reportagem
Lara Saramago foi informada de que seu pedido de alojamento tinha sido atendido pelos Serviços de Acção Social do Instituto Politécnico de Coimbra. Mas descobriu que não ficara contente com a notícia. "Ir para uma residência? Dividir um quarto? Nem pensar", foi a primeira reacção desta aluna do curso de formação de professores do 1º Ciclo de Ensino Básico, na ESEC.
Depois lá se capacitou de que ia mesmo viver a experiência de morar numa residência académica. Feitas as malas, Lara abandonou o quarto que ocupava, sozinha, num apartamento com mais três pessoas.
Numa rua sem saída junto ao Instituto Superior de Engenharia de Coimbra (ISEC), no meio de árvores, depara-se com cinco blocos construídos em forma de zigue-zague, mais conhecidos pela "residência laranja". Esta é uma das residências que o Instituto Politécnico de Coimbra (IPC) possui para dar resposta aos pedidos de alojamento dos alunos com maiores dificuldades económicas.
À entrada do bloco 3, a delegada, que também é aluna e aí residente, está à espera de Lara, para lhe explicar algumas regras de funcionamento da casa. O primeiro passo é preencher um formulário. De seguida, a delegada mostra-lhe a sala de convívio, comum aos três pisos do bloco. Sentadas no sofá preto, três estudantes cumprimentam Lara sem se distrairem da televisão. Ao descer as escadas para a lavandaria, a nova residente cruza-se com duas raparigas que carregam cestos de roupa.
A delegada leva-a finalmente ao quarto que lhe está destinado, depois de atravessarem a cozinha onde há mais gente a comer. A cozinha, que será utilizada por mais 13 estudantes, está totalmente equipada. No mesmo piso, existe ainda uma sala de estudo.
Curiosa e apreensiva, Lara abre finalmente a porta do 311, para conhecer a sua colega de quarto que, afinal, não está. "Sou filha única e nunca tive de dividir as minhas coisas", confessa. O quarto é exíguo e a cama está coberta com a colcha beige da residência, que Lara não tardará a trocar por outra mais colorida.
Devagar, aproxima-se da parede onde estão coladas fotografias de várias pessoas e tenta adivinhar qual delas será a sua colega de quarto. Enquanto desfaz as malas, ouve risos e passos no corredor. Sente o quarto pequeno demais para as suas coisas.
Hoje, dois anos depois deste dia, Lara diz que aprendeu a viver em comunidade e a partilhar. Natural de Alcácer do Sal, vai poucas vezes a casa e, por isso, passa muito tempo na residência. "Agora, quando estou sozinha no quarto, não é a mesma coisa", admite, já completamente integrada.
No bloco ao lado, o dos rapazes, Roberto Lopes vê televisão com outros residentes. "Nunca me sinto só, há sempre alguém por perto", afirma este aluno do ISEC. Na residência há três anos, Roberto revela algumas coisas menos boas da convivência com muitas pessoas. "Foi muito constrangedor quando roubaram um monitor e todos tivemos de o pagar". O episódio gerou desconfiança, recorda. Mas prefere sublinhar os aspectos positivos da vida em comum. Quando chegam alunos estrangeiros, por exemplo, todos se esforçam por os integrar. "Tentamos falar em Inglês para os ajudar", acrescenta Roberto.
Tanto Roberto como Lara relembram os tempos em que os blocos da residência declararam uma "guerra de sexos". As partidas eram constantes. Os rapazes, com as suas engenhocas, conseguiram assustar as raparigas. "Um dia, saio da cozinha e quando olho para a porta do meu quarto vejo uma labareda. Pensei que o meu computador tivesse explodido e tivesse acontecido alguma coisa à minha colega de quarto, que estava a dormir”, relembra Lara com um sorriso. Afinal era apenas um pouco de cola a arder, no chão. Noutra trincheira, Roberto conta que certa vez, ao sair do banho, desobre o guarda-fatos completamente vazio. "Tinham sido elas", ri.
Da experiência de morar numa residência Lara e Roberto dizem levar "amigos para toda a vida". Relembram também os grandes convívios que os blocos organizaram, o último foi o da eleição da miss e do mister caloiro.
Gerir a residência "é um desafio diário. Mais do que um trabalho, é uma missão que se assume com responsabilidade", diz Patrícia Almeida, assistente social do IPC. "É algo muito gratificante. Sentimos isso, quando um residente termina o curso e vem até aos SAS dar-nos um abraço em jeito de despedida e agradecer as oportunidades proporcionadas pelos serviços", conta emocionada. Grupo 1
quarta-feira, 12 de dezembro de 2007
Morar na "residência laranja"
às
00:16
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário