraram. “Ou és forte e aguentas ou, então, sofres bastante. Quanto mais tentava provar, menos queriam saber, e os meus projectos não saíam da prateleira. Eu gosto que me piquem, que me explorem”. Até Junho de 2007, quando entra novo directivo, confessa ter sofrido bastante. Agora sente-se outra: “Há feedback, respeito e sou ouvida”. Conta que aquilo que mais a prende à escola são os alunos. “Ninguém sai do meu gabinete sem que fique tudo tratado. Se as pessoas me procuram, é porque precisam da minha ajuda”, reforça.
Em 2002, Teresa Jorge deu aulas de Relações Públicas a alunos de Turismo em Cabo Verde, durante duas semanas. “Fui assaltada por miúdos! A partir daí, senti-me preparada para tudo e fui passar férias sozinha ao Brasil”.
Apesar dos altos e baixos por que passou na escola, não faltou um único dia.
“A melhor coisa que me aconteceu na ESEC foi ter conhecido o Armando”. Começaram a namorar em 2004 e casaram um ano depois. “O primeiro beijo tive de ser eu a dar-lho, em frente ao guichet dos Serviços Académicos. Depois da hora de expediente!”, ressalva a rir.
Casou pelo Registo Civil, de ténis e jardineiras, depois de ter feito o noivo andar atrás dela na manhã do casamento, pensando que Teresa se teria arrependido. “Cheguei ao tribunal e escondi o carro atrás de uns arbustos e o Armando, desesperado, foi à praia procurar-me. Liguei-lhe a gritar: ‘Onde é que tu estás, Armando? Estou à tua espera para nos casarmos!’”. Um mês depois, casaram pela igreja e foram morar para a casa que Teresa orgulhosamente desenhou. “Decidi ir morar sozinha quando ainda estava com os meus pais. Imaginei e concretizei cada parte da minha casa”.
A independência sempre foi um objectivo de Teresa Jorge, que trabalhava durante as férias para ter o seu dinheiro de bolso. Desenvolveu o projecto “Tempos Activos” com o marido (“T” de Teresa e “A” de Armando). Ela ensina Aeróbica e ele Informática, tudo a baixo custo na Junta de Freguesia de Outil, cujo executico Teresa integra. A iniciativa ajudou-a a abstrair-se da ESEC, fora do horário de trabalho. Diz estar na junta “não pela política, mas pelo povo”.
O cancro despertou especial atenção em Teresa, depois da morte da mãe de uma amiga. “Apercebi-me de que a saúde é o nosso bem mais precioso, mais importante do que uma conta cheia de euros. Tomei conta dos filhos da minha amiga, depois de a mãe lhe ter morrido com cancro e de também a ela lhe ter sido diagnosticado o mesmo problema”. Por isso, todos os anos, Teresa realiza jantares cuja receita reverte a favor do Instituto Português de Oncologia de Coimbra ou da associação Acreditar. Para não pensarem que é “uma obcecada por cancros”, decidiu também organizar jantares para ajudar os bombeiros de Cantanhede.
Detesta esperar, mas desta vez não teve hipótese. Falta-lhe um mês para ser mãe. “É muito bom estar grávida, mas estou farta. Só quero ter este, mas gostava de adoptar uma ou duas crianças”. Já garantiu que, “se aos 9 meses o João não estiver cá fora, vão ver uma doida a subir e descer as escadas monumentais até provocar o parto”.
Apesar de também gostar de dar e receber carinho, Teresa assume-se como exigente e impulsiva: “Quando me empancam eu expludo e posso perder a razão”. O marido concorda e acrescenta que ela “é muito exigente”.
Teresa não desiste dos sonhos. “Gostava de abrir uma empresa de organização de eventos na área de hotelaria, ou algo ligado ao desporto”. Seja o que for que o futuro lhe reserve, será sempre algo ligado às pessoas. “A minha vida é gira, porque estou sempre em contacto com os outros. Sozinhos não somos nada”. Grupo 3

O Filho pródigo da ESEC


perfil

Passa pelos claustros de manhã e é rara a pessoa que não cumprimenta com um bom dia ainda ensonado. Laurindo Filho é presidente da Associação de Estudantes da ESEC há cinco anos. Tem um problema com a Estatística

Nascido em terras de Vera Cruz onde viveu até aos 11 anos, Laurindo saiu de S. Paulo para vir viver para Portugal. A instabilidade financeira, a insegurança e, principalmente, a enorme vontade de regressar às origens fez com que os seus pais assentassem de vez em Penacova, uma pequena vila do distrito de Coimbra. “Nós vivíamos muito bem lá, mas o meu pai achou melhor viver em Portugal”. Laurindo conta que a sua primeira desilusão, em Portugal, foi o clima, pois é uma pessoa que gosta de sol e calor. “Nunca mais me esqueço de que, quando cheguei, choveu durante 15 dias. Só me apetecia voltar para o Brasil”, recorda. O facto de os brasileiros serem pessoas mais alegres e afáveis também contribuiu para que as saudades aumentassem. Hoje, Laurindo diz já se ter habituado, mas não põe de parte a hipótese de regressar.
Estudou no Instituto de Ensino Santo Ivo, em S. Paulo, até ao 5º ano e concluiu o ensino secundário em Penacova. Entrou na Escola Superior de Educação de Viseu em 1999, mas não ficou satisfeito, porque o que realmente queria era estudar em Coimbra. “Na altura, eu tinha 17 anos e, para além dos motivos pessoais, era em Coimbra, com toda a sua mística de vida académica, onde eu queria estudar”. Em 2000, entra na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) na primeira opção, Comunicação Social, curso que frequenta ainda.
Foi logo no seu ano de caloiro que se viu “metido” na Associação de Estudantes (AE), ocupando o lugar de relator do conselho fiscal. Concorreu à presidência da AE no ano de 2002/2003 e de lá não saiu até aos dias de hoje. Como seria de esperar, ao longo de cinco anos conheceu altos e baixos. Se há pessoas que desistem à primeira tempestade, essa pessoa não é Laurindo Filho. “Quando o compromisso está assumido, levo as coisas até ao fim”, diz com naturalidade.
Hoje em dia, divide o seu tempo entre a AE, e toda a roda-viva que esta implica, a tentativa de se manter a par da actualidade informativa, e os assuntos relativos à Real Tertúlia Bubones (Comissão de Praxe da ESEC) que dirige como Mocho Real. Sempre que tem um tempinho, dá uma olhadela nos apontamentos de Estatística, cadeira que o prende no 3º ano da Licenciatura. As suas perspectivas para o futuro passam essencialmente por acabar o curso e trabalhar na área do curso.
Nos tempos livres gosta é de jogar à bola com os amigos, embora também se dedique à prática futebolística a nível federado. Gosta de navegar na Internet, de ler, de escrever e de cantar. “Quem o conhece sabe que passa os dias a cantarolar. Às vezes é preciso pedir por favor, para que ele pare”, diz o seu irmão Horácio entre gargalhadas.
Divertido, alegre, amigo do seu amigo, responsável, sensível, optimista, corajoso, romântico e muito empenhado são as palavras mais ouvidas pelos amigos quando o assunto é o Laurindo. A opinião é unânime: “Os adjectivos parecem poucos e vagos para o descrever”. E tu Laurindo, como é que te caracterizas? “Eu? Eu sou acima de tudo um sonhador”. Grupo 2

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Convento de Tomar em livro

Convento de Tomar - O berço de um grande império é o título do livro de Isabel Santinho que vai ser apresentado a 28 de Novembro, no Auditório da Escola Superior de Educação de Coimbra. Organizada pela editora Pé de Página e a autora, a sessõ de lançamento da obra inclui, a partir das 17h50, a representação de alguns quadros históricos, em ambiente musical. A interpretação está a cargo de alunos e professores do Agrupamento de Escolas D. Gualdim Pais, de Tomar. Todos estão convidados a assistir, sobretudo aqueles que estudam ou trabalham em áreas como a Literatura, História, Geografia ou Turismo. Grupo 4

Teatrão recria os jogos infantis

Pretas e Vermelhas Penduradas nas Orelhas é a mais recente produção do Teatrão, companhia de teatro de Coimbra. Com estreia a 24 de Novembro, às 17h00, no Museu dos Transportes, o espectáculo é dedcado aos meninos e meninas com mais de 3 anos. Pretas e Vermelhas Penduradas nas Orelhas sugere ao público uma viagem de quarenta minutos às brincadeiras e aos jogos de infância.Produzido pela Moagem, Cidade do Engenho e das Artes do Fundão e concebido por Leonor Barata, o espectáculo é interpretado por Ângela Duarte, Leonor Barata e Manuela Neves. As sessões para escolas dos dias 21 e 23 de Novembro já estão esgotadas. Para dia 24, podem ser feitas reservas através dos telefones 239 7140 13 / 914 617 383 e do e-mail: https://webmail.esec.pt/horde/imp/message.php?index=3753##. Grupo 4

De que sexo é o jornalismo?

O jornalismo tem sexo? – A Comunicação Social perante as questões de género é o tema do debate que vai ser realizado amanhã, 21 de Novembro pelas 21 horas, na sede do Sindicato dos Jornalistas, em Lisboa.
No seguimento do ciclo “Conferências de Outono”, este é o penúltimo debate dirigido a todos os interessados na área do Jornalismo e da Comunicação Social.
O debate conta com a participação de Fernanda Câncio, jornalista do DN , Sofia Branco, jornalista do Público e será moderado pela jornalista Rosaria Rato da Agência Lusa. Participam também o antropólogo Miguel Vale de Almeida e a psicóloga Regina Marques.
A última conferência do ciclo está agendada para 28 de Novembro e terá por tema as Novas Tecnologias – Instrumento para uma nova ordem da comunicação. A sede do SJ fica na Rua Duques de Bragança 7 – E, em Lisboa. Grupo 4

“Mãe, as propinas aumentaram outra vez!”


crónica
No início de cada ano lectivo, lá volta a mesma notícia agradável de que as propinas aumentaram. E lá temos de dizer à mãe que este ano em vez 650 vamos pagar 750 euros. Escusado será dizer que esta notícia provoca um colapso geral lá em casa, mas nada a que não se esteja habituado...
Nós, alunos da ESEC, somos pessoas sensatas e até sabemos que ninguém nos iria pedir 100 euros a mais para nada. Mas quando começamos a pensar… A ESEC é a escola com menos condições de todo o Instituto Politécnico de Coimbra, mas cobra uma quantia exorbitante de propinas.
Para onde vai todo este dinheiro é a questão mais frequente entre os “esequianos” e nunca ninguém sabe a resposta. Olhamos à nossa volta e não vemos investimento. Continuam a faltar salas no Pólo I da ESEC e os sacrificados continuam a ter de ir para as ruínas do Pólo II nos Olivais; continua a faltar material informático e hoje nem pudemos gravar para Atelier de Televisão porque só há quatro câmaras disponíveis.
O objectivo das propinas seria angariar fundos para melhorar as infra-estruturas da escola, para aumentar o acervo da biblioteca e para adquirir material escolar necessário aos diferentes cursos. No entanto, como a verba atribuída pelo Ministério da Ciência e do Ensino Superior mal chega para pagar as despesas fixas, é provável que parte do valor que pagamos se destine, até, a pagar os ordenados dos funcionários!
Vejamos, a escola tem 1700 alunos, a pagar 750€ cada um, ora… 750x1700 dá… bem, é só fazer as contas, como diria um antigo primeiro-ministro português. Grupo 3

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Correio de Erasmus
Nem tudo o que começa mal acaba mal

crónica
Em 2006, no meu segundo ano de licenciatura, decidi fazer parte das estatísticas e ser um aluno Erasmus durante um semestre. Começou, então, o meu percurso “erásmico”.
Após a seriação dos candidatos, e respectivas colocações, a azáfama e burocracias começam a fazer parte da vida de um futuro estudante Erasmus. Surgem as reuniões com a coordenadora de curso para acertar a questão das equivalências, as consecutivas idas ao Gabinete de Relações Internacionais (GRI) para esclarecimentos e informações acerca de papéis a enviar. Até o que não está previsto surge.
Todo o meu processo de “pré-Erasmus” começou no segundo semestre do primeiro ano da minha licenciatura. Na minha cabeça, tudo estava planeado. A certeza de que o início do meu segundo ano seria algures numa ilha chamada Inglaterra já estava instalada, mas não por muito tempo… A demora da resposta vinda do Cumbria Institute of the Arts deixou-me intrigado. A minha presença no GRI começou a ser uma constante. “Já responderam da universidade?” Foi a questão que durante semanas coloquei e para a qual obtive uma única resposta: “Não.” Comecei a ficar reticente…. Como eu, havia mais dois alunos que aguardavam a resposta positiva. Um dos alunos iria pelo período de um semestre, sendo que o outro iria pelo período de um ano. O tempo escasseava e uma resposta tinha de me ser dada. Mais uma vez, perguntei à responsável pelo meu processo de Erasmus: “Sofia, então já tens uma resposta?” “Sim.” Um sorriso logo apareceu, mas, num ápice desapareceu. A universidade inglesa não nos aceitou no primeiro semestre, porque receberam os papéis fora do prazo. “Como é que é possível?”, perguntei. A resposta que recebi do GRI foi a de que este tinha enviado os papéis atempadamente e que eles, em Inglaterra, é que não estavam preparados para nos receber no primeiro semestre. Palavra contra palavra! Quem disse a verdade? Ainda hoje me pergunto.
De três alunos propostos ficam dois. Teresa Teixeira, uma aluna de Comunicação Social, que actualmente já se encontra licenciada, tinha a sua estadia programada para um ano lectivo. Com todo este desenrolar, Teresa viu-se obrigada a mudar para a sua segunda opção, a Holanda.
Os outros dois alunos viram o seu Erasmus ser adiado para o segundo semestre, uma vez que o país que realmente queriam era Inglaterra.
Ao aproximar-se o fim do primeiro semestre, a azáfama recomeçou e, depois de todas as burocracias tratadas - procuração, cartão europeu de saúde, assinaturas de contratos, entre outros - o momento de partir chegou.
Newcastle foi a cidade que me acolheu num primeiro momento, uma vez que foi lá que poisei o primeiro pé em território inglês. Posteriormente, a minha estadia foi passada em Carlisle, onde ficava a universidade.
Após conhecer a universidade e a minha tutora, escolhi o meu plano curricular. Como me tinham informado na ESEC, enviei o plano curricular para a coordenadora de curso e para o gabinete de relações internacionais, para saber se realmente podia frequentar as cadeiras escolhidas. A resposta que recebi durante os seis meses que lá permaneci foi….nenhuma!
Durante todo o meu Erasmus não recebi um único e-mail da escola, nem da coordenadora de curso. Fiz cadeiras que poderiam não ser aprovadas e senti que realmente o apoio prestado pela escola é nulo. O mesmo se passou no que se refere ao alojamento. Não me deram qualquer referência. Apenas me deram o e-mail de alunos que já lá tinham estado em anos anteriores, mas não por iniciativa própria
Apesar do sucedido, consegui fazer tudo que me propus e trazer 30 créditos para as respectivas equivalências.
Nem tudo foi negativo. No final do ano lectivo, o Instituto Politécnico de Coimbra (IPC) fez o balanço do dinheiro atribuído às bolsas de Erasmus e verificou que sobraram verbas, visto que não foram preenchidas todas as vagas disponíveis para esse ano. Foi então que vi a minha conta bancária com mais uns euros, que me ajudaram a compensar o investimento que fiz e, também, de certo modo, a falta de apoio da ESEC.
E porque tudo está bem quando acaba bem, posso afirmar que o meu Erasmus me enriqueceu muito a nível pessoal, cultural e profissional. Foi, sem dúvida, uma experiência única. Desengane-se quem pensa que um Erasmus é só festa. Também é, mas não só. Erasmus é sinónimo de diversão, estudo, trabalho, viagens, amigos, conhecimento, frio, calor, etc. Resumindo é Coimbra2 (ao quadrado)! Vasco Pinto

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Moisés, dos Quinta do Bill:
"Sou um aluno como outro qualquer"


entrevista
Aos 45 anos, o vocalista dos Quinta do Bill, Carlos Moisés, regressa à escola. Invertem-se os papéis. Passou de professor para aluno e está no primeiro ano do novo curso de Música da ESEC. Todos os dias faz 160 quilómetros entre Coimbra e Tomar, cidade onde continua a viver. No ano em que os Quinta do Bill comemoram 20 anos de existência, o vocalista da banda da cidade dos tabuleiros falou ao cl@sse-media sobre a nova fase da sua vida.

Deixou o projecto dos Quinta do Bill de lado para se dedicar aos estudos?
Não. Estou a fazer paralelamente as duas coisas. Tenho de conseguir compatibilizar esta opção de voltar a estudar com a continuação do projecto Quinta do Bill.

Porque é que decidiu continuar a estudar?
Já tenho uma certa idade, mas nunca é tarde. Não cheguei a acabar o conservatório e resolvi tirar a licenciatura em música. O curso está a ser muito interessante. Estou a gostar imenso, tanto dos professores como dos colegas.

A ESEC foi o único sítio para onde concorreu?
Praticamente foi. Inicialmente também tinha pensado em Castelo Branco, mas já tinham acabado as inscrições. Penso que acaba por ser mais acessível aqui em Coimbra, embora faça viagens de ida e volta todos os dias. São 80 km e nunca demoro menos do que 1h40 min, mas tem de ser…

E porquê a ESEC?
Escolhi a ESEC porque, como vivo em Tomar, de certa forma, ficava perto. Também conhecia algumas pessoas que já tinham passado por cá e também alguns professores de outras escolas que me aconselharam a tirar a licenciatura. Sinto-me bem aqui e estou a gostar imenso do curso, do convívio, dos colegas e de partilhar conhecimento. Este início do ano lectivo está a ser aliciante, apesar de haver muito trabalho e muita matéria. Espero conseguir ir até ao fim.

Como consegue conciliar os Quinta do Bill com o curso?
Com uma certa ginástica e uma gestão do tempo quase nos limites. Faço um esforço enorme. Como tenho um filho, tenho de fazer uma boa gestão das horas. Tenho pouquíssimo tempo, mas com força de vontade vou fazendo todos os possíveis para me conseguir dedicar aos dois projectos.

E na família, quais foram as reacções?
Isto acaba por ser um pouco violento, um bocado ingrato. Como já disse, tenho um filho e é pequenino, tem 4 anos, e há dias em que só o vejo uma hora, duas horas… Portanto, depois tenho de compensar nos dias em que tenho um pouco mais de tempo para poder estar com ele. Mas é uma questão de rotina.

Mas qual é a prioridade neste momento? O curso ou a banda?
São as duas coisas. Os Quinta do Bill são um projecto que já tem 20 anos. A determinada altura, a banda deixou de ser um hobbie para passar a ser uma profissão. No fundo, acabo por ser um músico profissional por causa do grupo, mas quero, ao mesmo tempo, ir fazendo os meus estudos e adquirindo mais conhecimentos. O objectivo é esse.

Sabemos que dá aulas.
Sim, dei. Mas este ano tive de deixar de leccionar. Não tinha tempo.

Na ESEC, já alguma vez foi confundido com um professor?
É provável (risos), muito provável. Mas sou um reles “caloiro”.

Acha que os professores o tratam de maneira diferente?
Não, de maneira nenhuma. Sou um aluno como outro qualquer. Nem eu queria que fosse de outra forma. Por acaso tenho sido um aluno assíduo. Penso que é importante vir às aulas, porque assimilamos muito melhor a matéria.

Tem algum projecto para depois do curso?
Provavelmente, dar aulas. Esta vida de músico é um bocado efémera, as coisas deixam de estar em graça. De certa forma, acabar o curso, também é uma solução mais segura em termos profissionais.

Que mais-valias acha que o curso lhe vai dar?
Este curso tem uma vertente de ensino, mas também tem outras saídas profissionais, nomeadamente na área da cultura. Como tem uma vertente mais tecnológica, abre muito o espectro de soluções e de saídas profissionais.

Tem alguma ideia quanto ao futuro?
Vou tendo, vou criando… Isto também acaba por ser uma descoberta, no fundo, entrar numa aventura. Tal como me acontece na música. Como imaginam, também no grupo em si existem várias saídas profissionais, passando não só por fazer música, gravá-la…

Os Quinta do Bill já têm 20 anos. Como é a banda actualmente?
Em termos musicais, provavelmente estaremos mais maduros. Também se exige isso, após duas décadas. Os Quinta do Bill começaram por ser um trivial grupo de rock que acabou por fundir as suas sonoridades com o pop, o rock e a música folk. Fizemos essa fusão e essa acabou por ser a nossa identidade musical.

Qual foi a reacção dos restantes membros da banda ao saber que ia voltar a estudar?
Acharam-me maluco! (risos) Mais por causa da idade e por todo o esforço que estou a fazer, mas apoiaram-me! Aliás, neste momento somos três caloiros. O guitarrista e o teclista entraram também num curso novo, Produção Musical e Música Electrónica, que abriu em Castelo Branco.

E agora, como se organizam para ensaiar?
Nós já estávamos mais ou menos espalhados. Porque esses mesmos “caloiros” estão, neste momento, em Castelo Branco e a violinista é de lá também. O baterista é de Azenhas do Mar, Sintra, portanto já há algum tempo que fazemos esta ginástica para nos encontrarmos. O ponto de encontro é Tomar. Actualmente, com as novas estradas já é possível conseguir reunir sem vivermos todos no mesmo sítio.

Há pouco disse que se via como caloiro.Participa na tradição académica?
Já tenho uma certa idade… Nem sei se vou comprar o traje. Não participei na praxe, ia sentir-me um pouco deslocado… (risos) Mas farei os possíveis para ser um aluno integrado a nível académico. Se possível, gostava de vir cá tocar e dedicar uma música à minha escola. Seria engraçado! Aliás, nós temos um disco ao vivo que foi gravado, exactamente aqui, na Queima de Coimbra, em 2003. Grupo 3

ESEC acolhe dia da Língua Gestual


notícia
“O silêncio que vivo é a cores, nunca é a preto e branco.”As palavras de Emmanuelle Laborit foram o mote para a comemoração do dia nacional da Língua Gestual Portuguesa, hoje na ESEC. A organização esteve a cargo de Dina Almeida, docente na Escola Secundária de Avelar Brotero, em Coimbra. A comemoração já vem sendo tradição. “Comecei a convidar as escolas com quem trocávamos ideias, ainda antes de se assinalar o dia a nível nacional”, conta Dina Almeida.
No evento estiveram presentes a Escola Avelar Brotero, a EB 2,3 Poeta Manuel da Silva Gaio e a ESEC, de Coimbra; as escolas EB 2,3 de S. Miguel e a secundária da Sé, da Guarda; a Escola Secundária Celestino Gomes, de Ílhavo; e, por fim, as escolas EB 2,3 de Paranhos e a secundária Alexandre Herculano, do Porto. Em comum têm o facto de ter alunos com deficiências de audição e de fala.
Maria de Fátima Sá Correia, da secundária Alexandre Herculano, já frequenta este evento há quatro anos. “É fundamental desenvolver os alunos culturalmente e também possibilitar o convívio com outras escolas”, defende a professora.
Este ano, a Câmara Municipal de Coimbra apoia o evento, que foi integrado no programa das comemorações do centenário do nascimento de Miguel Torga. Nos anos anteriores, também a Câmara de Cantanhede se juntou ao projecto.
A iniciativa incluiu uma visita à casa-museu Miguel Torga, durante a manhã. A professora Maria de Fátima achou “ notável” a comemoração de Torga em língua gestual. “Os alunos ficaram a conhecer o escritor português e é uma maneira de dignificar a língua gestual”, comentou. À tarde, todas as escolas se juntaram no auditório cedido pela ESEC, que também lecciona o curso de Língua Gestual Portuguesa. Cada grupo contribuiu para o espectáculo com dança, teatro ou até anedotas, tudo em língua gestual. A apresentação esteve a cargo de Roberto Silva, aluno do 3.º ano de Animação Sócio-educativa da ESEC.
Há 10 anos, a língua gestual portuguesa foi considerada língua oficial na Constituição da República Portuguesa. Apesar de ser a primeira vez que se junta a esta comemoração, Nelson Santos, do Porto diz, com a ajuda de uma intérprete, ter tido pena de não ter participado mais. “Foi giro. Gosto de teatro, mas não tive tempo de ensaiar”, lamenta.
Para a organizadora Dina Almeida, da Brotero, este tipo de eventos contribui para “sensibilizar a sociedade”. “É muito importante pelo convívio, pelo desenvolvimento da língua gestual e pelo facto de contribuir para que todos, não só os surdos, acreditem na Língua Gestual Portuguesa”.
Do auditório da ESEC saiu o desejo de que este tipo de iniciativas se realize também fora de Coimbra. Grupo 3

“O Código Da Vinci e um café, por favor”

reportagem
São 9 da noite de um dia normal. Na Almedina, está a começar uma conferência. Já chegou à Bertrand o autor convidado para uma sessão de autógrafos e, na FNAC, estende-se a tela branca para projectar a curta-metragem de um jovem realizador.
As livrarias já não se limitam a vender livros. Perceber porquê implica recuar 50 anos no tempo. Estamos em França e vamos entrar na loja de electrodomésticos que vai ditar o ponto de viragem no conceito de livraria. O director de comunicação da FNAC, Viriato Filipe, explica que o conceito FNAC nasceu exactamente em 1954. "Na altura, estavamos em pleno na vaga de democratização dos electrodomésticos e os fundadores queriam que qualquer pessoa tivesse acesso a essas modernidades".
Há pouco mais de dois anos, a Bertrand abriu uma nova livraria em Coimbra. O espaço foi pensado durante quase um ano e, além de uma cafetaria, tem também um auditório. Nuno Matias, da Bertrand, considera que a loja do Dolce Vita, a maior do grupo no país, reflecte a "necessidade de haver um espaço maior na cidade, não só para comercializar livros mas também para dar algum espaço de lazer ao cliente". "Pensou-se numa cafetaria com luz natural, para que o cliente pudesse tomar o seu café, pudesse ler o seu livro relaxadamente... Pensámos também em ter um auditório e aliar um pouco as actividades que estão paralelas com a loja, como por exemplo as sessões de autógrafos", recorda Nuno Matias.
Alguns metros abaixo, no Estádio Cidade de Coimbra, abriu uma nova Almedina. O espaço tem uma cafetaria a funcionar durante o dia e uma sala de conferências durante a noite. A primeira Almedina a nascer no novo conceito foi a do Porto. O director de marketing, Pedro Sobral, diz que os novos espaços "não têm a ver com um conceito anterior que não estivesse a funcionar": "Foi apenas uma questão de inovação. O conceito clássico das livrarias Almedina já funcionava extraordinariamente bem", explica.
As livrarias portuguesas estão em fase de transição para o novo conceito. Uma realidade influenciada pelo aparecimento da FNAC em Portugal. "Sem querer puxar a brasa à minha sardinha, todos nós sabemos que, em Portugal, houve um 'antes' e um 'depois' de a FNAC ter entrado no mercado. Exactamente, porque as livrarias se deram conta de que vender livros não poderia ser feito de forma elitista, mas sim de uma forma acessível a toda a gente, como acontece com qualquer outro produto. E essa revolução que aconteceu em Portugal, penso eu, foi muito influenciada pela FNAC", sublinha.
A Bertrand nega a influência da FNAC e assegura que o novo espaço foi uma ideia nascida na própria livraria. Nuno Matias garante que este projecto não foi pensado em função de qualquer referência "nem de dentro nem de fora do país". "Na Bertrand, começámos a perceber que cultura não é só vender livros, mas também proporcionar um espaço".
Ao contrário da Bertrand, a Almedina assume que o conceito não é novo. O responsável do departamento de comunicação, Pedro Sobral, põe o acento tónico na adaptação dos espaços às diferentes cidades. «Obviamente que a integração de vários conceitos no mesmo espaço existe até fora do mundo livreiro. O que aqui tentámos foi ver o que melhor se adaptava ao modelo e à estratégia que a Almedina tem, mas também às cidades onde esta se inseria. Uma cafetaria e um espaço de discussão faz todo o sentido numa cidade como Coimbra, uma cidade que tem uma tradição muito grande".
Os livros podem ser consultados pelos potenciais clientes. Os espaços estão revestidos com um design moderno e têm acesso à Internet sem fios. As livrarias deixam de ser um simples ponto comercial e assumem-se como espaço de lazer e de trabalho. A ideia agrada aos clientes. Paula Amado é enfermeira. Sentada em frente ao computador portátil na Almedina do Estádio, confessa-se fã das novas livrarias. "Pessoalmente, gosto. Não só permite uma melhor consulta dos livros como é também mais agradável, sem ser apenas aquele espaço tradicional de compra", declara.
Também a Bertrand do Dolce Vita assegura que o espaço está a ter muito sucesso. Nuno Matias garante que, "quando a loja abriu, foi a mais visitada do Dolce Vita e o feedback dos clientes foi muito positivo. As pessoas gostaram bastante", reforça.
Trinta por cento do que a FNAC vende são livros. Para Viriato Filipe, isto prova "o sucesso, não só dos livros, mas também do próprio conceito da FNAC, do livre acesso e de possibilitar a espontaneidade das pessoas em relação aos livros e à leitura".
A perder ficam as livrarias tradicionais que, por serem mais pequenas, não têm possibilidade de se modernizar. "Só tenho os meus clientes habituais. Esses shoppings novos roubaram-nos muita clientela. Se tivesse de pagar o aluguer deste espaço, já tinha fechado há muito tempo", comenta Maria Alice, dona de uma pequena livraria.
Os grandes espaços ficam cada vez maiores. Por um lado, estão a prejudicar o negócio das pequenas livrarias. Mas, por outro, estão a aumentar a oferta cultural das cidades. Todos os dias há conferências e debates, e conquista-se mais público para novas iniciativas. Nas livrarias de hoje há auditórios e cafetarias, mas o objectivo continua a ser o mesmo: vender livros. Grupo 3

Correio de Erasmus
O que vestir em Adapazari?

crónica
Acordo. Meio ensonada, dirijo-me à casa-de-banho. Bem perto, soam os altifalantes das mesquitas. Do alto dos minaretes, cânticos em árabe lembram os muçulmanos de que já é hora da oração. Frente ao espelho, eu pergunto-me: "O que vestir em Adapazari?”
Situada na região de Sakarya, a duas horas de Istambul, a vida desta cidade turca mudou em 1999, quando um sismo, de intensidade 7,4, na escala de Ritcher, matou cerca de 25 mil pessoas. Morreu também uma cidade boémia e com uma desenvolvida indústria de seda e tabaco. Hoje, nem os amarelos, lilases e verdes das casas já reconstruídas sobressaem no meio dos destroços presentes por toda a cidade. Os mais ricos fugiram e fixaram-se noutras cidades. Ficaram os pobres, sem força económica para (re)erguer Adapazari.
Óculos-de-sol, saias - mesmo que cobram o joelho - ou ombros descobertos são suficientes para atrair um olhar zangado. Ou até mesmo uma reprimenda, num turco bem furioso e no meio da rua, sobre a falta de decoro. A maioria das mulheres usa lenço, também as adolescentes e algumas crianças. Outras usam o negro completo, tendo só os olhos ou a cara descoberta.
Muitos jovens e adolescentes de Adapazari não completam os estudos. No mercado e nas ruas, é comum vê-los a trabalhar, já com as mãos calejadas.
A Universidade de Adapazari tem cerca de 30 mil estudantes, oriundos de toda a Turquia. Ainda assim, a universidade não consegue mudar os hábitos da cidade. Não há vida nocturna, a venda de álcool é muito restrita, até porque os preços são elevados. Não há promoção de agenda cultural na cidade.
Os estudantes queixam-se, mas não fazem por mudar a situação. Grande parte, não tem qualquer actividade extra-curricular. Os que já tiveram alguma experiência no exterior (através do Programa Erasmus) esperam vir a trabalhar fora do país. “A Turquia é boa, mas para os turistas”, justificam-se.
Muitas das raparigas tiram o curso, mas a pensar num futuro que se explica em poucas palavras: casamento e ficar em casa a cuidar da família. As estatísticas comprovam-no, tem havido um decréscimo do número de mulheres que trabalha fora de casa.
O fez (lenço) é proibido nas escolas e edifícios governamentais. Na universidade, há alunas que o usam. Com uma peruca, por cima…
Nas zonas rurais ou de população mais conservadora (como é o caso de Adapazari), o lenço imposto pela religião funciona como um cartão de visita, que separa as raparigas “honradas” das restantes.
Isto não impede que a imagem do homem que transformou a Turquia num estado laico, separando a religião da política, esteja em todo o lado. Mustafa Kemal, mais conhecido como Ataturk (pai dos turcos) surge em estátuas por toda a Turquia e as suas frases estão bem à vista nos mais diversos edifícios. Desde lojas a edifícios de escritórios, passando por casas de particulares, todos têm uma fotografia ou uma imagem dele. Na universidade, em todos os gabinetes e salas de aulas, ele lá está.
O lixo é despejado nas ruas. São raros, aliás, os caixotes de lixo. O trânsito é caótico, os sinais para peões não se respeitam e as passadeiras são meramente decorativas. Nas estradas, os Ferrari e as mais incríveis sucatas quase passam por cima uns aos outros.
Os cheiros misturam-se em Adapazari, cidade de 200 mil habitantes. À poluição, junta-se o odor do Kebab ou das frutas e vegetais frescos. E, como diz um ditado turco, com o frio, chegam as castanhas. Lá longe, já se vê neve nas montanhas. É por tudo isto que eu me pergunto: “O que vestir em Adapazari?”. Sofia Macedo

sábado, 10 de novembro de 2007

Os duros não morrem?
Norman Mailer (1923-2007)

Morreu o Mailer. É uma notíca dura e sombria como os romances dele. Quem tem the guts para fazer um obituário digno?
Álvaro Vieira

Bibliotecária por acidente


entrevista

Margarida Paiva é coordenadora do Centro de Documentação e Informação (CDI) da Escola Superior de Educação de Coimbra. Chefia, desde 1987, a equipa responsável pelo funcionamento da biblioteca da escola, estando intimamente ligada a toda a história da própria ESEC. Conta como iniciou as funções na escola e diz que “se começa a gostar dos livros no berço”

Há quanto tempo é coordenadora do CDI?
Eu sou considerada da velha guarda, iniciei as minhas funções na escola em 1987, ainda no primeiro edifício da ESEC, na Rua Pinheiro Chagas, onde se deram os primeiros passos para o arranque da escola. Partilhávamos o edifício com os Serviços de Assessoria da Universidade de Coimbra, que ainda hoje aí funcionam. No ano seguinte, ocupámos as actuais instalações da escola, em coabitação com a Escola do Magistério Primário de Coimbra que cessava funções nesse ano mas ainda estava em funcionamento. A parte do edifício onde hoje está instalada a biblioteca ainda estava em obras e ocupámos a sala que hoje tem o nome da primeira presidente da ESEC, a Dra. Maria Alice Gouveia, e uma sala contígua, que hoje funciona como sala de informática.

Gosta do que faz? Como é que se tornou bibliotecária?
Isto de ser bibliotecária foi tudo um acidente! A minha formação é na área das Ciências Pedagógicas de Filologia Romana, actualmente designada apenas por curso de Português/Francês. No entanto, surgiu a oportunidade de ir dinamizar a biblioteca do Centro de Medicina Pedagógica de Coimbra e eu aceitei o desafio. Como não tinha qualquer formação nesta área, inscrevi-me no curso de Técnicos Auxiliares de Biblioteca e Documentação, que só existia em Lisboa. No ano seguinte, iniciei o curso de Bibliotecário, Arquivista e Documentalista da FLUC, que era algo parecido com uma pós-graduação, mas já desempenhava funções no Centro de Medicina Pedagógica. Gosto muito do que faço e gosto muito de trabalhar. No entanto, não gosto muito de estar fechada num gabinete. Apesar de desempenhar o meu trabalho essencialmente num gabinete, gosto muito do contacto com as pessoas. Se este emprego for assumido de forma fundamentalista, tornamo-nos nuns ratos de biblioteca. E eu ratos… só os dos computadores! Gosto do que faço, todavia não gosto só das tarefas técnicas. Sempre que me dão a oportunidade de participar noutros projectos, eu vou. Gosto bastante do trabalho de grupo e, tal como no CDI, gosto de trabalhar em articulação com várias pessoas. Acho também que a biblioteca pode servir como detonadora de diversos projectos e que deve ajudar no desenvolvimento de variadas ideias. Um exemplo é o último projecto que esteve aqui na escola, o Magic Pencil.

Acha que os jovens lêem menos? Qual é a sua opinião sobre o estado da leitura em Portugal?
Eu digo sempre que se começa a gostar dos livros no berço. Mas penso que, hoje em dia, as famílias já têm outra preocupação com a leitura, têm já um sentido de motivação para o livro e para a arte de ler. Também porque há outros meios de leitura, nomeadamente os meios informáticos. As próprias bibliotecas estão a adaptar-se a estes novos meios de informação e de leitura. Até porque voltámos àquilo que acontecia na antiguidade, onde os copistas dos manuscritos originais deixavam notas nas margens, que mais tarde eram incluídas no documento, e que davam origem a um novo documento. Com os novos meios informáticos, temos outra vez a capacidade de intervir nos documentos. Segundo os dados que são do conhecimento do público, os hábitos de leitura têm melhorado nos últimos anos em Portugal. E penso que a Internet é um meio útil para esse crescimento.

Hoje em dia assiste-se a um aumento de utilização da biblioteca. Pode já falar-se de um “efeito Bolonha”?
Em primeiro lugar, não devemos avaliar o número de utilizadores pelos alunos que estão na biblioteca. Muitas vezes, os utilizadores não estão a fazer trabalhos de pesquisa, mas apenas a estudar. Não me queixo da falta de utilizadores, até porque temos cerca de 4000 pessoas inscritas, das quais 1600 são pessoas externas à ESEC e o restante serão os alunos e funcionários da escola. E isto pode ser constatado por toda a gente, pois a biblioteca tem um elevado grau de ocupação. À partida, deveríamos ter lugar para 10% dos alunos, no entanto não temos espaço físico para essa capacidade de resposta. Todavia, parece-me falacioso, e prematuro, associar essa ocupação com os novos cursos de Bolonha.

O novo espaço da biblioteca melhorou as condições dos alunos da ESEC?
Claro que sim. E muito. Havia uma enorme falta de espaço reservado a trabalho de grupo. A área de trabalho de grupo era contígua à área técnica da biblioteca, numa espécie de aquário dentro da própria sala da biblioteca. Faltava-nos, de facto, uma área independente para esses trabalhos. E esta última intervenção foi bastante importante, pois ganhámos espaço. Tínhamos a parte das revistas, dos manuais escolares e do audiovisual na sala de leitura que, com esta remodelação, passaram para uma zona própria da biblioteca, com claros ganhos para os seus utilizadores. Com essa separação ganha-se também algum silêncio na parte da biblioteca destinada à pesquisa.

O acervo do CDI é suficiente para as necessidades da ESEC? Há alunos que se queixam de ter de recorrer a outras bibliotecas para consultarem os livros de que necessitam…
Eu não sou responsável por isso, pois isso prende-se com quem faz a proposta das aquisições. Os professores têm a responsabilidade de executar os programas e apresentar as bibliografias. Portanto, ou me dizem para adquirir tudo o que está na bibliografia ou então têm de me indicar o que é essencial na bibliografia de cada área. Nós já fizemos o levantamento de todas as bibliografias digitalizadas, que estão na Internet, para ver o que nós não tínhamos. Verificámos que faltava muita coisa. Fizemos uma proposta ao Conselho Directivo e a resposta foi negativa, devido aos valores que isso acarretava. Há obras que são referências de cada curso, e faz parte das minhas competências propor a aquisição dessas mesmas obras. Agora, do ponto de vista bibliográfico, são os professores que têm de propor as obras. Nós damos andamento a todas as propostas. O que acontece é que, por vezes, não nos chegam essas propostas ou não há capacidade para a aquisição dessas obras.

Quais são os livros mais requisitados?
Houve uma altura em que os livros mais requisitados eram os manuais escolares, e isso não diz muito bem de nós, como escola. Hoje em dia já é diferente, há uma maior orientação por parte dos professores para a consulta de livros na biblioteca. E isso reflecte-se nos livros mais requisitados, sobretudo os dos cursos de Turismo, da área da Educação e da área da Comunicação.

Que tipo de eventos é que o CDI promove?
Nós oficialmente não temos que promover eventos, mas eu gosto muito de colaborar com os projectos da ESEC. Gosto de me envolver com tudo o que acontece na escola. O que retenho de mais bonito da minha vida profissional são todos os projectos em que me envolvi aqui na escola. Já organizámos grandes projectos, em conjunto com a Câmara Municipal de Coimbra, com a Fundação Bissaya Barreto, por exemplo. Actualmente, já não é possível realizar esse tipo de projectos, mas sempre que aparece algo, e sempre que me deixam apanhar a carruagem, eu entro! O projecto do Magic Pencil é disso um exemplo. Foi um projecto que me foi proposto pelas pessoas do British Council e eu aceitei o desafio.

Quais são as perspectivas para o futuro da biblioteca e do CDI?
Eu gostava muito de alargar o espaço, mas tenho consciência de que há serviços dentro da escola que estão muito pior do que nós. Gostava de ter um espaço dedicado ao estudo, que permitisse à biblioteca ser um espaço mais silencioso, com melhores condições para pesquisa. Penso que o crescimento será inevitável. Por outro lado, acho que os recursos electrónicos são cada vez mais uma aposta. E o futuro passará por ter muitos dos trabalhos que são produzidos por professores e alunos da escola. É algo que ainda não temos. Mas o futuro passará também por aí. Grupo 2

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Prato do dia


reportagem

O dia começa bem cedo para as funcionárias da cantina da Escola Superior de Educação de Coimbra. Muito antes do início das aulas, às 8h30, já estão concentradas no pequeno-almoço. “Poucos sabem que servimos esta refeição. Mesmo assim, temos que cá estar”. É assim que a dona Ana, chefe da cozinha, encara este momento de silêncio. Dois pães com manteiga e uma chávena de café com leite. É esta a ementa diária daqueles que preferem tomar a primeira refeição do dia na cantina. Num canto da sala, sentada numa mesa para quatro, está a Filipa, aluna de Ensino Básico. “Não costumo tomar o pequeno-almoço, mas hoje não vou almoçar. Além disso, só pagamos 15 cêntimos!”
Na cantina contam-se anedotas picantes e ouvem-se risos. Às 9h30, acaba-se de servir o último pequeno-almoço. A partir de agora, trabalha-se para a refeição seguinte.
De súbito, surgido do nada, as máquinas começam a rosnar. Os exaustores entram numa aceleração frenética, enquanto sugam os cheiros que teimam em entupir a cantina. Quase em sincronia e de forma mecanizada, as cozinheiras começam a movimentar-se, na coreografia de todos os dias. “Quase que faço isto de olhos fechados”, diz a dona Irene, orgulhosa. Apesar de estar aqui desde manhã, será a dona Irene a servir o jantar aos poucos alunos que sobrevivem a um dia interminável de aulas.
Aproxima-se o meio-dia, a hora de ponta, que se prolongará até às duas da tarde. Antes de se servir a primeira refeição, é tirada sempre uma amostra, que é posteriormente enviada para laboratório. Embora haja aqui oito empregadas, não há mãos a medir: são quase 800 almoços servidos por dia.
Abre-se a porta de entrada e, num piscar de olhos, a cantina é inundada por dezenas de alunos, alguns com mais apetite do que outros, atraídos pela promessa de uma refeição agradável. Aqueles que já compraram senha, que pode ser adquirida antecipadamente até às 11h30, têm direito ao prato de peixe ou carne que constar na ementa. Os restantes alunos terão que contentar-se com uma refeição alternativa, composta normalmente por rissóis e arroz, caso a refeição principal já tenha acabado. “No meu ano de caloiro não era assim! No meu tempo era só chegar e estava-se já servido!”, comenta João Oliveira, finalista do curso de Comunicação Social.
A adaptação do processo de Bolonha faz-se espelhar até na cantina. Como só se pode dar três faltas por ano, os alunos vêem-se obrigados a vir às aulas e, consequentemente, a almoçar cá. “Nem o facto de haver um centro comercial aqui ao lado melhora isto. Parece que a malta jovem já não gosta de comer lixo”, comenta Sérgio, enquanto espera na longa fila de mais de cem alunos, quase todos caloiros. A cantina está aberta a todos, como comprova João Ventura, coordenador do CEMEIA e cliente habitual: "Gosto de comer cá, porque há sempre a possibilidade de escolher entre carne e peixe. O único problema é a demora”, lamenta.
Pouco a pouco, como uma torneira a ser fechada, os alunos vão diminuindo, até ao momento em que tudo pára. O silêncio das 14h30 chega a ser perturbante para quem presenciou a agitação das últimas duas horas.
Finalmente, é hora das cozinheiras comerem também. Sentam-se na mesa do costume. Cada uma passa com o seu tabuleiro numa irónica inversão de papéis. Para a maior parte destas mulheres o dia de trabalho está prestes a terminar. Quem ainda não pode despir a farda azul e branca é a dona Irene, que ainda tem várias horas de trabalho pela frente. Ainda lhe resta servir o jantar, das 19 às 20h30. “Ganha-se pouco, mas é melhor do que nada”, diz esta funcionária natural de Coimbra que, para além de trabalhar na cantina, vende peixe no Mercado Municipal.
A última refeição do dia tem a mesma serenidade da primeira. Resume-se a alguns professores, 15 a 20 alunos e um ou outro elemento da tuna da escola que, por vezes, tenta animar o duplo silêncio do espaço e da noite com o bater de uma pandeireta ou com o toque de um acordeão.
Por estas paredes, passam quase mil pessoas por dia, todas com o objectivo primário do ser humano: alimentar-se.
Fumado o último cigarro da noite e já sem a farda de cozinheira, a dona Irene prepara-se para apanhar o autocarro. “Pego o 34. Deixa-me mesmo à porta de casa”, despede-se. Poucos minutos depois das 21 horas, já não se avista a dona Irene. Como toda a gente, ela tem uma vida para além da escola. Mas amanhã terá mais mil bocas esfomeadas a invadir-lhe a cantina. Grupo 2

"Levanta-te pelo Jornalismo"

O Dia Europeu dos Direitos dos Jornalistas, foi assinalado ontem, 5 de Novembro, numa jornada de luta promovida pela Federação Europeia de Jornalistas (FEJ), à qual se associou o Sindicato dos Jornalistas Portugueses (SJ) e que mobilizou milhares de profissionais em toda a Europa.
Antes das concentrações, que se efectuaram um pouco por todo o país, foi feito um minuto de silêncio para expressar o protesto pelas condições em que muitos jornalistas exercem as suas funções. Foi depois distribuído pelo SJ um manifesto em que se afirma que os jornalistas só podem exercer o seu papel de forma responsável e com qualidade, se os “seus direitos fundamentais forem respeitados” - o que, em Portugal, "acontece cada vez menos", acrescenta o sindicato.
Afirmando que os direitos dos Jornalistas equivalem aos Direitos dos Cidadãos, o manifesto diz que “todos os dias são violados direitos básicos”, o que restringe a liberdade dos jornalistas e do seu público. O texto integral do manifesto pode ser consultado no site do sindicato em www.jornalistas.online.pt. Arménia Gomes

Festival divulgado na ESEC

A primeira edição do Festival de Microfilmes de Lisboa, promovido pelas Produções Fictícias, foi divulgada no auditório da Escola Superior de Educação de Coimbra no passado dia 23 de Outubro. Promover a originalidade e o olhar crítico são os principais objectivos deste certame, que pretende contar com a participação de estudantes do Ensino Superior de Norte a Sul do país.
Entre o júri deste concurso organizado pelas Produções Fictícias - a mesma produtora que lançou o Gato Fedorento e que produz textos humorísticos para vários artistas – encontram-se várias pessoas ligadas ao mundo do audiovisual, como é o caso do realizador Marco Martins ou da argumentista Maria João Cruz. Foram igualmente convidadas várias celebridades a contribuírem com um microfilme da sua autoria.
Recorda-se que o concurso está aberto a todos, sendo os filmes de tema livre. As obras deverão ser enviadas, via internet, até o dia 14 de Novembro. Os trabalhos terão uma duração máxima de três minutos e não podem exceder os 100 Megabytes. Há mais informações sobre o concurso em http://videos.sapo.pt/microfilmes
Grupo 2

“Não temos apoios nenhuns”


Entrevista
Francisco Amaral, coordenador do projecto ESEC TV, afirma que todas as instituições têm algo a pedir à ESEC TV, mas não oferecem nada em troca. Ainda assim, o projecto da ESEC TV parece já não correr risco de vida, como há umas semanas atrás


Qual é a actual situação da ESEC TV? Corre o risco de terminar?

Neste momento a situação já não é complicada. Houve um momento delicado, porque os três colaboradores fixos que estavam a trabalhar em regime de prestação de serviços não podiam continuar assim por muito mais tempo. A única solução era constituírem uma empresa, mas isso implicava mais custos para a escola, que tinha comprar os seus serviços. Eu próprio, responsável pelo projecto, como estou em regime de comissão de serviço, recebi o aviso do Ministério da Educação a dizer que tinha cinco dias para regressar à minha escola de origem, o que era um absurdo. Mas o secretário de Estado voltou atrás, uma vez que não fazia sentido as pessoas irem para uma escola em Novembro, quando já não havia trabalho por distribuir. Quanto aos colaboradores fixos, a escola vai avançar com uma proposta para passarem a encarregados de trabalhos, e assim já ficarem com uma ligação à escola.

Quais são as dificuldades que enfrentam a nível de produção e de prazos? Porque é que o programa Ciência por Miúdos ainda não foi para o ar?

Não é por acaso que a televisão é o meio de comunicação mais caro. Envolve muita gente, equipamento caro e demora-se muito tempo a obter o produto final. As pessoas vêem um produto de uma hora e pensam que, no máximo, aquilo demorou o dobro a fazer. Mas não é assim. Temos pouca gente, mas agora os alunos da cadeira de Introdução à Produção Televisiva estão a colaborar connosco e vão ser avaliados por isso. No entanto, é preciso uma fase de adaptação, de aprendizagem. Estamos atrasados no programa Ciência por Miúdos. Devíamos ter terminado no final de Setembro e, se conseguirmos acabar no final de Dezembro, teremos muita sorte. A RTP pode começar a ficar de pé atrás, uma vez que temos um compromisso a cumprir com a directora de programas infantis. O programa envolve ainda mais gente do que os outros projectos da ESEC TV e muitas dessas pessoas não trabalham aqui. Este programa não assumiu uma data para avançar, porque era impossível cumprir, mas no programa Espaço Universidades há prazos.

Com que apoios conta a ESEC TV?

Não temos apoios nenhuns. Também é verdade que só tentámos um apoio, junto da Delegação Regional de Cultura do Centro. Porque o programa é um magazine e tem peças sobre o que se passa na cidade, no âmbito escolar e cultural. É certo que, neste momento, quase não há nenhuma instituição na cidade que não nos peça para fazer qualquer coisa, mas estão sempre na expectativa de que nós o façamos gratuitamente. Ao menos deviam pagar as cassetes, os transportes. A Câmara Municipal e a própria Universidade de Coimbra estão sempre a sugerir coisas. Ainda agora saiu daqui um representante do Coro de Pequenos Cantores de Coimbra, que nos pediu para gravarmos um espectáculo, mas aparentemente não têm dinheiro. A comunidade habituou-se a esta ideia: a ESEC TV só se não puder é que não vai lá dar uma perninha. A escola não tem obrigação de estar a desembolsar para os outros. Uma coisa é formação, outra coisa é estar a fazer trabalhos para as pessoas. Se todas as pessoas ajudassem era mais fácil. O que é certo é que toda a gente pede, mas ninguém dá nada. Eu acho que isto é positivo, no sentido em que mostra que a ESEC TV já conquistou um espaço na cidade, mas fazer custa dinheiro.

Considera adequado o horário a que passa o programa?

Discutimos muito com o director de programas da RTP 2 o horário de transmissão. Há dias em que, sabe-se lá porquê, escondem o programa atrás de uma repetição qualquer. No início, foi pensado passar por volta da 1h00, uma vez que pretendemos atingir um público jovem e não podemos competir no prime-time. Acho que depois da 1h30 já é muito tarde, à 1h00 é ideal, uma vez que o público potencial é ainda de cinquenta mil pessoas. Temos uma audiência média entre as vinte mil e as trinta mil pessoas. Não há nenhuma actividade da ESEC que atinja as trinta mil pessoas, nem sequer as mil pessoas. Grupo 1

sábado, 3 de novembro de 2007

Encontrou um rumo na escuridão


perfil

Rui Barata é um homem que espalha sorrisos. Ficou cego aos 18 anos, mas soube contornar as dificuldades de uma vida de escuridão



O telefone toca, Rui Barata pára imediatamente de teclar na sua máquina de escrever Braille e levanta o auscultador: “Escola Superior de Educação, bom dia!”. Há três anos, Rui chegou à Escola Superior de Educação de Coimbra para trabalhar como telefonista. Nasceu em 1959, numa aldeia da Covilhã, onde viveu até aos 22 anos na companhia dos pais e dos dois irmãos. Uma infância serena. “ Faço mais traquinices agora do que fazia na minha infância”, diz Rui com um sorriso malandro. Mas não deixou de aproveitar a sua juventude. “A minha mãe conta muitas vezes que um dia me apanhou a dormir na banheira, depois de ter andado a beber jeropiga com os amigos”, diz a sorrir. “Aquilo era doce!”.
A escola nunca foi uma prioridade para si e, por isso, abandonou-a muito cedo. Mais tarde, começou a trabalhar num café da aldeia até aos 18 anos, altura em que a cegueira o surpreendeu. “Não aceitou bem a cegueira”, diz Lurdes Cardoso, esposa de Rui. “Ele tinha esperança que as novas tecnologias lhe permitissem ver”. Não permitiram, mas não foi esse incidente que lhe tirou a boa-disposição e a vontade de viver. Esteve em Lisboa, onde aprendeu Braille na Fundação Raquel e Martin Sain. Foi depois para o Porto e, em 1994, escolheu a cidade de Coimbra para viver. A cidade do Choupal deslumbrou-o e foi enquanto frequentava o curso de telefonista na ACAPO que conheceu Lurdes, a sua esposa, também invisual.
“Gosta de fazer as coisas sozinho e tem um óptimo sentido de orientação”, diz Lurdes. Rui não gosta de ser tratado de forma diferente e tenta ser o mais autónomo possível. Por vezes, isso não é fácil devido às dificuldades que encontra na rua, e a ajuda dos outros torna-se essencial. Indignado, Rui sublinha, por exemplo, como é constrangedor ter de mandar parar todos os autocarros para saber qual é o que tem de apanhar. Em 1993, pôde constatar uma realidade bem diferente, em Zurique, na Suiça. “Não havia coisas em cima dos passeios”, o que torna a circulação muito mais fácil.
Consciente de que as oportunidades ainda não são iguais para todos, Rui refere que a ajuda de instituições, e no seu caso do Centro de Emprego, são fundamentais para que os deficientes se consigam integrar no mundo do trabalho.
“É muito prestável, sempre pronto a ajudar, conta anedotas e anima-me quando estou triste”, afirma a colega de trabalho, Maria Abrantes. A sua boa-disposição é notória quando diz que gosta de estar à conversa com os amigos, de preferência em redor de uma mesa recheada, “para ir petiscando”. Feijoada e cozido à portuguesa são dos seus pratos favoritos, que sabem ainda melhor quando “acompanhados com um tintol”. “Relaciona-se muito bem com as pessoas, mais com aquelas que vêem do que com cegos”, explica a esposa. “Não desprezo os cegos, mas muitos cegos juntos é uma grande confusão. Começam a apalpar-se uns outros, para saber quem são”, diz Rui em tom de brincadeira.
Para além de estar com os amigos, gosta também de ouvir música e de cantarolar. Não é raro ver Rui cantar todo o CD de José Cid, um dos seus cantores favoritos. Vaidoso, simpático, teimoso e brincalhão, Rui Barata é um bom exemplo de alguém que encara a vida com um sorriso, apesar das dificuldades. Grupo 1

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Novos estudantes desfilaram por Coimbra

reportagem
“Coimbra é nossa” é o que mais se ouve nas ruas da cidade. O barulho das latas atadas aos pés dos caloiros é o som de fundo de um cortejo regado com muita cerveja, transportada nos carrinhos de supermercado roubados. Os nabos, surripiados pelos doutores no mercado municipal, são muitas vezes alterados ficando com sabores e cores diferentes. São depois trincados pelos caloiros que em troca podem receber um rebuçado, uma moeda ou, quem sabe, uma bebida para adoçar a boca. O som dos apitos mistura-se com os gritos académicos e com o acelerar de carros velhos, vindos directamente da sucata. Tudo serve para transportar os garrafões e tudo é motivo para beber. As ruas inundam-se com as cores dos diferentes cursos e das diferentes instituições de ensino. Por todo o lado se avistam visitantes que vêm assistir ao desfile daqueles que dão vida à cidade de Coimbra, os estudantes.
A tradição da festa das latas iniciou-se no séc. XIX, contudo as finalidades eram diferentes. Os estudantes comemoravam o final do ano lectivo alegremente e de forma ruidosa, utilizando para o efeito todo o tipo de objectos que produzissem barulho, como as latas. Actualmente, esta festa tem o objectivo de receber os novos estudantes denominados “caloiros” que protagonizam um dos momentos altos da Latada, o cortejo. Desfilam pelas ruas da cidade dirigindo-se da Alta para a Baixa, em cuecas, fraldas, e adereços que não lembram a ninguém. As críticas ao ensino superior, ao sistema educativo, a professores e governantes, bem como a acontecimentos nacionais vêem-se em cartazes, roupas, carros. De todo o lado se ouvem risos, gritos, apitos, músicas fruto da imaginação dos estudantes que tentam elevar a sua escola ou curso acima de todos os outros, toda uma euforia numa competição saudável que visa apenas o divertimento.
Os caloiros, acompanhados pelos seus padrinhos ou madrinhas, desfilam até ao rio Mondego e esperam em filas que parecem não ter fim. Finalmente, vêem o padrinho mergulhar o penico nas águas do rio para os baptizarem num gesto que pretende dar sorte para o percurso académico que agora se inicia. Os fotógrafos, com botas de pescador, tentam registar estes momentos, contudo, alguns estudantes mais alegres não esperam pelo flash e atiram-se às águas do Mondego.
A animação continua pela noite dentro e atinge o auge com a actuação do tradicional Quim Barreiros.
Gentleman, Orishas, Gary Nesta Pine, Papas da Língua, Xutos e Pontapés, David Fonseca são cabeça de cartaz da Latada 2007. Pela primeira vez a Praça da Canção foi o local escolhido para receber a Festa das Latas. “Acho que está muito melhor, tem mais espaço e foi uma óptima ideia terem colocado uma cobertura junto ao palco” refere Sandra Silva, mestranda em psicogerontologia. A estudante acrescenta ainda que “deviam aumentar o número de casas de banho, uma vez que há poucas para tantos utilizadores”.
Toda uma festa pensada para ser a melhor de sempre, com o maior investimento tanto a nível de infra-estruturas como de artistas nacionais e internacionais. Grupo 1

Pontualmente excessivo

crónica
Um dia a mais do que o normal, artistas internacionais, véspera de feriado, noite de Halloween, formam o cocktail perfeito para que estudantes e não estudantes se rendam à Festa das Latas.
Sete dias de recepção ao caloiro, com muita festa, diversão, euforia e excessos que se vivem de forma inconsciente mas as contas só se fazem no final da Latada. Muitos passam a semana a dormir de dia e a curtir a noite, outros fazem contas aos louros desta festa. O grande dia, por tradição, é o dia do cortejo que costuma encerrar a semana. A cidade adapta-se à passagem dos caloiros e o popular Quim Barreiros anima a noite que costuma encher o parque. Talvez a tradição esteja a mudar, a latada estica-se até ao feriado, e o preço escandaliza o meio estudantil. Quinze euros para estudante e vinte para não estudante. Toda uma estratégia para que pensemos duas vezes antes de comprarmos os bilhetes pontuais. Afinal o bilhete geral custa apenas trinta e três euros, pouco mais do dobro do bilhete pontual de quarta-feira. Gentleman, Orishas, Gary Pine, foram os escolhidos para animar esta luxuosa noite. Grupo 1

 

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